Eu não quero ser injusta.
Você nunca disse que queria algo sério. Ou me deu falsas esperanças - só nas vezes que ficava bêbado e dizia que me amava.
Mas eu me iludi de qualquer forma. Como não poderia?
Na verdade, tu até voltou a falar das tuas outras 'vagabundas' (apelido muito carinhoso o que tu deu, a propósito), e das que não eram ainda. Eu amava isso.
Amava o fato de você se abrir tão claramente comigo, de nunca esconder o que queria, o que te angustiava, de xingar como um velho rabugento a todo momento - meu acervo de palavrões não era tão amplo antes de você. Amava a forma como a conversa passou a fluir sem mais nenhum esforço e como nossa amizade ainda mais forte.
Odiava tudo isso também. Odiava que você me tratasse como a "amiga perfeita". Odiava ouvir você falar de outras garotas. Odiava saber quase todas as partes da tua vida, e me preocupar tanto com você.
Eu ardia de ciúmes a cada instante que você chegava perto de outras garotas. Você não é idiota. Tenho certeza que você sabia, sabia o que tinha feito e gostava de me provocar. Nunca consegui disfarçar minhas emoções eficientemente.
Mas, quer saber? Na última vez que a gente ficou levemente muito bêbados juntos, eu percebi o jeito que você tava olhando pra mim enquanto eu dançava com uns amigos. Quando você me arrastou para longe de todo mundo depois que eu já tinha dançado tudo que podia e me deu mais uns amassos, só que raivosos. Quando você disse que me amava de novo, eu percebi que você vivia me dando falsas esperanças, sim.
Qual é?! Você ficava sempre perto, como uma criança carente. Você agia possessivamente sempre que eu me aproximava de outro cara. Você me provocava porque gostava de saber o que eu sentia.
E você não desviava os olhos do meus ou de mim quando estávamos no mesmo ambiente porque você gostava disso. Você gostava de mim, da minha companhia e do que eu representava na tua vida.Eu nunca acreditei de verdade que era só efeito da bebida das festas quando você dizia que gostava de mim. Nem quando você dizia que me amava muito, mas sempre como bons amigos.
E, a partir daquele dia, eu passei a te odiar por isso. A me odiar por isso, pela nossa covardia.
Eu nunca admiti que queria você. Não só como um amigo colorido e feliz, embora estivesse claro para qualquer um que nos visse. Eu te idolatrava, e isso estava estampado na minha cara em todos os momentos.
Você nunca admitiu que me queria. Porra. Você nunca nem sequer admitiu que gostava de estar comigo de alguma forma.
Eu me sentia um lixo por ter que escutar tantas especulações dos nossos amigos calada. Por ter medo de me abrir e ver você se afastar, como eu vi fazer com outras.
E, mais ainda, por ver que o nosso tempo tinha acabado e parecer que eu era a única que se importava de alguma forma.
Sabia que isso ia acontecer, o final do ano ia chegar, não estudariamos mais juntos. Não nos veríamos mais.
Mas doía ver acontecer, sabe? Claro, eu não queria "eu, você, dois filhos e um cachorro". Ou talvez eu quisesse, sei lá. Eu só queria ter aproveitado mais verdadeiramente o tempo que tínhamos juntos. Você foi minha paixonite - minha queda, minha cratera, meu fim - do ano inteiro.
Você sempre vai ser uma parte importante na minha vida, no meu crescimento pessoal, assim como eu sei que eu fui na tua.Você me ajudou, mesmo que indiretamente, a encontrar a minha melhor versão. No fim das contas, eu vou ser eternamente grata por ter te encontrado.
Serei grata pelas vezes que nós matamos aula para passear em qualquer outro lugar proibido.
Das risadas sem motivo.
Das brincadeiras: tenho vergonha de saber o que os nossos professores pensam de mim.
Das implicâncias.
De todas as vezes que eu te vi chorar e tu me deixou entrar na tua mente pertubada. E que eu fiz o mesmo.
De quando a gente se apoiava e explicava todo o nosso drama.
Vou sentir saudades de deitar no teu ombro, de dormir no teu colo. Eu me sentia tão confortável, tão em paz, nos teus braços.
Vou sentir saudade da tua boca. Que só serve para falar merda.
E da tua bunda maravilhosa.
Um dia, eu vou lembrar de você e não vou chorar de saudades, vou conseguir e lembrar das nossas conversar sem sentir vontade de morrer e não vou ficar rindo bobamente lembrando de como nossas mãos se encaixavam perfeitamente.Talvez eu ria, mas do drama que eu fiz até agora.
De qualquer forma, não cabemos mais na vida um do outro. Eu sei disso.
E só por esse motivo que eu me encontro parada na tua porta nesse exato momento. Para me despedir, só por isso, só para isso. Toco tua campainha e suspiro, sabendo que isso será mais difícil do que eu estou tentando me convencer.
A partir de agora, minha história não vai ser mais dedicada a você.
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Dezesseis
Romance"Talvez, só nos sintamos vazios porque deixamos pedaços de nós mesmos em tudo que costumamos amar." - R. M. Drake