Capítulo Dois

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A segunda necessidade ganhou.

As lágrimas vieram.
As lágrimas se foram.

Me sinto uma merda encarando o teto branco do meu quarto, no momento.

Me sinto meio dopada.

Estou também levemente incomodada com a bagunça que eu mesma fiz, mas não tenho mais espaço na minha mente para o meu TOC agora.

Não quero ter espaço para ele também.

Tampouco quero ouvir esse silêncio que se instalou aqui dentro, no momento que as lágrimas pararam. No momento que ele falou.

Eram quase dez horas.

- Lucas C. : Você não pode estar falando sério.

São quase doze agora.

Eu parei de encarar a sua mensagem solitária há um tempo. Mas ela ficou martelando em mim, de qualquer forma. Porque ela resume minha situação.

"Você não pode estar falando sério."

Você.

Não.

Pode.

Estar falando sério.

Eu acho que eu não posso.

Não posso chorar.

Não posso ficar lembrando de como eu me sintia quando nos abraçávamos.

Não posso chorar.

Não posso ficar sentindo essas coisas quando eu lembro de como ele sorri.

Não posso chorar.

Muito menos sentir esse ódio quando eu lembro das suas palavras.

Não posso chorar.

Eu simplesmente não posso mais nada. Não posso estar falando sério.

Eu tenho a prova amanhã. Eu não tenho sono.

Eu tenho que organizar essas coisas na minha cama. Eu tenho um monte de dor, no entanto.

Eu tenho que dar alguma explicação plausível à minha mãe. Eu não tenho vontade.

Mas eu faço.

Eu levanto.

Eu tiro tudo que não preciso de perto de mim naquele momento, incluindo meu celular.

Eu digo "só estou ansiosa, boa noite".

Eu até sorrio.

E eu durmo.

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Um barulho repentino me tira dos meu devaneios quando a porta do quarto se abre de supetão.

- Você deve ser a Car-rol!

Uma loira de olhos verdes - levemente bronzeada de um jeito estranho, levemente bonita - grita para mim. Não reconheci o leve sotaque.

Também não me surpreendi dela saber o meu nome, minhas malas foram enviadas para o quarto dois dias atrás. Não muito prudentemente, meu querido irmão se aproveitou da minha ausência para enviar minhas coisas ao dormitório.

Porém, o que me intrigava era a atitude dessa mulher que parecia ter mais ou menos a minha idade. Pessoas animadas demais sempre me deixaram com um pé atrás: Falsidade ou problema mental?

- Eu sou a Claire. Uma das suas novas melhores amigas. - Ela ri animadamente. Parecendo esperar que isso acontecesse de verdade.

Quem fala esse tipo de coisa?

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