Assim que tive a primeira consulta eles queriam saber quantos bichos eu teria na casa. E só de cachorro eu tenho 5. Gatos 2. Peixes. Papagaio, periquito, jabuti. Tinha até três ratinhos, mas duas morreram e a outra minha mãe deu para meu priminho.
Eu não poderia ficar perto deles quando voltasse. E fiquei um pouco triste.
Lá em casa nunca me deixaram escolher nome para os bichos. Tudo começou quando quis chamar um gato de godofredo! O Henrique diz que tem pena dos meus filhos. Absurdo.
Na minha teoria o animal precisa ser engraçado no. Se ele é feio ele tem que ter um nome bonito e se é bonito precisa ter o nome feio. Para equilibrar. Aí Henrique, já descobriu porque sua mãe te deu esse nome? Ha haha!
Por exemplo, lá em casa temos a Lua, uma boxe fofa que adora sambar na cadeira. Sim, isso mesmo!
Ela tem meio a cara do ET do filme, então ela precisava de um nome bonito. Era fácil. Mas ninguém lá em casa leva isso a sério.
Lembro que meu pai ficou rindo quando soube que minha irmã iria me dar as vacinas. Ele sempre dizia: Lembra quando quando ela deu injeção no cachorro? Lembra como ele gritou?
Legal pai. Legal!
No fim só doía pro líquido entrar e minha irmã dizia que eu fazia muito escândalo. Não deixava nem mancha. Quando tomei sozinha, acabei descobrindo que eu deixo minha barriga roxa...
Sempre tive problemas com agulhas. Tipo a ponto de passar vergonha. Uma vez cai no erro de contar para uma infermeira que tinha medo. Ela disse então que nunca poderia fazer tatuagem, pois iria parar logo no começo e ficaria uma mancha no meu corpo: a marca da vergonha. Sensíveis nossas infermeiras, não ? Uma vez vi um vídeo de uma garotinha que quase enfartava ao tomar uma injeção. Sei lá me identifiquei....
Sabe quando você vai fazer um procedimento no hospital que da vontade de levantar e sair correndo? Sempre tive isso!
O Henrique disse para não fazer, pois poderia aparecer vários enfermeiros e pularem em cima de mim igual a futebol americano. Engraçadinhoo
Os segundos antes de levar uma injeção são sempre os piores. Principalmente se for no pescoço.
Já passei por muita coisa no hospital, todos riam do meu desespero. Teve uma vez que precisei dizer o meu peso na frente do Henrique. Tá ele é gordo tá acostado. Mas eu não. Sem contar que ele deu risada!
Nunca tive muita sorte com isso. Mas gosto de pensar que um dia serei recompensada!
Voltando a minha internação. ..
Já mencionei que tenho alma de gorda? Então.... fiz a nutricionista vir no meu quarto mais uma vez. Comentei que não gosto de lentilha e nem de sagu. E pedi se poderia comer rosquinhas. Ela não deixou, pois não era industrial. Mas o chocolate podia, só que em pouca quantidade. Moça, não conheço essa palavra! Mas era melhor que nada. E podia comer bolacha. Estou pensando seriamente em sugeri que os mercados vendam lasanha pronta. É só esquentar! Minha mãe não levou muito a sério o lance do chocolate, mas garanti que tenho uma carta para provar! Quando a nutricionista disse que só poderia uma unidade de chocolate, pensei em uma caixa de bombom. Mas não era assim que funcionava. No máximo eram três bombons e olhe lá. Triste, eu sei!
Sabe agora que estou lembrando... meu medo de injeção não é tão irracional assim. Pois vem da dor. E não venha dizer que agulha não dói! Mas minha amiga Jeane não gosta delas por acreditar que são tentativas de controlar nossos cérebros. Superou ou não me superou? Não fica brava, Je. Você sabe que eu te amo!
***
Todo mundo acha que um tratamento de câncer é difícil. Sim, ele é! Mas não chega a ser esse "bicho de 7 cabeças " que todo mundo "pinta". Depende muito da pessoa. O problema é quando elas decidem se afastar do paciente por não quererem ver ele nessa situação. Não. Façam. Isso.
Pois nos mesmos, no início temos está tendência auto - destrutiva. Isolamento, nesta condição pode ser fatal. Eu mesma me tranquei no quarto por umas semanas e não queria saber de levantar. Minha mãe ficava me incentivando, dizendo que eu não podia me entregar. Depois que passou a minha revolta compreendi melhor o que ela quis dizer. Ficou tudo tão mais fácil. Eu não me sentia mais triste ou injustiçada. Parei de me ver como vítima e que ninguém tinha culpa de eu estar nesta situação!
Muita gente não pensa assim. Já ouvi mulher dizer que quando ficasse careca não sairia mais de casa.... besteira.
Perdi a conta de quantas vezes minha irmã quis bater em alguma garota na rua porque fixava me olhando estranho por causa da peruca. Esse é o meu negão! Uma vez uma vizinha nossa que tinha acabado de se mudar ficou rindo de mim com as amigas dela. Não deu outra minha irmã foi lá tomar satisfação. Eu como uma pessoa educada e madura que sou, só mostrei o dedo do meio para as meninas!
Deu a maior confusão. Até minha vizinha foi falar com os pais da menina. É claro que ela negou tudo e a mãe dela disse que ela não era louca de rir de uma coisa dessas. Será??
Depois venho a vizinha na frente. Tinha acabado de se mudar também. E me viu careca logo de cara. Ficou me encarando fazendo careta. Minha irmã gritou se ela tinha perdido alguma coisa no nosso portão!
Antes de continuar esse história, preciso contar uma coisa, pois meu cabelo já tinha começado a crescer e já dava até para segurar na mão. Mas lembra que eu disse que precisei de mais quimioterapia? Pois bem, antes meu cabelo dava uma crescida e caia. Desta vez, minha cabeça ficou completamente lisa!
Lembro de estar no chuveiro e estar pensando no tratamento. Pedi a Deus que me desse força. E que não me importava de ficar sem cabelo se fosse pra ficar curada. Então ele podia cair desde que levasse a doença embora! Passei a mão pelo cabelo. E acredite se quiser. O cabelo que a um minuto atrás estava bem preso, começou a cair aos montes. Vinha com tanta facilidade. Tenho certeza que isso foi um sinal e não fiquei triste. O banho nesse dia foi mais longo. Chamei minha mãe e pedi para ela raspar. Quando ela me viu começou a chorar e disse que tinha ficado até mole.
Ela quis cortar o cabelo, mesmo eu lhe dizendo que não precisava. Mãe é mãe, né ? Minha irmã disse que se raspa- se entraria em depressão e coitada, ela não tem a minha beleza! Hahaha então ela cortou um Chanel.
Voltando a história da vizinha...
Minha mãe assim que soube foi falar com ela. Disse que eu tinha câncer e perguntou se ela nunca tinha visto ninguém careca! Depois desse dia, até hoje, a minha vizinha nem olha na nossa porta. O que é difícil, já que ela mora bem na frente. Mas eu posso dançar a macarena que ela não olha! Haha.
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Câncer .com (Revisando)
Non-FictionEsta não é uma história fictícia! Meu nome é Fernanda Aparecida e fui diagnosticada com câncer aos 20 anos! Neste livro conto de um jeito leve e divertido, todos os altos e baixos que tive graças a doença!