A Mudança

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Eu gostaria de dizer que foi a minha força de vontade que me levou aos 54 kg que eu peso atualmente. Mas isso seria uma grande mentira. Eu tive anemia.

De qualquer forma, eu me sentia bem com meu peso anterior, e com a minha adorável bunda gigante.

Entretanto, a perda de peso gradual fez com que meu braços perdessem algumas gramas, o que foi bom; ao mesmo tempo em que o resto do meu corpo perdeu um pouco das suas curvas - ainda estou me sentindo anoréxica, e nem foi por escolha. Fatores que caíram como luva no meu plano de sedução.

Porque eu tinha um plano de sedução, Lucas.

Que era, basicamente: Te seduzir. Criativo, né?  E depois descartar os teus "pegas". O que não funcionou. Por que tu tinha que beijar tão fodidamente bem, criatura?

Voltando ao plano. Essa parte eu tenho certeza que tu lembra, ninguém pode ser tão tapado.

A primeira coisa que eu tive que lidar foi com as minhas roupas. Lembra da tenda M? Mandei para uma costureira, dessa vez para que ela abraçasse meigamente o meu corpo, e não apenas o cobrisse. Claro que as minhas calças eram tão folgadas quanto a blusa, o que me deixava em desvantagem, uma vez que as minhas pernas e traseiros não eram tão decepcionantes.

Sobre isso não foi muito difícil convencer minha mãe a comprar algumas calças novas, já no dia posterior ao "atentado". Já a farda demorou um pouco mais a sair, fui obrigada a usar minhas blusas-tendas ainda por uma semana, mas estava melhor do que antes.

O segundo passo foi a minha aparência. Nunca passei tanto tempo no espelho antes disso. Nunca passei quase nenhum tempo antes, na verdade.

Tenho que confessar: você me estragou. Desde aquele dia, eu me tornei viciada em maquiagem. Acho que toda mulher é, mas eu te culparei eternamente. Mais uma vez, não foi difícil conseguir a make, na verdade, eu já tinha um grande estoque, já que minha mãe sempre comprou, nunca desistiu de mim, aquela alí. Aprender a passar foi outra história. Mas foi dando certo, comigo sempre usando nada muito pesado, claro.

Quanto ao meu cabelo. Meu cabelo. Cara, obrigada. Se não fosse por você, eu poderia ainda prender eternamente essa beldade. Aprendi a amá-lo loucamente. Dá para perceber né. Eu tenho consciência de que tu adora, agora, o meu loiro-morango natural. Vou admitir que foi um saco tratar essa juba no começo, mas ele colaborou. Red power, babe.

Claramente, a mudança foi radical o suficiente até para um cego notar. Exagero. Entretanto, o terceiro passo da mudança foi o mais significativo na minha vida. (ISSO TUDO ACONTECEU NUM INTERVALO DE 24 HORAS, tu percebeu, né?)

Eu mudei por dentro. Não por dentro - meus princípios, mas meu comportamento. Foi extremamente complexo para mim lutar contra a minha timidez, praticar esquecer e ignorar a opinião alheia sobre minha vida, ainda estou treinando, na verdade.

De qualquer forma, minha postura naquele outro dia já era outra. Até hoje eu ainda me parabenizo por isso. Ainda agradeço por isso.

Agora que eu estou escrevendo fica parecendo aquelas viradas triunfais dos livros que se lêem por ai, que lindo! Mas aconteceu de verdade, pessoas. Nunca percam a chance de se encontrar, ok? Mesmo que esteja nas profundezas do tártaro! E não sejam cuzões como ele (você, que não vai ler isso) foi.

Acho que eu nunca caminhei tão nervosa para algum lugar como quando eu caminhei para o nosso ponto naquele dia. Eu tava tão fria por fora, tão calma, confiante até, ao menos foi a imagem que eu pensei em te passar, e acho que consegui. Não consegui? Tu podia escrever para mim também. Só acho.  Mas por dentro, meu amor, foram fogos de artifício, foi o fim de um mundo. Lembro perfeitamente das tuas primeiras palavras depois disso.

- Que horas são, ein? Quase que tu chegava atrasada. - E começou a falar do teu dia, como sempre. Eu fui bem educada, como sempre. Mas não mais tão receptiva, como eu estava sendo anteriormente. Aparentemente,  as pessoas gostam disso, minha antiga tática, cara, nunca vou largá-la mais.

Dessa vez, eu falei do meu dia entediante também.  Na realidade, eu manipulei a conversa falando falando sobre qualquer coisa desimportante,  e eu descobri que meu sarcasmo, quando potencializado, podia até ser divertido. Eu percebi que eu podia ser interessante com a minha "inteligência". Por que merda eu tinha que ser uma nerd, se eu não podia explorar isso?  E eu descobri, aos poucos, que eu gostava de verbalizar com os desconhecidos. Não tanto. Mas que não tinha problema nenhum em fazer isso.

- Tu tá bem? - ainda quero saber o que passava na tua cabeça quando tu perguntou isso naquele dia.

- Melhor impossível.

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