Capítulo Dois.

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Maju narrando:

Senti então uma mãozinha tocando minha perna, abri meus olhos e encarei aqueles olhinhos esverdeados me visando.

─ Por que você tá chorando, mamãe? ─ ela perguntou com a voz fina e a peguei no colo abraçando-a.

─ Nada, meu amor ─ abracei forte minha filha enxugando minhas lágrimas.

O culto acabou e ia saindo quando escutei o pastor me chamar.

─ Maju?! ─ me virei carregando a Lua que estava bem pesada, e visei o pastor baixo, careca e com a pele negra.

─ Oi.

─ Tudo bem? ─ ele pegunta com a bíblia na mão, eu assinto. ─ Hoje eu tive um sonho, e foi Deus que quis para eu sonhar com essa mensagem, nesse sonho acontece coisas boas com você, minha jovem.

─ Obrigada, pastor ─ digo olhando pro chão.

Ele suspira forte e toca minha mão.

─ Deus têm coisas boas para você, sei que é difícil conviver sem Luan, mas é difícil pra todos nós, Luan sempre foi uma ótima pessoa e sempre ajudou todos daqui, mas Deus é justo e a justiça será feita.

Eu abracei o pastor com dificuldade e suspirei.

─ Obrigada mesmo, eu sei que a justiça será feita.

─ Vejo você no próximo culto, se Deus permitir ─ ele diz segurando a mãozinha da Lua que chupava a chupeta e eu assinto saindo da igrejinha.

As ruas já estavam movimentadas, todos não desejavam se atrasar, eu voltava pra casa tranquilamente seguindo o mesmo caminho, até que dois militares me barraram. Era uma mulher loira com a cara rabugenta e um homem, os mesmos carregavam as armas enormes com firmeza.

─ Abre a bolsa ─ ela pediu séria.

Não acredito, eles acham mesmo que tem algo dentro de uma bolsa de criança?!

─ Por que vou abrir? É só uma bolsa de criança, só tem água, fraldas, mamadeiras e guloseimas.

─ Então por que tá se recusando em abrir? ─ o militar se aproximou arqueando uma sobrancelha.

─ Eu tô com uma criança de colo, e já disse que não vai encontrar nada demais dentro da bolsa.

─ Olha, eu tô mandando abrir a bolsa, coloca a porra da criança no chão e abre logo a bolsa! ─ ela gritou chamando atenção de algumas pessoas dali.

─ Chama minha filha de porra de novo que tu vai se arrepender pelas palavras ─ eu digo colocando a Lua no chão.

Sinto uma ardência no rosto chega quase caio, passo a mão sobre o tapa e vejo outro militar aparecendo.

─ Mas que merda tá acontecendo aqui? Deixa ela passar, ela tá com uma criança de colo! ─ ele diz mas a militar pega minha bolsa com raiva e joga tudo no chão.

Naquele momento sinto meu sangue ferver, minha mão coça e quando vou pra cima da mesma sinto alguém me puxar, me viro com raiva e vejo Neguinho com Henrique do lado.

─ Que isso? Tá maluca é? Tu não pode fazer isso com uma moradora, ela tá com uma criança e se quiser ir registrar um b.o, ela pode! ─ ele diz revoltado recolhendo as coisas do chão, pego a mão da Lua e olho pra militar furiosa.

─ Pode passar ─ diz ela irônica e saio de lá batendo o pé, Neguinho me acompanha segurando a mão do filho e me puxa assim que entro em um beco.

─ Cê tá bem? ─ ele me analisa e assinto. ─ Essa porra tá é vacilando, ela vai é pagar!

─ Deixa quieto, Neguinho ─ digo respirando fundo. ─ O erro foi meu que não abri a merda da bolsa.

─ Erro teu é o caralho, o erro foi dela que foi te bater e jogar tuas coisas no chão te humilhando, vou fazer aquela vadia pagar ─ Neguinho realmente está revoltado, eu suspiro e pego minha bolsa, também pego Lua no colo e cumprimento Henrique que está enorme.

