Nada faz sentido

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Alexia

   Enquanto o professor explicava coisas como  "metais alcalinos e alcalinoterrosos" eu simplesmente pensava em como algumas coisas simplesmente não fazem sentido algum. Sofia sempre foi a menina mais popular da sala, todos os meninos gostavam dela, todas as meninas queriam ser amigas dela e tinha eu e mais meia dúzia que simplesmente não se importava com nada, só queria que tudo acabasse e que a gente não precisasse voltar para o colégio. 

   Sofia era tão fútil as vezes que até mesmo a galera que andava com ela meio que se cansava as vezes, e foi exatamente isso que aconteceu com Scarlett. Ela era a típica faz tudo pela Sofia (chegava a ser nojento), mas um dia ela realmente percebeu quem ela era e decidiu se afastar, se juntando à galera que não ligava pra nada. Com esse afastamento eu e Scarlett nos aproximamos e eu que não tinha ninguém, passei a ter uma amiga e uma super, mega, ultra inimiga. 

   Para Sofia isso foi quase como uma traição e decidiu fazer das nossas vidas, sempre que possível, um pouco mais complexa. Achávamos que com o tempo isso iria diminuir, mas parecia que a cada ano que passava sua raiva por nós aumentava, toda essa amizade delas havia acabado no 6º ano, mas até hoje permanece tudo igual. Até tentei me colocar no lugar dela sabe, já pensei que tivesse culpa em alguma parte, já culpei ela por ser tão insuportável, mas não dá, é muito difícil entender essa menina. 

  Sinto uma bolinha de papel em minha cabeça, jogada por Scar, e acabo perdendo a linha de raciocínio. O sinal bateu e eu fui logo indo em direção à porta, quando sinto o meu celular vibrar em meu bolso e vejo que era April me ligando:

- Você não sabe o que eu acabei de saber...- diz ela toda animada.

- O quê? - digo sem acreditar que ela estava me ligando para literalmente nada.

- Chris vai estar na festa da mamãe e essa é a sua grande oportunidade... - E quando ela ia tentar terminar a frase eu respirei fundo e completei:

- ..."de ficar com o amor da sua vida" - falei com uma voz tão irritante que até eu fiquei irritada com tudo aquilo. - Olha April de verdade, tô sem tempo pra isso, ele é nosso primo e tudo o que aconteceu no passado já passou. Minha vida sentimental ainda não é da sua conta! Ah, não vou te esperar hoje, pode ir pra casa sem mim. - Falo e desligo sem ao menos dar a possibilidade dela retrucar.

  Toda aquela conversa desnecessária me fez ficar com tanta raiva de  lembrar de tudo o que tinha acontecido comigo e com Chris, estar comigo e com outra menina ao mesmo tempo, me fazendo de idiota em acreditar que seríamos felizes para sempre...

- Ei, o que houve? - Scar encosta no meu braço e eu tomo um susto.

- Nada, só estava aqui tentando digerir algumas coisas. Você acredita que April me ligou pra dizer que Chris vai estar hoje a noite lá em casa no aniversário da minha mãe? Era só o que me faltava! - Digo guardando o celular no bolso.

- Ela não aprende né? Mas, como você vai fazer com ele lá?- ela diz enquanto andamos em direção ao shopping. 

- Não faço ideia, só sei que vai ser uma noite complicada. - disse respirando fundo. 

   Contei para Scarlett tudo o que aconteceu durante a ligação com April e relembramos tudo o que aconteceu no período em que fiquei com Chris. Ele era filho de uma das irmãs de criação da minha mãe, elas cresceram juntas e como a mãe de Cloe e Emma faleceu quando elas ainda eram muito pequenas, minha avó Olivia criou elas. Vovó já tinha Juliet e Elizabeth, com a chegada de Cloe e Emma ela acabou ficando com quatro meninas. No começo foi muito difícil a adaptação das quatro juntas, mas depois de um tempo tudo foi ficando quase que normal, a não ser por Cloe que sempre foi a filha problemática (como dizia minha avó).

