Capítulo 4

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Mais uma semana de entrevistas havia se passado e nada de eu arrumar um emprego, como ainda não tinha nada para fazer, me dediquei aos livros de Jack Kufner e hoje era dia de grupo de leitura. A Ali não precisava mais me buscar, por mais deprimente que pareça, me acostumei a almoçar no vegetariano ao lado de casa e seguir de metrô ao velho e aconchegante casarão.

Já havia feito meu prato e me preparava para comer quando Alan aproximou-se e ofereceu-se para fazer compania.

- Posso te fazer compania vizinha?

- Oi – disse surpresa, não esperava encontrar ninguem ali – Claro, sente-se por favor. Pensei que só vinha aqui quando almoçava com sua amiga.

- E assim é, ela deve estar chegando – disse olhando para entrada – Na verdade já chegou, sempre pontual.

- A pirralha do clube de leitura é sua amiga vegetariana?

- Se fosse você, não a chamaria assim, ela se acha adulta – ele disse acenando para chamar a atençao da Luiza – Não se importa que ela se junte a nós né?

- Claro que não, ela é adoravel – menti.

Ele riu.

- Pensei que almoçariamos só você e eu – disse Luiza.

- Boa tarde para você também mocinha – me adiantei.

- Não seja mal educada Luiza, sente-se – disse Alan com autoridade.

- Que maravilha, um almoço entre "Amigos" – protestei.

- Que ótimo, estou almoçando com duas dolescentes de dezessete anos – disse Alan – Acho que vocês serão ótimas amigas.

- Duvido – protestou Luiza.

- É, duvido – concordei.

Almoçavamos em silencio e decidi dar o braço a torcer, afinal eu tinha trinta anos, não fazia sentido nenhum essa cena.

- Então Luiza, me conte um pouco sobre você, e como vocês se tornaram amigos – perguntei olhando em direçao ao Alan.

- Alan é voluntário na Casa do Menor, onde eu moro – disse sem levantar os olhos.

Fiquei embarassada com a resposta. Ótimo, a menina morava em um orfanato, era carente, não tinha pais e eu, uma mulher de trinta anos, estava literalmente colaborando para que o dia dela fosse pior ainda.

- Sinto muito, eu não sabia – disse embarassada.

- Não sinta – ela disse – Não sou a única, uma pesquisa recente disse que só nesse pais somos em mais de trinta e três mil.

- Ok.....- Olhei para o Alan buscando ajuda, não sabia o que dizer.

- A dois anos comecei um clube de leitura com as crianças da Casa do Menor, e como a Luiza estava se destacando, consegui autorizaçao para trazê-la para nosso grupo, fora da instituiçao, tem mais a ver com ela – sorriu dando uma piscadela para a menina.

- E o que voce gosta mais de ler? – perguntei.

- De tudo um pouco, ficçao cientifica, Romance, Suspense policial, mas quero mesmo ser escritoria de ficçao cientifica, combina mais comigo.

- Uau, quer ser escritora então, é uma profissão e tanto. – elogiei.

- Luiza vai ser uma grande escritora, tem muito potencial – Alan completou – Ano que vem vai ingressar na faculdade de literatura, alias mocinha, já fez sua inscriçao?

- Já – Luiza respondeu sem entusiasmo.

- Vamos indo? – Alan perguntou levantando-se – Estamos no limite para não atrasar.

O Fracasso não mora ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora