- Eu não tenho culpa se você queria uma menina! - gritava minha mãe para o meu pai encostado no balcão da cozinha , com uma garrafa de cerveja na mão direita.
Eu tinha apenas 6 anos de idade, e tudo me deixava completamente aterrorizado. Odiavam-me... Odiavam minha existência.
Ouvia a conversa deles , escondido atrás da parede que dividia os cômodos com o meu coração pesado por estar ouvindo o que não queria ouvir.
-Mulher imprestável, não consegue nem me conceder uma menina... Veio aquele pestinha! Aquele pequeno fardo que só sabe comer o meu dinheiro!
- Seu dinheiro? Aquele que você gasta todo em bebidas?
De repente ouvi minha mãe soltar um grito estridente , e logo após o barulho de cacos de vidro no chão. Meu coração acelerou, minhas mãos suavam frias e eu corri para a porta parando estacado diante da imagem à minha frente.
Minha mãe caída ao chão e meu pai com a garrafa quebrada na mão.
__ Mãe! - gritei chorando e corri até o corpo dela. O sangue saía do peito dela , sujando a camisola branca que ela usava e escorria para o chão formando uma grande poça de sangue. O rosto dela já estava sem expressão, e os olhos sem vida olhando para mim como um animal empalhado. - Mãe ... Não me deixe mãe... Mãe... Mãe!
__ Ela não vai voltar , Gabriel. - falou ele olhando friamente para mim , pegando uma carteira de cigarros do bolso.
__ Você matou ela! Não é? Matou ela.... - apontei para minha mãe com os olhos cheios de lágrimas. O ódio por ele crescia dentro de mim , como uma semente sendo plantada.
___ Matei. Agora vai para o seu quarto! Amanhã é o seu primeiro dia de aula. - ele acendeu um cigarro e deu uma tragada assoprando a fumaça em meu rosto. - E não conte para ninguém sobre o que você viu, ou vai se juntar à mamãe.
Eu passei a palma da mão nos meus olhos procurando secar as lágrimas de dor que saíam, e me virei correndo para o meu quarto. Isso não iria ficar assim, não iria passar em branco.
***
___ Acorda moleque! - gritou meu pai puxando meu pé e eu caí da cama o olhando sério e calado. - Você vai para a escola agora ... Veste qualquer coisa ,pega seu caderninho velho que sua mãe comprou .
___ Onde "escondeu" minha mãe? - perguntei o encarando como se fosse uma pessoa adulta.
___ Não te interessa , garoto ! - ele deu-me um tapa no rosto , pegou meus cadernos em cima do criado mudo , os lançou em mim e segurou-me pela orelha me arrastando para fora do trailer em que morávamos me jogando na poeira molhada.
Meu braço arrastou em no meio das pedras do terreno , fazendo um corte no meu braço. Levantei-me pegando meus cadernos no chão os segurando junto ao peito, e segui rumo à única escola da cidade. Ficava 30 minutos de onde morava, não era muito longe se fosse parar para pensar...
Mas naquele dia parecia uma eternidade, meu braço machucado latejava e escorria sangue quente por minhas mãos pingando na calçada. Meus pés calejavam e tudo que eu queria era parar, descansar e comer alguma coisa, já que não havia colocado nada no estômago além de água de poço com lama.
Cheguei na escola às sete e meia , trinta minutos atrasado, a professora me olhou com um olhar penalizado e apontou um lugar vazio na classe.
___ Você veio de onde , menino? - falou uma garota atrás de mim. - Está todo machucado... Meu nome é Eloísie, e o seu?
___ Gabriel... - falei em um sussurro, estava fraco e não conseguia falar direito.
___ Olha lá ! O menino novo não toma banho! É porco .. é porco! - gritou um garoto ruivo e com sardas do outro lado da sala apontando para mim com um um sorriso sarcástico no rosto.
Após a fala dele todos começaram a rir, uns abafavam o riso com a mão na boca e apontavam para mim, outros cochichavam e me olhavam com um olhar de zombaria. Tampei meus ouvidos angustiado, tinha vontade de gritar , mas não tinha mais voz , tudo ia para a minha cabeça, tudo estava sendo guardado.
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Diário de um psicolouco
HorrorOuço vozes.. Vozes que sussurram no meu ouvido dizendo que não sou capaz, que eu sou o fraco. O que seria fraqueza para eles? Não sei, posso tentar descobrir ao longo do tempo. Talvez posso tentar descobrir depois que sair deste lugar. Onde as agulh...