   As meninas tinham personalidades completamente diferentes, Cloe era a mais afastada de todas, só aparecia em datas comemorativas e era a mais nova pois tinha 38 anos. Quando estava perto das outras irmãs sempre se achava a melhor em tudo e isso as irritava. Tia Emma era o oposto de Cloe, era doce, muito querida por todos, sua vida era em prol de seus animais de estimação, adorava viajar e tinha 40 anos. Elizabeth era a pessoa mais alegre, positiva e carinhosa que já conheci, ela faz o ambiente ser mais leve, ela compreende as pessoas, sempre se propõe a ajudar todo mundo, é psicóloga e tem 43 anos.

  Juliet, minha mãe é a mais velha, com 44 anos e hoje completando 45, diria que é a mais séria e centrada de todas, possui uma carreira consolidada no direito, se tornando uma das advogadas mais bem pagas do nosso estado. Juntamente com meu pai, fundaram uma das empresas de advocacias mais conhecidas a " Lexis Advocacy", apesar de fundarem juntos a empresa, trabalharem juntos, morarem juntos e muitas outras coisas, o casamento dos dois não estavam tão bem assim. Há alguns meses eu e April desconfiamos que as coisas para os dois não estão mais como eram, pouco os vemos juntos, meu pai mal para em casa direito, sempre focando no trabalho e na empresa, e minha mãe como sempre, sozinha. 

   Depois de sair do shopping com Scar fui pra casa me arrumar para o aniversário de minha mãe e percebi que a casa já estava um pouco movimentada, o pessoal do buffet já havia chegado e os garçons também, percebi que minha mãe não estava por lá e quem estava organizando tudo era minha tia Emma. Dei uma beijo nela, mostrei o presente que havia comprado pra minha mãe e subi para o meu quarto, ao fechar a porta pense: "Não estou preparada pra isso, de novo não!"

   Mesmo não querendo pensar, era inevitável, daqui a poucos minutos e o encontraria de novo,  depois de sei lá 2/3 anos. Eu realmente não parava de pensar nisso, como eu iria reagir? Agiria normalmente como se nada tivesse acontecido, ou o ignoraria e fingiria que ele não existia mais? Eu realmente não sei. 

   Enquanto tentava resolver esses conflitos em minha mente eu ia ao mesmo tempo me arrumando, tomei um banho, coloquei uma roupa confortável: saia jeans, blusa preta, meia calça e um all star preto. Uma maquiagem bem básica, arrumei o cabelo e desci com o presente da minha mãe para entregá-la. 

   Minha mãe estava radiante, feliz e extremamente linda, ela estava perto da escada e eu estava descendo, apesar de não me sentir muito próxima da minha mãe fui até ela, a abracei e falei:

- Sei que não sou a filha perfeita e muito menos a filha que você sonhou, sou cheia de defeitos dos quais sei que você fica chateada comigo,  sei que as vezes é difícil conviver comigo e te peço desculpa por esse meu jeito. Nunca tive intenção de lhe magoar ...- sinto meu olhos arderem mas me seguro para não chorar, respiro fundo ...- Feliz aniversário mãe, eu te amo. - entrego o presente para ela.

- Você é minha primogênita Alexia, com você eu cometi muitos erros e acertos e tenha a certeza que eu te amo do jeito que você é, claro que se fosse menos grossa com certeza seria mais fácil né...-ela riu.-  Você mudou muito durante esses anos e o que mais me chateia é o fato de você não se abrir comigo, eu sou sua mãe, sua amiga...mas tudo bem.- ela me abraça forte, quase num ato de querer me prender dentro dela. 

Me afasto dela e vou andando até a cozinha para ver se está tudo certo por lá, quando me viro para a porta da cozinha vejo Christoper entrando, com um sorriso que me faz tremer inteira por dentro e a partir dali eu já não sabia mais o que fazer.

O DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora