Capítulo 14

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Quando chegamos subi para o quarto e tranquei-me. Eu precisava ficar sozinha e tinha pouco tempo até que os convidados para o jantar de ação de graças começassem a chegar. Preparei a banheira com uma agua bem quente e tentei relaxar um pouco. Não conseguia tirar os olhos daquele solitário que havia voltado a habitar meu dedo anelar. Lembrei-me de todos os momentos que tivemos; todos os aniversários, feriados e viagens. Parecia tão certo fazer as pazes, voltar àquele mundo seguro onde eu não checava o celular de cinco em cinco minutos para ver se havia mensagens, mas, ao mesmo tempo eu viajava por meio das recentes lembranças: Eu, o Alan e a Luiza pintando a parede do apartamento, a sessão de fotos na instituição, o almoço maravilhoso no A Presto, tínhamos até uma musica, "Con te partiró", lembrei-me da nossa primeira e única tarde de amor, e depois dele desaparecendo. Voltei a terra quando dona Regina bateu no banheiro para avisar-me que eu precisava descer.

- Querida, todos os convidados já chegaram, quero servir o jantar.

- Já estou descendo mamãe.

Ao invés de me pressionar para sair do banho, ela sentou-se ao meu lado e segurou minha mão. Tocou o anel, me olhou com todo o carinho e disse;

- Querida, faça o que tem de fazer, pense somente em você e em mais ninguém; é da sua felicidade que estamos falando. Eu e seu pai adoramos o Daniel, mas amamos você mais que tudo e queremos que seja infinitamente feliz.

- Não sei o que fazer mamãe – admiti.

- Então não faça nada meu amor, não mude nada, apenas viva. Coisas ruins acontecerão todos os dias, a diferença é como você passa por elas. Vejo-te em cinco minutos, lá embaixo – beijou-me a testa e saiu.

Dona Regina costumava aconselhar a todos através de parábolas e geralmente eu não entendia nada e continuava a não entender. Desci para o jantar com o astral um pouco melhor, pensei por fim, que por um lado era ótimo usar o anel; como meus pais não tinham divulgado nada sobre eu perder o emprego e o noivo, ninguém havia ficado sabendo e ter o anel de volta, me livraria dos questionamentos.

Todos conversavam animadamente na sala enquanto bebiam seus drinks. Cumprimentei a todos, em especial minha avó querida, que eu amava tanto. Lá estava ela, linda e radiante em seu vestido preto, brincos de perolas e maquiagem impecável. Como eu a invejava, a matriarca da família, tão forte, decidida e respeitada.

- Vejo que já conheceu a valente, forte e vigorosa Dona Valentina – perguntei me direcionando a Luiza que conversava com a vovó animadamente.

- Naila minha querida, vejo que não esqueceu o significado do meu nome? Venha cá, me dá um abraço.

- Dona Valentina, se meu nome tivesse esse significado eu mudaria meu nome para ele.

Ela sorriu abrindo os braços e me apertando como se ainda tivesse dez anos.

- Já conheci a guerreira Luiza – ela sorriu dirigindo-se a mocinha que de sorridente tinha ficado carrancuda desde que me aproximei.

- Porque guerreira? – Perguntou Luiza

- Ora querida, esse é o significado do seu nome – vovó justificou.

- E é exatamente isso que ela é – argumentei sorrindo em uma tentativa de fazer as pazes.

- Obrigada dona Valentina pelo bom papo, foi um prazer conhece-la, vou ver se a dona Regina precisa de alguma coisa, com licença.

O Fracasso não mora ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora