Capítulo 9

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Acordei com um barulho estranho vindo da cozinha e sem antes passar no banheiro para lavar o rosto e tirar o inchaço da cara, fui checar o que estava acontecendo; muito provável ser a Luiza tentando preparar o café da manha e se atrapalhando com a falta de familiaridade com a cozinha. No entanto o que eu encontrei nada lembrava a cena de uma menina preparando o café. Naquele momento sem entender muito bem o que eu estava presenciando, não sei ao certo se o que eu senti foi ira ou alivio, por alguém ter tomado essa iniciativa por mim.

- Posso saber o que isso significa? – Perguntei com cara de poucos amigos.

- Naila, acordada já? – Perguntou Luiza surpresa - Não era para você estar acordar ainda, na verdade era para que acordasse quando estivesse pronto, eu queria fazer uma surpresa agradável – concluiu com um sorriso amarelo.

- Jura? E o que te faz pensar que pintar a parede da minha sala de vermelho é uma surpresa agradável? – Perguntei ainda com cara de poucos amigos, esperando por uma resposta que não me fizesse descarregar um monte de xingamento em cima da pobre menina.

- Não fica brava por favor, a ideia foi minha, eu chamei o Alan para ajudar – fez uma pausa para olhar com cara de desculpas para o Alan, já todo sujo de tinta, com um pincel na mão e cara de que não estava entendendo nada.

- Espera, deixa-me ver se entendi – interviu Alan - você não sabia disso? – Perguntou direcionando o olhar para mim.

Balancei a cabeça em sinal negativo enquanto via a expressão da Luiza de desespero, procurando uma maneira de se desculpar.

- Mocinha, você agora aprendeu a mentir? – Alan se direcionou a Luiza que abaixou a cabeça sem resposta – Você me disse que ontem a Naila mencionou que adoraria colocar um pouco de cor na casa e por isso queria fazer uma surpresa. O que esta acontecendo Luiza? A Naila educadamente te convidou para dormir aqui, foi gentil em baixar a guarda e tentar ser sua amiga e é assim que você retribui? Não estou entendendo esse seu comportamento.

Alan estava furioso. Sentiu-se traído pela pessoa que ele mais confiava, pude ver em seu rosto a vergonha e o desconforto em estar fazendo parte da mentira. A situação era constrangedora, nos dois com cara de tontos e a Luiza com a cabeça baixa com cara de desapontada. Eu havia evoluído com ela na noite anterior, evoluído muito, havia visto uma pontinha de aproximação entre a gente e eu havia ido dormir extremamente satisfeita por ter criado esse laço com ela, e de repente tudo podia ir por água abaixo ali. Pensei nas palavras dela na noite anterior, "Para de querer buscar a Naila de antes. Eu não a conheci, mas vejo muita autenticidade nessa Naila, a Naila que eu conheci no clube de leitura, a Naila fotografa, a Naila que usa camiseta velha para dormir. Essa é você por mais que não queira aceitar", e percebi que Luiza estava fazendo por mim o mesmo que tentei fazer por ela ontem; ela estava tentando me acolher, estava tentando me ajudar a encontrar quem eu era de verdade e se essa era a maneira que ela havia encontrado, eu iria aceitar e iria fazer parte disso, ao menos iria tentar.

- Espera Alan – interrompi – Luiza, você decidiu pintar essa parede devido a conversa que a gente teve ontem sobre eu querer mudar um pouco as coisas por aqui? – Menti.

Os olhos dela se encheram de vida e pude ver um sorriso que se abriu. O semblante do Alan suavizou-se e a tensão aos poucos começou a deixar o ambiente.

- Desculpe Naila, eu não devia.......- Luiza começou-se a desculpar.

- Amei a cor, acho que super combinou com o cinza dos moveis e do porcelanato. Acho que podemos trabalhar com algumas almofadas coloridas e incluir umas fotografias nas paredes no lugar desses quadros antiquados, o que acham?

O Fracasso não mora ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora