Técnicas de persuasão

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Eu peguei o meu celular e disquei o número de Bartô. Chamou algumas vezes.

- Atende, atende, atende...

Ele atendeu.

- Cara, é mais de nove da noite! Isso é hora de ligar? – escutei Chico uivando de alegria ao fundo. – Está tudo bem? Como foi o encontro?

- Na verdade, o encontro ainda está acontecendo – eu falei.

Chico gritou algo parecido com "o garanhão conquistador de corações", e por mais que eu tenha achado engraçado, precisava me concentrar no diálogo com Bartô.

- Essa é uma informação interessante – concluiu Bartô. – Se você ainda está com ela, devo deduzir que as coisas saíram maravilhosamente bem. Por que me ligou, então?

- Estamos pensando em invadir o baile. Vocês já conseguiram entrar?

- Que nada! Fomos barrados logo na entrada. Não contamos com o fato de que quem recebe as senhas é um dos jogadores do time de Marconi. Ele sabe que fomos suspensos e não podemos entrar. Isso não me parece justo, pois algo me diz que Marconi está lá dentro. Chico tentou argumentar, mas o cara acertou um gancho de direita na orelha dele.

- Ele está bem?

- Ele parece um pouco desnorteado. Teve ideias mais loucas que as de costume. Acredita que ele sugeriu pularmos o muro do terreno do ginásio cortando a cerca elétrica com uma tesoura de jardim?

- Poderia funcionar! – gritou Chico.

- Não, Chico. E eu lhe expliquei – enfatizou Bartô. – Seríamos eletrocutados. Iríamos morrer. – Ele voltou a falar comigo. – Além de ter perdido um pouco do juízo que lhe restava, suspeito que ele tenha ficado com sérios danos auditivos.

- Eu e Bianca estamos chegando. Esperem por nós.

Encerrei a ligação e uma raiva cresceu dentro de mim. Marconi e sua gangue estavam cada vez mais cretinos. Tudo bem que não tínhamos autorização para entrar no baile, mas eles sempre encontravam a necessidade de partir para violência. Expliquei a situação a Bianca.

- Vai ficar tudo bem, Joaquim – ela me tranquilizou. – Vamos conseguir entrar no baile e lembraremos a proeza da noite de hoje com muita risada.

Depois de ouvir isso, ficou óbvio que ela já tinha traçado seu plano. E desta vez eu não questionei. Achava aquele baile uma babaquice da pior qualidade, mas ali, com Bianca ao meu lado exalando confiança e fúria, invadir a festa se tornou um objetivo gostoso.

Tentei não demonstrar o sentimento que percebi no abrigo. A certeza inabalável de que não importava o que acontecesse e quantas leis iríamos quebrar, eu só queria estar em sua companhia. O problema é que, por mais que eu tentasse disfarçar, vê-la tão concentrada, dirigindo, com o vento noturno bagunçando seu cabelo, era uma visão bem difícil de ignorar.

Chegamos à rua da escola e o Fiesta teve que ser estacionado no outro quarteirão, já que todas as vagas estavam preenchidas. Encontramos Bartô e Chico sentados na esquina, perto de um orelhão. Chico parecia continuar insistindo no plano de cortar a cerca elétrica.

- Boa noite, rapazes – saudou Bianca, fazendo os dois se calarem e se colocarem de pé.

- Boa noite – eles responderam.

Herói TortoOnde histórias criam vida. Descubra agora