Capítulo 04

685 77 14
                                    

"Os alimentos foram feitos para o estômago e o estômago para os alimentos, mas Deus destruirá ambos. O corpo, porém, não é para a imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo. –1 Coríntios 6:13


O escuro era bem-vindo. Eu gostava de dormir no escuro, mas minha bexiga tinha ideias diferentes. Eu precisava levantar. Quando pensei em erguer a coberta que estava em cima do meu corpo, senti algo estranho na minha cintura, no meu ombro e na minha perna direita. Era algo estranho, tão estranho quanto poderia parecer um corpo enroscado ao meu.

Não precisei de nenhum segundo antes de perceber que eu estava na cama da Aurora e ela estava dormindo agarrada em mim. Precisei de mais de trezentos segundos para acalmar meus hormônios matinais. Não é porque eu havia feito um voto de castidade, que meu corpo masculino funcionava de forma diferente. Assim como qualquer homem normal e saudável, eu também acordava com uma ereção, e o fato de saber que Aurora estava enroscada em meu corpo dificultava ainda mais a situação.

Com toda a delicadeza que consegui reunir no meu corpo de quase um metro e noventa, com uma ereção e uma bexiga cheia, removi o braço de Aurora da minha cintura, assim como sua perna que estava entrelaçada a minha. Retirar sua cabeça do meu ombro foi um pouco mais difícil.

– Você ia embora sem nem se despedir, que coisa feia. – Aurora murmurou ainda de olhos fechados enquanto eu tentava tirar meu braço de baixo do seu pescoço e assim tirar sua cabeça do meu ombro.

– Na verdade eu estava tentando levantar e ir ao banheiro sem te acordar.– Respondi baixinho.

– Depois você ia voltar para a cama comigo? – Seu sorriso e olhar sonolento quase me desarmaram.

– Na verdade não. Eu iria tentar entrar no meu apartamento ou iria tomar café na padaria. – Respondi ao me levantar.

– E o que você vai fazer com isso aí? – Aurora apontou para as minhas calças. – Como um celibatário se resolve?

Eu nem precisei me olhar no espelho para saber que estava mais vermelho que um tomate. Cogitei sair correndo, mas achei um tanto quanto infantil. Pensei em puxar a coberta e esconder a prova da minha situação, mas corria o risco de ver o corpo exposto da Aurora e isso com certeza iria piorar tudo. Sem ter outra opção viável, a encarei com toda a dignidade que encontrei.

– Não vou fazer nada. Isso é apenas uma reação normal do corpo humano e daqui alguns minutos estarei com meus hormônios controlados.

– Tudo bem. Se precisar de uma mãozinha é só chamar.

Nem me dei ao trabalho de responder a seu duplo sentido, apenas caminhei para fora do quarto e fui em direção à porta que acreditei ser o banheiro. Para minha sorte, era realmente o banheiro. Depois de alguns minutos lutando para conseguir urinar enquanto mantinha uma ereção, o que posso dizer, não é uma coisa fácil, já que basicamente estou apontando para o lado errado de onde deveria,consegui esvaziar minha bexiga e lavar o meu rosto. Mesmo contra minha vontade, sai do banheiro e me preparei para as duas coisas que eu não queria naquele momento: encontrar Aurora com uma micro camisola e entrar no meu apartamento cheirando a lavanda.

Graças ao Senhor, Aurora não usava mais a camisola e já havia colocado uma roupa de academia antes de sair do quarto e passar por mim em direção ao banheiro.

– Antes de voltar para o seu apartamento, me deixe ir lá e abrir as janelas para arejar um pouco, ou você vai ter outra crise alérgica.

– Tudo bem.

Sem ter muito que fazer, caminhei de volta para a sala e encontrei minha mochila jogada em um canto do sofá. Tirei de lá o notebook que graças à capa protetora e algum dos meus anjos da guarda, não quebrou na noite de ontem, uma vez que eu nem ao menos lembrava que estava de mochila ao vir para casa depois de sair do pronto atendimento.

Miguel - (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora