Capítulo 03

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"Mas,vocês devem ser fortes e não se desanimar, pois o trabalho de vocês será recompensado".– IICrônicas – 15:7


Na manhã seguinte, quando meu celular tocou seu alarme me despertando às seis da manhã, implorei para que fosse apenas um pesadelo e assim eu pudesse dormir mais um pouco, então veio o silêncio e eu afundei em meu sono novamente. Cinco minutos depois, quando o celular voltou a despertar, percebi que não era um pesadelo, estava sim na hora de levantar.

Com certa dificuldade consegui me descompactar do sofá de dois lugares.Minhas costas protestaram quando tentei me esticar. Meu pescoço doía e eu tinha a costura do braço do sofá marcada em meu rosto.

– Quem mandou ser cavalheiro. – Resmunguei enquanto lavava o rosto no banheiro.

Com muito cuidado para não fazer barulho, entrei em meu quarto e peguei minha roupa e minhas coisas. Acabei me vestindo na sala mesmo. Antes de sair, escrevei um bilhete para Aurora.


"Vizinha,

O chaveiro não apareceu. Na frente da escola onde leciono há outro chaveiro, vou pedir para ele vir até o seu apartamento. Enquanto isso, não vou te deixar sem teto. Você pode ficar no meu apartamento. Sinta-se em casa e não espere encontrar comida na geladeira.

Vou anotar meu telefone caso precise me ligar. Eu sei que você perdeu seu celular, mas ainda existem telefones públicos (alguém ainda chama de orelhões?) na cidade, se você procurar irá encontrar algum. Ou pode pedir o telefone emprestado de alguém.

Te aconselho que não peça a dona Gertrudes, pois devido a boa audição dela, você não é sua vizinha favorita.

Bom dia.

Miguel"


Anotei o número do meu telefone e deixei o bilhete em cima da mesa.Tranquei a porta com a chave reserva. Já passava das seis e quarenta e cinco quando entrei na padaria para tomar o café da manhã.

– Bom dia Miguel. O mesmo de sempre? – Marilene, a filha da dona da padaria me perguntou.

– Bom dia Mari. Sim, o mesmo de sempre, por favor.

O mesmo de sempre consistia em um copo de café com leite e um misto quente. Esse era meu café da manhã desde o primeiro dia em que vim aqui.

– Eu achei que a essas alturas você já teria enjoado de comer sempre a mesma coisa. – Mari brincou comigo.

– E eu pensei que com a minha idade eu já saberia preparar uma refeição sozinho.

Dei de ombros e Mari riu enquanto preparava meu misto quente. Todos os dias eu a via preparar o pão com margarina, colocar o queijo e o presunto, em seguida colocar o sanduíche na sanduicheira. Todos os dias eu olhava, pensava que era fácil, que conseguiria fazer isso sozinho, mas todos os dias eu deixava para lá e não fazia.

Ainda pensando se deveria ou não fazer meus próprios mistos quentes,tomei café na padaria e caminhei até a escola. Uma caminhada de dez minutos e que sempre me fazia bem, pois dava a possibilidade de ver os alunos interagindo com seus pais e colegas em frente à escola.Naquele dia eu não pude observar muito, pois ainda tinha que passar no chaveiro. Quando cheguei em frente ao chaveiro, o encontrei fechado e como era sete e vinte da manhã, não estranhei, afinal ele deveria abrir após às oito. Me comprometi a voltar quando chegasse a hora do recreio.

Minha primeira turma começava às sete e meia e era uma turma de oitava série. Eu estava trabalhando com as turmas temas como a visão de mundo e opiniões de dois grandes pensadores, um clássico e outro mais atual. Meu foco era apresentar os pontos de vista de cada um deles em relação a determinados assuntos e assim fazê-los questionarem-se sobre o que eles consideram o certo, baseado no tema e na opinião de cada pensador. Eu estava bem feliz com o curso que minhas aulas seguiam, e a forma como os alunos debatiam os temas em sala de aula.

Miguel - (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora