Contato de Choque

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Os dias foram passando e eu gostando cada vez mais do novo emprego e da cidade, já havia feito amizade com os novos colegas e estava me adaptando super bem. Aquele desconforto que sentia nos primeiros dias por causa do fuso horário finalmente passou. É uma quinta-feira e estou exausta, trabalhamos muito e terminamos um conglomerado de lojas de grifes. Após o expediente Luccas me ofereceu uma carona para casa.

- Vamos. Eu te levo! - fazia alguns dias que ele insistia na carona e eu sempre dava um jeito de evitar. Maya e eu voltávamos para casa de metrô ou ônibus.

- Obrigada. Não precisa se incomodar.

- Não é Incômodo Anna. É caminho pra mim, além do mais, você correu muito hoje e merece um bom descanso. Não se preocupe, é só uma carona! Soltou um riso disfarçado.

- Ok. Tudo bem. Já que você insiste. - acabei aceitando, não tem como recusar vendo um sorrisinho desses.

- Você não se importa se eu convidar minha colega? Moramos juntas.

- Claro que não. Fique a vontade para chamá-la.

Decidimos esperar por ela no saguão. Trocamos algumas ideias sobre decorações, reparei em seu belo porte físico, apesar da roupa, podia perceber a saliência dos músculos em seus braços fortes, tinha cabelos castanho-claros com um corte meio surfista enquanto seus olhos eram claros e sua pele um pouco dourada.

Acabei me perdendo na conversa. Por sorte enxerguei Maya vindo entre outros funcionários, ela parecia ter se enturmado bem, conversava entusiasmada com um e outro.

- Maya. Este é Luccas, o colega de quem eu falei. Ele nos ofereceu uma carona até em casa.

- Olá Luccas, muito gentil de sua parte. Anna disse te admirar pelo excelente arquiteto que é. - Luccas sorriu meio tímido, um leve tom de rosa surgiu em suas bochechas e nas minhas, não esperava que Maya iria dizer isso.

- É um exagero de bondade, mas obrigado de qualquer forma.

Já estávamos chegando a entrada da empresa quando me lembrei de algo importante.

- Droga! Esqueci o projeto que Andrea me pediu para revisar.

- Deixe para amanhã, não tem problema. - disse Luccas.

- Eu prometi a ela. Não posso quebrar minha promessa, vou rapidamente buscá-lo e já alcanço vocês.

Que cabeça a minha. Acho que estou mesmo precisando descansar.

- Está bem então, vou pegar o carro e esperamos você aqui em frente. - prontificou-se Luccas.

Subi novamente até o 3° andar, apressando-me em pegar o projeto, que por sorte havia deixado em cima da mesa do escritório, como pude quase dar uma mancada dessas, esquecendo a tarefa de casa. Corri para o elevador mas ele estava demorando muito, paciência não é uma de minhas virtudes, então resolvi usar a escada de emergência, afinal não são tantos degraus assim, desci rapidamente, não quis deixar minha carona esperando.

O saguão está praticamente vazio a não ser por alguns seguranças que fazem suas rondas e faxineiras chegando para o turno da noite. Quando passo pela porta vejo o sol se pondo, reluzindo sua luz através das vidraças, uma cena linda, como se fosse um presente depois de um exaustivo dia de trabalho, porém tanta claridade deixou minha visão embaralhada por um momento, fiquei ofegante e quase arrependida de não ter esperado o elevador. Bem em frente à saída está parado um carro branco com rodas enormes, vidros escuros, é o único parado ali, deduzi rapidamente se tratar de Luccas e Maya me aguardando. Ele deve ganhar muito bem por aqui, em meu país não seria tão comum um rapaz com sua idade, não mais que uns 27 anos com um carro desse porte, apesar de eu conhecer pouco sobre carros esse deve ser muito luxuoso e caro. Ando em na sua direção com passos largos e ritmados, em uma das mãos levo a bolsa e o casaco e na outra tento equilibrar os projetos. Maya poderia se dispor em me auxiliar. Em uma pose de equilibrista consigo abrir a porta de trás com uma mão só, vou largando os projetos sob meu colo, bato a porta com mais força do que pretendia, só me dou conta quando escuto o barulho dela fechando.

Anna - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora