- Sozinho? -

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     Depois de falar com Deus, tudo que podia fazer era confiar e esperar. Se nem o Senhor Jesus pudesse me ajudar, quem o faria? Com certeza não meus familiares e tão pouco os colegas de classe.

     Em casa, definitivamente não seguiamos o modelo tradicional de familia. Ao invés de nos unirmos para enfrentarmos as dificuldades juntos, um atacava o outro julgando e criticando - Aliás, foi por conta das brigas que minha mãe foi morar com uma colega - Para evitar problemas, eu mesmo tomei a decisão de largar o curso de informática, iniciado apenas há três semanas antes da internação da minha mãe. Deixei hobbies de lado, me dediquei mais aos estudos e passei a procurar emprego sem qualquer formação ou direção.

     Na escola, eu permanecia distante e quieto - como sempre - porém para algumas pessoas isso pareceu estranho e ao invés de buscarem entender, simplesmente começaram a me zoar. Talvez porque em casa não tinhamos diálogo, adotei comportamentos fechados em sociedade. Não confiava em ninguém, o que me levou a ocultar a angustia que me assolava. As zoações só pararam quando contei o que estava acontecendo. Em vez de receber apoio, ficaram em silêncio, menos mal - eu acho.

     Todos os dias eu visitava a minha mãe no hospital, quase sempre era ela quem falava, pois eu não sabia o que dizer. Nunca fui otimista, o tipo de pessoa que motiva alguém à algo. As visitas duravam miseros trinta minutos, mas ainda assim eu queria sair correndo de lá. Detestava hambientes hospitalares e ver minha mãe ali onde morria gente a cada dia, era apavorante.
      Pouco depois saiu o diagnóstico, a endoscopia - feita com muito trabalho, devido à saúde precária da minha mãe - revelou o motivo de tantas dores no estomâgo e dos vômitos constantes. Na época eu não sabia o que era, mas o exâme diagnosticou que minha mãe tinha uma úlcera ( um tipo de ferida dentro do estomâgo ), essa ferida, até onde sei, ocorre por meio da má alimentação e do uso excessivo de bebidas alcólicas. A segunda opção certamente foi a razão por trás da enfermidade. Depois da separação, minha mãe passou a beber quase todos os dias, o vício só diminuiu quando ela começou a trabalhar.

      Enfim, se não me engano, de maio até o fim do ano, minha mãe passou no leito hospitalar, mas foi transferida para outra cidade para que os tratamentos necessários fossem realizados. O novo hospital era sem dúvida melhor, mas uma nova notícia piorou tudo. Lá, minha mãe fez outros exâmes e dessa vez não só a úlcera foi constatada como também cancêr e pedra nos rins. O médico avisou somente a familia que ela teria apenas mais oito meses de vida.

     Oito meses, eu repetia em meu pensamento. Câncer, minha avó materna havia morrido com o mesmo tipo de doença. Se a situação parecia difícil, tornou-se impossível. Ainda que minha mãe viesse a falecer, com a transferência sequer podia vê-la, o hospital se localizava em outra cidade. Sem dúvida não fui o mais chocado. Não posso dizer que meu irmão - na época com quinze anos - não se abateu, do contrário hoje vejo que a reação dele foi devido ao choque emocional.

     Além das brigas e doenças um novo problema surgiu. Meu irmão Rafael se afundou nos vícios das drogas, faltava quase todos os dias na escola e quando ia, aprontava. Parecia que o inferno era na minha casa, mas aos poucos a situação foi mudando. Enquanto estava na Santa Casa de Santa Isabel, minha mãe ouviu palavras de fé e motivação vindas de pessoas que levam a palavra de Deus para aqueles que esperam a morte no leito hospitalar.

     As visitas vieram de todas as partes, é só o que posso afirmar. Não sei dizer quais os membros de quais denominações se puseram a ajudar em oração, mas fato é fato. Minha mãe, assim como todo mundo, não queria morrer, então manifestou a fé em Deus no hospital mesmo. Meses depois o milagre já estava àvista, ela havia recebido alta. Permaneceu na casa da minha tia, pois os tratamentos continuariam e somente no ano seguinte estaria de volta em casa.

    Deus havia operado. Nisso eu tive certeza, mas quem disse que meu coração havia se quebrantado. Já não estava tão cético quanto antes, passei a dar credito à Deus. Mas ir buscá-lo ainda não estava nas minhas decisões. Tinha maus olhos contra as igrejas. Nenhuma em particular, apenas não queria frequentar igrejas.

   Posso buscar em casa - Eis a desculpa de muitos, hoje sei que sem acompanhamento, ter encontro com Deus sem ir à igreja é tarefa difícil - para não dizer impossível - Com esse pensamento mais o que o mundo incrementava dentro de mim. Jamais pisaria em uma igreja. E continuei longe de Deus até que fosse necessário atitudes extremas.

      """ Não vou prolongar como tudo aconteceu, porque quero evitar fugir do assunto, apenas descreverei com mais afinco os fatos que mais foram marcantes. Espero que possam aproveitar a leitura e compartilhar com seus comentários. Que Deus abençõe. """

    Leonardo N. Silva

Meu Encontro Com DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora