CAPÍTULO II - VINTE ANOS DEPOIS

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— Suma-Sacerdotisa, permissão para falar. — pediu Eric, o chefe da guarda de Helena.

— Permissão concedida. — Respondeu uma jovem, mas experiente, Helena.

— Os soldados estão prontos, Suma-Sacerdotisa. Acredito que chegou a hora da nossa vingança.

— Então, vamos em frente, sacerdote-chefe.

Depois do massacre que matou a maior parte dos bruxos mais velhos em sua aldeia, Helena assumiu a missão de reconstruí-la para salvar aqueles que restavam.

Não foi uma tarefa simples, tendo em vista que a escuridão tomava conta do ambiente. A ausência da usual claridade quase enlouquecera o seu povo. Os animais que sobraram foram colocados para a reprodução. O consumo de carne era feito apenas em raras ocasiões, sendo recomendado majoritariamente o consumo de frutas e folhas das árvores. Ela esperara pela vinda dos elfos, mas eles nunca voltaram.

Durante o período de reconstrução, houve diversos conflitos, porém, Helena — que abraçara a sua condição de chefe da aldeia — impôs a ordem por meio de palavras e, quando preciso, por intermédio da força ou dos feitiços.

Ela mudou o sistema de ensino, fazendo com que todos aprendessem os feitiços mais complicados desde cedo. Elaborou normas de convivência e alimentação. Montou um pequeno — embora mortal —, exército.

Estudou tudo o que pôde e descobriu que a sua força era imparável. Os encantamentos, porções e feitiços vinham à sua mente como se estivessem apenas adormecido. Quanto mais estudava, mais lembrava, e o que sabia quase nunca estavam nos livros de magia.

O tempo foi tenebroso, mas ela conseguiu o que desejava. Em uma noite de pesadelos, acordou com um conjunto de palavras estranhas na sua mente e sabia exatamente o que fazer com elas. Pegou um xale e saiu no meio da eterna noite. Foi em direção ao ponto mais longínquo da redoma negra e, lá, recitou as palavras como um sussurro, apontando os braços para o manto que encobria sua terra.

Num passe de mágica, a parede escura começou a ceder e uma pequena fissura foi aberta. Helena não entendia como, mas sabia que, se falasse as mesmas palavras num tom mais alto, a espessa parede se quebraria e eles estariam livres daquela prisão.

Isso acontecera há dez anos. Apenas seu conselho pessoal conhecia sua descoberta: o chefe de sua guarda, Eric, e sua conselheira, Suzana. E todos concordaram em esperar. Deixassem os elfos pensar que conseguiram o seu intento e, depois, eles sentiriam o sabor amargo da vingança.

Após vinte anos daquele terrível dia, o momento chegara. Helena marchou para o meio do bosque, e conclamou seu povo para a luta.

Levantou seus braços e, com o ódio que brotava do seu peito, disse as mesmas palavras outrora sussurradas. O que aconteceu depois entrou para a história dos bruxos como o dia da libertação e o início de uma nova vida. E ela começaria com o fim do povo Élfico.



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