- Oh! Car-rol, você já bebeu demais por hoje, não acha?Em outros momentos da vida eu teria dito a ela que não era da sua conta, de forma alguma, a quantidade de álcool que eu ingeria.
Entretanto, eu me encontrava paralisada em frente a uma - aparentemente transtornada e aperfeiçoada - versão de um velho conhecido.
E ele estava tão paralisado quanto eu, tanto que não fez o menor esforço para limpar o rosto completamente encharcado.
Convenhamos, já fazem mais de dois anos, eu posso agir como a adulta madura que sou.
Só que você tem 19 anos, não tem agido como adulta nos últimos tempos, e você não é madura.
Eu sou, sim.
Eu posso tratá-lo normalmente.Não é como se eu guardasse mágoas por todo esse tempo. Mas, o que diabos esse filho de uma mãe está fazendo na minha frente?
Ok, me certifiquei de não ir para a mesma faculdade que ele. E estava muito bem com isso, obrigada.
Não é como se significasse que eu estava fugindo. Era sim.
Finalmente reagi, depois de alguns segundos sendo encarada por Cler.
- Lucas. Há quanto tempo?! - Eu acho que não poderia ter soado mais forçado. - Perdão por isso. Eu acho que me assus..eu virei muito rápido.
Ele não disse nada. Só me encarou. Abriu e fechou a boca algumas várias vezes.
- Então, vocês já se conhecem? - Ela parecia animada com a informação, como sempre.
- Nós morávamos na mesma cidade. - Surpreendi a mim mesmo ao soar tão desinteressada, deve ser o álcool. - Eramos vizinhos, ou qualquer coisa assim.
- Estudamos juntos.
Ele finalmente se pronunciou, e - puta merda - sua voz não tinha mais aquele tom indefinido de quem ainda sofria com a puberdade.
Em épocas posteriores, era a única coisa que destoava da sua postura de "homem". Agora, era suficientemente grave. E parecia quase um rosnado de tão rouca.
Nunca gostei de rouquidão, mas, eu tinha que admitir, aquilo não poderia soar melhor. E todo o resto também: ele, com certeza, tinha passado um longo tempo em academias durante esses dois anos.
Talvez eu esteja exagerando.
Só isso.Eu achava que ele estivesse encarando firmemente meu rosto quando falou, e que continuava fazendo o mesmo agora. Porém, quando resolvi encará-lo de volta, peguei seus olhos analisando demoradamente o restante do corpo. Esperava que estivesse aprovando a conferida, ao menos, e tentei não me sentir mal por ele não me encarar de igual para igual.
Um pedaço de carne. Era como eu me sentia, nada muito diferente do que ele sempre me tratou.
- Bem, Car-rol, ele é um dos amigos que eu tinha te falado. E, Lucas, ela é a minha colega de quarto!! - Cler falou, depois de um tempo de silêncio. Por que essa mulher só empacou no meu nome? Tenho que apresentá-la a um outro apelido meu qualquer.
Peraí. Amigos?
Eu conhecia bem suas "amizades" femininas.
Sua frase desproposital foi o suficiente para me fazer lembrar de quem se estava falando. De repente, eu não estava mais tão impressionada com os seus atributos recém adquiridos. E nem apenas minimamente ofendida com a forma que ele me tratou.
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Dezesseis
Lãng mạn"Talvez, só nos sintamos vazios porque deixamos pedaços de nós mesmos em tudo que costumamos amar." - R. M. Drake