Capítulo Um

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Encarei a porta cinza na minha frente como se ela estivesse tentando me engolir.

Embora, no momento, ela estivesse do meu lado ao adiar o confronto que eu temi por tanto tempo.
Eu não temia a ele, eu temia o que eu tinha que dizer. E o que estava por vir, claro.

O que ele poderia estar fazendo de tão importante? Fazem exatos trinta segundos que eu 'anunciei' minha presença, apesar de ter chegado há mais de cinco minutos.

Eu ficaria refletindo sobre o quão metaforicamente profundo seria comparar minha entrada bloqueada na vida dele também, com o fato dele simplesmente não abrir a maldita porta, se eu não estivesse tão nervosa. Um minuto agora.

Eu não quero vê-lo.
O caminho de volta parece tão receptivo, diferente desse portão impessoal.

Tudo bem que eu chorei todo o dia anterior, e a noite principalmente, me martirizando pela minha falta de coragem.

Tudo bem que tudo que eu mais queria era ficar abraçada com ele por umas boas horas, só para me despedir, mas eu sabia que não ia ser bem assim.

Eu não sabia o que ele queria desde a hora em que ele mandou aquela mensagem, pouco depois da meia noite. Eu tinha chegado do último dia de cursinho há mais de quarenta minutos e tudo que tinha feito, além de tomar banho, era chorar e ficar relendo as nossas conversas.

- Lucas C. : O que vai fazer antes da prova?

Estava tão concentrada nas minhas lágrimas que não percebi que ele tinha falado.

- Eu : Esperar torrando no sol?

- Lucas C. : Engraçadinha. Você sabe que eu quero dizer amanhã.

As aulas tinham acabado um dia antes da prova.

- Eu: Chorar um pouco. Talvez dormir o dia todo.

Por que ele está falando comigo? Eu já tinha me preparado para receber seu silêncio pelos próximos tempos. Ele é assim.

- Lucas C. : Meu deus, alguém está tendo outra crise ridícula.

- Lucas C. : O que você acha de passar aqui em casa?

- Lucas C. : Umas três horas

- Lucas C. : Ou pode vir de manhã também

- Lucas C. : Na hora que vier tá bom. Só venha.

Oi? An? Meu cérebro congestionou nessa hora.

"Só venha." Quem esse idiota pensa que é para requisitar minha presença desse jeito?

- Eu: Lucas, meu querido, eu não vou te dar.

Claro que ele já falou sobre isso. Claro que eu disse porquê não ia. Claro que ele se sentiu desestimulado em destruir minha inocência.

- Lucas C. : Ainda.

- Lucas C. : Hahaha quem falou que eu queria isso?

- Lucas C. : A gente pode ver um filme

- Lucas C. : Fazer qualquer coisa. Eu te acalmo, eu sei.

- Lucas C. : Mentira, você que me acalma

Com certeza ele quer me comer. Ele não manda tantas mensagens de uma vez, ou se insinua desse jeito. Nunca.

- Eu: De tarde tá bom

DezesseisOnde histórias criam vida. Descubra agora