Chapter Five

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A proposta foi aceita com entusiasmo. Helena trouxe folhas de papelem branco, algumas canetas, e todos a ajudaram a cortar as folhas emquadradinhos de uns dois centímetros de lado.Depois, em cada um, escreveram as letras do alfabeto e os númerosde 0 a 9, além de repetirem as vogais com todos os acentos, até o til. Por fim, Helena escreveu "sim" e "não" em papéis um pouco maiores. - É para facilitar as respostas diretas dos espíritos... - explicou. - Só você mesmo, Helena... - riu-se Joe.Sentaram-se à volta da mesa redonda. Instruídos por Helena, os outros três pousaram o indicador no fundo do copo emborcado. - Não pressionem - comandou Helena. - O copo tem de estar livre, para deslizar sobre o tampo da mesa.James tinha ficado encarregado de fazer as perguntas. - Concentrem-se. É preciso que todos estejam sérios. Se não, nadaacontece. Vamos respirar fundo, como na ioga.Joe e Mary aceitaram a sugestão. Semicerraram os olhos,respiraram fundo e esperaram. - Somos amigos - começou James. - Estamos aqui reunidos para fazer contato com o além... Há algum visitante neste copo que queira conversar conosco?Os dedos indicadores dos quatro amigos sentiram um leve tremor vindo do copo. - Tem alguém entre nós?Lentamente a princípio e velozmente em seguida, o copo percorreu a mesa e tocou de leve no papel onde estava escrito SIM.Mary sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha e olhou de lado para o marido. Joe franziu o cenho, como a pedir-lhe silêncio. - Quem é você? - perguntou James, solenemente.O copo tremeu, mas parecia indeciso. - Você é homem ou mulher?O copo arrastou-se lentamente para a letra M e voltou para o centro.Era suficiente. - Mulher? Como é seu nome?Rapidamente, o copo soletrou:C-L-É-L-I-A - Muito bem, Clélia - continuou James. - Qual a sua idade?O copo avançou e tocou no número seis."Agora vai para a unidade", pensou Joe, brincando nervoso consigo mesmo. "Deve ter mais de sessenta anos... Ou seiscentos, se for um fantasma antigo..."Mas o copo voltou para o centro.

- Seis ou sessenta e poucos anos? Quantos anos você tem, Clélia?O copo voltou a tocar o número seis e retornou ao seu lugar. - Seis anos só? Você é uma menininha, Clélia?O copo começou a vibrar. - Queridinha - disse James, como se falasse mesmo com umacriança de seis anos. - Aqui você está entre amigos... Num repente o copo voou em busca das letras. Tocava freneticamente os papeizinhos, tornando até difícil acompanhar as palavrasque soletrava:S-O-C-O-R-R-O E-S-T-O-U M-O-R-R-E-N-D-O James entrou em pânico: - Socorro?! O que é isso? Você está morrendo? Como pode ser?Onde está, Clélia? Vamos, fale! Onde está você? O que está acontecendo?O copo girou lentamente, circulou um pouco no centro da mesa edepois, letra a letra, com calma, soletrou:T-A-R-D-E P-A-Z Voltou devagar para o centro da mesa e ficou imóvel.Apesar do frio, gotas de suor brotavam do rosto de James. Ele pôs-sede pé, falando desesperado como se o copo tivesse vida: - Clélia! Fale comigo! Onde você está? Clélia, por favor! Quem évocê? Volte! Clélia! Não nos deixe! Viva, querida! Nós precisamos que você viva! Não nos deixe, menina!Sob os dedos gelados de pavor dos quatro amigos, o copo estavaimóvel como se estivesse colado à mesa.De pé, James escondeu o rosto nas mãos.Lívido, Joe levantou-se e encarou as duas mulheres, que estavam com os olhos arregalados, como se tivessem visto, de verdade, uma menina morrer. - Foi no hospital Samaritano... Eu tenho certeza...Mary agarrou o braço do marido: - Como... como você sabe, Joe? - Não sei... não sei por que sei... só sei que sei... foi no Samaritano... agora mesmo...Helena levantou-se e correu ao telefone. Discou "informações" e logo em seguida estava discando o número certo.

Os outros três, paralisados, mal ouviam Helena, que falava muito baixo ao telefone. Depois de pouquíssimo tempo, desligou.Caminhou lentamente para o lado dos amigos. Tocou o ombro de James, o braço de Joe e encarou devagar a todos os três, que esperavam,de olhos fixos, sem nada conseguir dizer. - Agora mesmo... me informaram... no Samaritano... uma menina, com leucemia... na UTI... acabou de falecer...Abraçados, os quatro amigos deixaram as lágrimas lavarem suas almas.Lá fora, a chuva continuava.

It Has Called Darkness, My LoveWhere stories live. Discover now