Capítulo 07

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"Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida." - Tiago 1:5

Aurora sumiu pelos dois dias seguintes à noite das trovoadas. Eu não ouvi barulho no seu apartamento e não houve troca de mensagens entre nós. Eu tentei dar o espaço que ela queria, mas na noite do segundo dia, eu não resisti. Eu precisava saber como ela estava e porque havia sumido. Eu queria vê-la.

"Oi. Tudo bem?"

Mandei a mensagem e fiquei aguardando com o coração acelerado a sua resposta, que eu sabia que viria em breve.

Eu esperei. Esperei um pouco mais, e nada dela responder. Mandei outra mensagem.

"Cadê você, berrona?"

Provocá-la era o meio mais fácil de fazê-la falar comigo, então tentei fazer isso. Quando ela ainda assim não respondeu, comecei a me preocupar.

"Você está chateada comigo?"

Mandei e esperei. Liguei a televisão e tentei me distrair. A cada quinze segundos, mesmo contra a minha vontade, meus olhos se voltavam para a tela do celular. Novamente repassei nossa noite juntos, o que só serviu pra me deixar excitado e ainda sem nenhuma ideia do porque ela estaria chateada comigo. Ela não deveria ficar chateada uma vez que foi ela quem interrompeu o beijo e me fez lembrar dos meus votos.

– Que merda... – Murmurei ao olhar novamente para o celular e na mesma hora eu sorri. Pelo visto Aurora estava me ensinando alguns palavrões. Isso não era nada bom.

Troquei de canal várias vezes em busca de algo para assistir e não encontrei nada. Levantei e fui em busca de um livro. Nem mesmo o suspense policial que eu vinha lendo nos últimos dias me fez tirar os olhos do celular, então como medida extrema, acionei o volume máximo do toque do celular e o deixei sobre a cama no meu quarto. Pegando minha mochila, voltei a sentar no sofá e comecei a corrigir alguns trabalhos dos meus alunos.

Meu pé batucava inquieto, minha mente se recusava se concentrar, me obrigando a reler várias vezes o mesmo parágrafo e minha mente sempre voltava para a noite em que Aurora e eu nos beijamos.

Eu ainda não havia pedido perdão a Deus por ter quebrado parte da minha promessa, mas como poderia pedir perdão se eu não me sentia verdadeiramente arrependido? Meu lado racional sabia que eu deveria me arrepender e clamar pelo perdão, mas havia algo em mim, no sorriso que grudava no meu rosto sempre que eu pensava naquela noite, que não me permitia sentir como eu tivesse realmente cometido um pecado ou algo do qual eu precisasse me redimir. Deus conseguia ver o que havia dentro de mim e seria ainda pior pedir perdão por algo que eu realmente não me arrependia e, sendo totalmente honesto, desejava que pudesse voltar a acontecer.

Desistindo de executar qualquer atividade que exigisse o mínimo de concentração, resolvi tomar um banho e então sair de casa um pouco. Ao passar pelo meu quarto, a caminho do banheiro, resolvi olhar o celular mais uma vez. Vai que ele está com defeito e não tocou, ou tocou e o colchão abafou o toque. A decepção de ver que não havia nenhuma ligação ou mensagem me fez enxergar que o celular estava funcionando bem, eu é que não estava em meu estado normal.

Com raiva de mim e começando a ficar irritado com Aurora, resolvi dar minha última cartada. Se não desse certo, eu iria deixar para lá e arrumar uma forma de tirá-la da minha mente, pois seria a prova de que ela havia desistido de tentar ficar comigo.

Achando seu nome na agenda do celular, completei a ligação e aguardei impacientemente. Foi direto para a caixa postal. Bufei irritado e joguei meu celular em cima da cama novamente, caminhando a passos largos até o banheiro.

Miguel - (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora