O Beijo

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- Carol!

Surpresa! Tua irmã reclusa veio te acompanhar mais uma vez. Sempre desconfiei que ela percebia os meus planos sórdidos.

- Tu tá diferente. Olha, Lucas! Ela já tá até parecendo aquelas médicas gostosonas de pornô! - O humor dessa criatura, não pode ser descrito. Qual a importância de eu interagir? Ou de conseguir respirar perto dela? Nenhuma. - Fala a verdade, quem tu tá tentando pegar? Se for ele, APOIO totalmente!

- Eu? Achava ruim não.

O QUÊEEE? Foi mais ou menos essa minha reação com a tua resposta. Tu lembra que tu falou isso?

Menos de uma semana e algumas mudanças drásticas de vida depois, eu já tinha me tornado uma opção. Nossa! Que lisonjeiro da sua parte!  Ainda te odeio, Lucas.

Fui salva de responder a "Inquisição Dos Olhos Verdes" pela chegada da van. Claro que eu passei uns 10 segundos abrindo e fechando a boca como um peixe antes disso.

E, naquele dia, quando tu sentou mais uma vez do meu lado, lembro de ter fingido corajosamente  que estava cansada e que ia dormir a viagem toda.

- Pobre criança! Muito ocupada tu és, realmente - Provocação: primeiro indício de atração fatal.

Acho que eu dei alguma resposta sarcástica também, talvez uns grunidos, não lembro, porque nessa hora tu pegou minha mão.

Ok.

Vamos acabar com alguns clichês por aqui.

Que história é essa de "correntes elétricas passam entre o contato dos nossos corpos" que todo mundo fala? Eu nunca senti isso. Se você já sentiu, aconselho seriamente algum acompanhamento psicológico.

Eu fiquei desnorteada quando tu pegou minha mão, sim. Mas porque tu tava me pegando. Nenhum cara sai pegando descaradamente, até carinhosamente, na mão das suas "amiguinhas macho". Isso era um claro indício de que tu ia tentar alguma coisa até o fim da noite, e eu tinha que decidir qual seria o meu posicionamento.

Eu estava certa, não era? Tu não faz ideia do quanto eu queria saber o que se passava na tua cabeça nesses momentos. Mas, aparentemente, eu já conseguia te ler bem o suficiente para antecipar alguns dos teus passos.

Não prestei atenção em uma palavra do professor naquela noite. Babei quando tu continuou as provocações no intervalo. E me senti a maior das fodonas, cagona, quando fugi do lugar que tu tinha guardado para mim na volta. O que não te impediu de ir atrás de mim depois, estrategicamente éramos entregues por último. OBRIGADA, ACASO.

- Tu tá com raiva de mim?

- Eu? Imagina! - O jeito que tu me encarava, às vezes, deveria ser proibido por lei.

- POR QUE VOCÊS NÃO SE PEGAM LOGO, EIN? Ninguém aguenta mais essa frescura. - Sugeriu calmamente minha melhor amiga: Ana.

Depois de umas risadas constrangidas, da minha parte, claro.

É, Carol. Por quê? - Lembro claramente dessas tuas palavras. Tão direto. Ao mesmo tempo, tão ridiculamente ruim. RUIM. PIOR (NÃO) CANTADA EVER.

- O quê, Lucas? A gente? Tá doido?! - Até ri. Tua cara nessa hora foi um grande "an?" Acho que a minha também. Não sei porque eu fiz isso.

Lembro que tu falou alguma merda, e o clima não ficou tão pesado depois da minha rejeição fodástica, realmente.

"Amanhã tu não escapa". Foi isso que tu falou na hora que a gente se despediu? Não entendi, mas eu achei que foi. ATÉ HOJE, EU TENTO ENTENDER COMO EU FUI ME APAIXONAR POR ALGUÉM QUE FALA ESSE TIPO DE COISA.

É ridículo. É broxante. Já te mandei parar de ver filme dos anos 70.

Fiquei esperando o amanhã.

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Uma das minhas "melhores" características: sou muito possessiva.

Eu sabia que tu era um galinha.

Entretanto, até então, eu não tinha te visto beijar ninguém. Na minha frente, cacete.

Nunca poderei expressar em sua total plenitude o ódio que eu senti da pobre que tu estava beijando naquele dia. No nosso ponto. No dia que eu tinha resolvido fuder com o resto do meu plano de humilhação infalível.

- Ãan. Oi, Júlia. - Claro que eu ia interromper vocês dois. Claro que eu sabia quem ela era. Claro que eu sabia de todos os teus rolos. Isso: no plural.

Quando eu tinha concordado em ser mais uma, que eu nem lembro?

Aliás, a maneira como tu tratava as mulheres era completamente ofensiva. Sempre te falei isso. Espero que tenha melhorado depois da gente.

- Carol, eu sei que eu sou uma vaca, foi mal.

Mentira. Ela não falou isso. Mas custava?

Ela foi bem educada e vazou.

E esses foram os minutos de espera mais próximos que eu cheguei a querer tua morte, até então.

Mas te tratei da mesma forma. Fui falsa, claro. Quero deixar claro que meu ódio queimava como o fogo de mil sóis naquela noite. Tu percebeu? Tu lembra disso? Espero que sim.

Infelizmente, alguém tinha planos para nós dois naquela madrugada.

Acho que foi a melhor festa surpresa que nossa amiga recebeu.

E o condicionante perfeito para um dos melhores erros da minha vida.

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