Capítulo 10

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"Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo. "Honra teu pai e tua mãe" – este é o primeiro mandamento com promessa." – Efésios 6:1-2

No sábado durante o dia, Aurora passou várias horas limpando o próprio apartamento. Ela parecia uma maníaca compulsiva por limpeza. Após minhas aulas de catequese, passei em seu apartamento para ver se ela queria ir ao supermercado comigo, comprar algumas coisas pra levar na viagem, e quase tive meus olhos arrancados, pois eu havia pisado no chão que ainda estava molhado.

– Como eu iria adivinhar que estava molhado se não há uma placa ou nada disso. Não tenho olhos biônicos, sabia? – Perguntei esfregando o braço onde ela nada gentilmente bateu com o cabo do rodo.

– Foda-se. Eu estou passando pano, você não viu? Agora o chão está cheio de marcas de sapato...

Ela esfregava com afinco, retirando uma marca que era invisível aos meus olhos, mas que para ela parecia brilhar em luzes de neon.

– Tudo bem, Aurora. Eu estou indo ao supermercado comprar algo para levar na viagem. Quer alguma? – Perguntei do lado de fora da porta, com o corpo todo inclinado pra frente, vendo-a ajoelhar-se e começar a esfregar o chão com a mão.

– Por que você teria que comprar alguma coisa para a viagem? Quanto tempo é daqui até a cidade onde sua mãe mora?

Precisei de um minuto para entender o que ela tinha perguntado. A visão dela ajoelhada, esfregando o chão com um pano não seria nada de mais, se ela não estivesse de costas pra mim e usando um short preto de um tecido que seria capaz de imobilizar um osso quebrado, de tão justo que era.

– Deus é justo, mas essa sua roupa ganha. – Murmurei e tentando tirar esse tipo de pensamento da minha mente e de outras partes da minha anatomia, respirei fundo e fechei os olhos.

– Como é? – Aurora perguntou, olhando por sobre o ombro e sorrindo diabolicamente.

Era demais para mim.

– São seis horas, então se quiser alguma coisa, me liga. – Falei ao me virar e caminhar em direção as escadas do prédio.

Eu precisava de ar frio e puro. Eu precisava de espaço e um banho não seria uma ideia ruim também.

– Seis horas?

Ouvi Aurora gritar e sorri. Ela com certeza acharia uma viajem muito longa.

Mais tarde no mesmo dia, cheguei até o apartamento de Aurora para pegá-la e irmos para a rodoviária. Sua porta estava apenas encostada, como ficava com frequência nos últimos tempos.

– Vamos Aurora?

– Só mais um minuto, estou terminando de arrumar minhas coisas. – Ela berrou do quarto.

– Suas coisas? Que coisas? Vamos chegar lá de madrugada e voltar amanhã à tarde. Não tem coisa nenhuma para levar. Só a sua bolsa.

– Minha bolsa, escovas de dente, uma outra roupa caso eu suje a que estou, um calçado mais confortável, escova de cabelo, batom e camisinhas...

– Camisinhas? Você não está pensando em conhecer alguém lá, não é? – Perguntei alarmado.

– A gente nunca sabe, é sempre bom estar preparada. – Tenho certeza que fiquei roxo de raiva só de imaginá-la com outro, pois Aurora se compadeceu de mim e riu.

– Estou brincando, Miguel. Não estou planejando conhecer ninguém lá, mas a parte de levar camisinha é verdade. Vai que você muda de ideia...

Miguel - (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora