Capítulo 5

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Era 04:30 da manhã e já estávamos de pé. Comemos um pouco dos lanches que havia na bolsa do Davi e depois seguimos nosso caminho rumo ao tal ônibus.

- Dêssa! - Escutei a voz de Estefany que segurava a minha mão.

Olhei pra ela.

- Oi meu amor. - eu falei.

- Quando é que a gente vai ver Amanda e Pedro de novo? Eu quero brincar com eles. - ela disse com uma carinha meio que com raiva, confusa e triste.

Meus olhos se encheram de água, mas segurei o choro.

- Eles foram para... para... um lugar bem bonito.

- Eles vão morar lá?

- Vão sim meu amor.

- Mas quem vai brincar comigo agora?

- Eu, é só me chamar!

- Ta certo!

Eu dei um sorriso ainda com os olhos cheios de água.

- Mas... - ela continuou - e a mamãe? Cadê ela?

Tive que ser forte para não chorar. A essa altura, minha mãe e meus irmãos já estavam... mortos. Me doía lembrar disso, e a pior parte foi que eu não pude abraça-los uma última vez, não pude beija-los e pior; não pude fazer nada pra evitar a fatalidade.

- Bom Tefy, olha... a mamãe também viajou. - disse enquanto lágrimas rolavam pelo meu rosto.

- A gente nunca mas vai ver eles? - ela falou quase chorando.

- Um dia a gente vai ver eles de novo, gatinha! E a gente vai morar junto, você vai brincar com os nossos mais uma vez e a gente vai dar um grande beijo na nossa mãe.

- Será que vai demorar?

- Não sei minha linda.

- Tomara que não demore. To com muita saudade deles.

Demos uma leve risada juntas. Até que escutamos Davi nós mostrar algo bem a nossa frente.

- Vejam! - ele disse apontando para o ônibus bem próximo a nós.

Sorrisos surgiram em nossos rostos.

- Olha Dêssa! - Estefany falou apontando para uma multidão de pessoas desesperadas que se aproximavam bem rápido do ônibus.

- Corram!!! - Davi gritou antes de começar a correr em direção ao ônibus.

Coloquei minha irmã sobre as minhas costa e corri o mais rápido que pude.

Cheguei a porta do ônibus. O motorista pediu os bilhetes com a voz bem firme e severa.

Davi chegou. Ele me entregou dois bilhetes que seriam o meu e o da minha irmãzinha. Subimos no ônibus e Estefany foi logo sentar na cadeira mais próxima,mas Davi não entrou. Foi ai que percebi que ele devia ter perdido um dos bilhetes.

De novo não! Não posso deixa-lo para trás... tenho que fazer alguma coisa.

Resolvi descer do ônibus e entregar meu bilhete a Davi. Mas a multidão já estava muito próxima. O motorista fechou as portas do ônibus. Pude ver Davi dando um tchau para minha irmã através da janela e depois ser "engolido" pela multidão.

Eu não pude fazer nada. Fracassei mais uma vez! Por que eu sou tão inútil?

- O garota, você tem que ir para o seu lugar agora. - o motorista falou enquanto me encarava com uma careta através do espelho que havia um pouco acima da sua cabeça.

- Tá! - falei com um tom de raiva, dor e sarcasmo.

Me sentei na cadeira ao lado de Estefany. Ela ainda tava grudada na janela e observava o rumo que o ônibus tomava.

- Por que o Davi não veio com a gente? - ela perguntou meio confusa.

- Por que... por que... - eu não sabia oque falar.

- Ele também foi para aquele lugar onde mamãe ta morando? - ela perguntou antes mesmo que eu le explicasse algo.

Segurei as lagrimas que eu carregava comigo desde que as portas do ônibus se fecharam.

- Foi sim meu anjo.

Ela assentiu com a cabeça e voltou a olhar a paisagem. Mais uma vez era apenas eu e minha mana caçula.

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