Todo dia era dia de briga lá em casa, na maioria das vezes eu fazia parte - em alguns casos de intrometido mesmo, nem era comigo, mas eu me colocava no meio. Era um tipo "Papa-briga", onde eu passava tudo virava confusão, as coisas sempre acabavam ruins perto de mim - pelo menos foi o que passei a crer.
Na rua, na escola e em casa alguma desavença eu tinha que ocasionar, o pior é que não era voluntariamente. Eu simplesmente atraía coisas ruins, chegou ao ponto de eu ouvir as pessoas falarem o seguinte para mim:
- Você merece ficar sozinho, você só causa tristeza na vida dos outros.
Aquilo mexeu muito comigo, isso porque não foi apenas uma pessoa que proferiu semelhantes palavras. Uma vez até minha professora disse algo parecido, eu, já crente de que era um "amaldiçoado", interpretei da maneira errada.
- Você devia ficar sozinho - afirmou minha professora quando eu finalmente tirei uma nota boa na matéria dela. - Sozinho você faz a lição.
O que ela queria dizer é que no meio da bagunça eu jamais teria notas boas, porém a ideia de que eu estava predestinado a morrer sozinho fazia parte de mim tanto que me acostumei. Até a profissão que escolhi era solitária. Desenhista de mangá. Esse tipo de pessoa passa boa parte do tempo trancado no quarto ou escritório tendo como companhia apenas os personagens criados em mente e transpassados para o papel. Eu mesmo nas férias desenhava 10 horas por dia, o resto do tempo eu lia ou assistia animes, mangás e dormia. As vezes esquecia até de comer. Sair de casa, só para ir até a banca ou à padaria. Meu vício não era tão diferente dos do meu irmão.
Por falar nele, quando se afundou nas drogas nossa relação de irmão tornou-se zero. Chegamos ao ponto de brigar sempre que um dirigia a palavra ao outro - as vezes um olhar era o sulficiente para se iniciar um pandemônio. Em determinada ocasião fui falar com ele e a resposta foi um chute no meu peito. Qualquer coisa por perto servia de arma, de faca até uma bengala - que por sorte ele quebrou na porta ao invés das minhas costas.
Nesse caso, não havia quem estivesse com a razão, meu irmão se achava no direito de fazer o que fazia e por que eu seguia outro caminho pensava que podia apontar o dedo para ele. Por ser mais novo a defesa sempre era em favor dele, confesso que muita vezes injustas. Eu, até hoje, não tenho certeza, mas minha mãe guardava algum rancor de mim, mágoa da qual não tinha culpa. Creio que seja ódio mal direcionado, pois eu me pareço fisicamente com meu pai, então ela deveria ver ele em mim. Quantas não foram as vezes que olhou torto para meus desenhos - meu pai também desenha - e quantas não fora as vezes em que me cobrou algo que era tarefa de um pai.
- Vai atrás do seu irmão! - insistiu minha mãe em uma noite - É culpa sua por ele estar na rua.
Eu fiquei muito bravo nesse dia, era onze da noite eu teria que levantar cedo para ir para a escola e o que eu tinha haver com meu irmão estar na rua? Foi escolha dele e falta da educação de um pai( e ação do diabo também). A briga se estendeu, porque eu não aguentava mais ser cobrado de algo que não era minha responsabilidade. Para piorar minha mãe disse que eu devia ficar na rua com ele para olhá-lo. Grande absurdo. Eu tinha sonhos, não os mais nobres, mas era o que me mantinha vivo. Seria obrigado a largar tudo para olhar um filho que não era meu? Com certeza não.
Exaltado liberei tudo que estava dentro de mim. Fui até longe demais, xinguei minha mãe de coisas que não se diria nem ao pior dos animais. Dentro de mim havia ódio e somente isso. Toda culpa sempre caía para mim: as notas ruins do meu irmão, o vício dele, a rebeldia e todos os problemas que ele trazia, eu recebia a culpa. Ninguém brigava com ele, mas o davam liberdade, quanto a mim, se estudava era cobrado, se perseguia meus sonhos era ridicularizado eu não me sentia parte da familia, na escola não tinha amigos ou namorada. Tudo que possuía era um sonho, o de tornar tudo melhor. Tinha sede de ajudar minha familia, amigos, o mundo.
Houve dias em que eu chorava enquanto desenhava. Que hipocrisia, mas me assimilava ao Senhor Jesus que sofreu por todo o mundo, cria que estava sacrificando minha vida também.
Mas voltando a discussão, naquela noite eu ouvi as piores palavras que um filho poderia ouvir de sua mãe:
- Por que você não morre? Não devia nem ter nascido.
Fiquei em choque, a que ponto chegamos? O que eu havia feito, como pude chegar à essa situação? Troquei de roupa e sai de casa tarde da noite, sem rumo. Uma única coisa martelava em minha mente, " Por que você não morre?"
Em outras ocasiões já havia pensado em suícido - cheguei a apontar um facão contra mim mesmo, mas não fui ao final.
Naquela noite eu travei uma batalha dentro de mim.- Não quero mais viver, não quero mais viver! - repetia enquanto caminhava. Inúmeras sugestões de suícidio me vieram à mente cada uma pior que a outra, foi então que parei e olhei para o céu iluminado pelo luar e o brilho das estrelas.
- Meu Deus me mata porque eu não tenho coragem de me matar!
Sim. Eu pedi para Deus tirar a minha vida, mas como podem ver não foi isso que ocorreu, porém não significa que Ele não tenha ouvido meu pedido. Por fora eu pedi a morte, mas por dentro a alma clamava por socorro e foi isso que Deus ouviu. Hoje sei que a resposta Dele foi sem dúvida:
" Eu te darei uma nova vida"
Cá estou eu, vivo, no entanto para nascer de novo fora necessário que eu morresse.
""" Deus é bom, justo e misericordioso para te salvar, basta reconhecer que está perdido. Sei que fiz muita coisa ruim, mas hoje serve para mostrar de onde Deus me tirou. Marque algum conhecido que se encontra perdido, pois se para mim teve chance, haverá para outros também. Obrigado por lerem, Deus abençõe. """
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Meu Encontro Com Deus
SpiritualTodo ser vivo necessita de algo para ser preenchido. Plantas precisam da luz do sol, animais de alimento, parasitas de corpos para morar. Mas e o ser humano? É notório que o desenvolvimento do mundo se da por meio do anseio pela plenitude, pela sati...