vida que segue

176 17 2
                                    

Depois que aceitei de boa, ficou tudo super mais fácil. Queria sair, dançar e ter uma vida normal.
A custo minha mãe me deixou ir em uma balada. E adivinhem. Fui logo pra uma GLS. Ou no caso, balada pra gay e simpatizantes!
Só que eu linda e esperta que sou esqueci meu RG em casa e foi a primeira vez que não gostei de ter essa carinho de bebe. Modéstia a parte...
Então fiz um bem bolado e a amiga da minha irmã me emprestou o RG dela. Só que o segurança viu e não deixou passar. Ficou me fazendo perguntas sobre o documento .... Não deu outra. Acabei errando e fui barrada.
Então esperei a fila encher e fui pro final. Espertaa!
Ele não lembrou da minha cara e passei batido.
A música era legal e ninguém mexia com você. Tava de peruca preta comprida e um viado parou na minha frente e disse: Nossa você tá arrasando com essa peruca! Eu sei fofa!
Balada vai balada vem. Um gordinho viado passou a mão na minha bunda. Já tava bêbado e todo serelepe. Em fim. Foi o único ali que passou a mão mão na minha bunda.
Quando cansei de dançar me joguei em um pufe e um travesti quase sentou na minha cara.
Pois é....
Teve até um encontro indesejado com um cara que já trabalhou comigo e depois descobri que ele apontava pros dois lados. Não ajudou muito a minha auto estima ele dizer que se interessou por mim pois eu tinha costas largas! Queridooo. Não. É . Um . Elogio!
Enfim, voltei pra casa exausta.
Adorei a parte de comprar perucas. Todas compridas e de várias cores. Loiro, preto, castanho, ruivo. Descobri que fico bem de preto. Mas fico melhor ainda de vermelho. Ah loiro não é pra mim. Não não.
Meu pai sempre achou bobagem. Ficava dizendo que eu era bonita de qualquer jeito e que as pessoas sabiam que era peruca. É claro que sabiam! Fora eu trocar de cor, volume e penteado, as vezes quando tava calor eu andava careca ou tirava no meio da rua mesmo e que se foda!
Eu usava porque me sentia bonita. Nunca precisei de psicólogo ou tive auto estima baixa por estar careca. Encarei como passatempo. Bonito e divertido. Eu estava tão bem que uma vez estava na loteria na fila preferencial quando uma garota bateu no meu ombro e disse que a minha fila não era aquela. E é aqui que o nível baixa meus amores. Porque titia fefe não é uma pessoa tão culta.
Mandei ela tomar no cu. Disse que tinha câncer e perguntei se eu tinha que tirar a peruca. Só que a faria engolir se eu tirasse. Eu mencionei que estava gritando? Pois é....
Aí a garota disse que não precisava, pois eu já tinha respondido a pergunta. Aí eu gritei que ela não perguntou coisa nenhuma
Ela tinha feito uma afirmação e que se ela não sabia a diferença voltasse pra escola. Passei mal... de boa. Voltei pra casa tremendo e espumando pela boca.
Adorava os barracos que arrumava por ali. Meu amigo até me disse que eu tinha alma de barraqueira.
Teve uma vez no ônibus que eu estava indo pra quimioterapia e as veias do meu braço estavam queimando por causa dela. Estava de pé. E conforme as pessoas passavam por mim elas se esbarravam. É normal acontecer em um ônibus . Eu não ia sair gritando e xingando. E as vez encostava no braço de uma senhora. Então ela começou a jogar uma bolsa pesada nas minhas pernas. Eu tirava e ela colocava. Aí chutei a bolsa e ela gritou comigo dizendo que eu estava me escorando nela. Eu falei que ela estava em um ônibus e que comprasse um carro já que não estava bom. Falei que eu só tava ali porque meu pai tava trabalhando e mesmo assim tava de boa. Aí ela começou a dizer que ia pegar uma tesoura e eu falei: Pega. Eu enfio ela na tua cara! Sim eu disse isso é não. Não me arrependo.
Aí uma velha que estava sentada e resmungando desde que chegou disse que eu não tinha vergonha na cara de brigar com uma idosa. Aí comecei a falar alto. Disse que ela que não tinha vergonha na cara por estar brigando com alguém doente. Falei que tinha câncer e que minhas veias estavam queimando e que mesmo assim eu não era mal educada que nem ela. Aí todo mundo calou a boca e até me ofereceram lugar. Claro que não aceitei. Eu estava bem de pé.
O pior aconteceu na volta. Estava passando mal e mentalizando um manterá de não vomite dentro do ônibus tirei a peruca pois a dor de cabeça já estava demais. Fechei os olhos e tentei dormir. Daqui a pouco um velho fala: não se preocupa não que eu vou acordar ela.
Mandou eu sair do lugar dele e eu disse que não aí ele me empurrou e eu empurrei ele de volta. Ele perguntou se eu estava grávida e eu disse com ódio que quem me dera eu estar grávida. Porra eu estava careca e pálida. Vários velhinhos de pé. Ele não se toca não? ! Não
Aí ele veio pra cima de mim. Minha amiga empurrou ele pra longe um uma senhora também ajudou aí ele quis bater em todo mundo. Que força né?
Aí um deficiente deu o lugar pra ele. Só que eu tava quase vomitando e não dei muito espaço pra ele passar aí ele tentou passar por cima. Aí os homens se revoltaram e começaram a gritar com ele. Perguntaram se ele não tinha percebido que eu estava doente. Depois o velho se tocou e ficou com cara de bunda a viagem toda. Ah nesse eu batia com gostoo!
Fora os barracos até que era legal. O câncer não me privou de muita coisa e até comecei a receber mais curtidas nas fotos. Ra ra ra.
Recebi alguns visitas. Até de uma falsa que fingia ser minha amiga. Sim fofa, é de você que eu estou falando!

Câncer .com (Revisando) Onde histórias criam vida. Descubra agora