─ O tio Neguinho vai bater na mulher malvada, mamãe? ─ Lua pergunta e logo Neguinho gargalha revelando seus dentes metálicos.

─ Claro que não, titio vai fazer pior ─ ele diz segurando Lua no colo e beijando a bochecha da mesma.

Neguinho me acompanha até em casa, vamos conversando sobre várias coisas, dentre elas, Gabriel.

─ Viu o Gabriel? ─ pergunto preocupada.

─ Faz tempo, e tu? ─ ele anda do meu lado em passos lentos, estou segurando a mão do Henrique que era praticamente a cara do pai e Neguinho carregava Lua que brincava com a chupeta.

─ Desde sexta-feira, estou preocupada, sem Luan aqui está realmente precário.

─ Verdade, só Luan pra colocar Gabriel nos eixos, mas PJL, logo ele vai tá de volta.

─ Tenho medo, medo de tudo.

─ Não tenha medo, Maju. Sei que muitas vezes o mundo te faz medo, mas sei que tu é uma pessoa determinada e corajosa, e precisa continuar sendo pela Lua, ela precisa de tu demais.

Eu suspiro fechando meus olhos e pego Lua e a bolsa, me despeço de Neguinho e Henrique com um abraço apertado e entro em casa, encontro Gabriel sentado no sofá com uma cara de choro...

Coloquei Lua no chão que correu pra cozinha onde Julieta chamava ela e me sentei no sofá com Gabriel que olhava pra mesinha de centro, ele estava magro, os olhos esverdeados estavam sem brilho e ele estava com a cara inchada.

─ Gabriel...

─ Maju, eu acho que fiz uma coisa muito errada, muito errada mesmo!

Logo me preocupei, segurei na mão gelada de Gabriel e suspirei o fitando.

─ O que foi? O que você fez? ─ indaguei morrendo de preocupação.

─ Maju... eu... Maju... ─ ele gaguejava e então começou a chorar, ele me abraçou e chorou em minha blusa, correspondi o abraço também com lágrimas nos olhos. ─ Maju, eu usei drogas hoje.

Rapidamente me desgrudei de Gabriel e arregalei meus olhos o fitando, não acreditava ainda.

─ Você o quê?!

─ Fumei dois cigarros de maconha, foi um amigo meu que me deu, sei que isso é errado mas foi a única coisa que ajudou mais...

─ Ajudou em quê? Em acabar com sua vida? Gabriel você tá louco? Sabemos que Luan está preso e já faz três anos mas isso não quer dizer que você vai acabar com sua vida, eu preciso de você, Lua precisa de você! ─ grito com ele que soluça enxugando as lágrimas.

─ Você não entende, Luan era tudo que eu tinha, Luan era a minha única família, a verdade é que todos me abandonam, todos me deixam, primeiro foi meus pais e agora meu irmão!

─ Não é verdade, eu não te abandonei, eu estou aqui e sua sobrinha também, mas você está sendo covarde e abaixando sua cabeça, eu não vou deixar isso acontecer! ─ eu envolvo ele em um abraço apertado e o mesmo retribui ainda chorando. ─ Agora sobe, toma um banho e vem comer.

Ele assente e sobe rápido, solto um suspiro e olho pro teto cansada, sinto alguém puxar minha mão e abaixo meus olhos pra ver Lua com um ursinho de pelúcia.

─ Desenho! ─ ela aponta pra televisão já se sentando no chão e ligo colocando no canal de desenhos.

Eu deixo ela assistindo e subo pro quarto, o meu quarto com Luan, ele estava tão vazio, tão solitário.

Pego uma camisa de Luan na mão e inalo o perfume que já não existia mais, sentia as lembranças dele me deixando, sentia ele me abandonando.

Fui até o espelho e me olhei, o cordão de ouro ainda estava em meu pescoço e nunca havia tirado em momento algum, assim como o anel que ainda estava em meu anelar, eu ainda tinha esperanças...

Apenas um Traficante IIOnde histórias criam vida. Descubra agora