Ato II - Primavera de 2005

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- Eu que deveria estar dizendo isso não acha? - Seu tom foi tão sarcástico quanto o do mais velho, em seus olhos, brilhou um olhar possessivo e assassino. - Afinal... ele é meu.- o silencio dominou o lugar e Ronald continuou atônito a situação. Depois de alguns instantes, Claude se afastou do aluno e pigarreou.

- Certo... fique a vontade - disse sorrindo cinicamente. "Criança maldita" praguejou enquanto saia a passos duros do lugar, amaldiçoando o garoto mais algumas vezes. Tristan seguiu o homem com os olhos, porém ambos esperaram até que o professor não estivesse mais em seu campo de visão para que pudessem conversar.

Assim que o fato aconteceu, Ronald finalmente se moveu e respirou, soltando um suspiro aliviado. Seus olhos correram o corpo do outro, analisando-o. Tristan é um rapaz alto de cabelos escuros, quase negros, que caiam bagunçadamente sobre sua tez clara e limpa, encobrindo, dependendo do ângulo, seus olhos estreitos, de íris mel, quase dourados, semelhantes a cristais de âmbar. Veste-se, nesta ocasião, com uma jaqueta de couro e calças justas, assim como com coturnos de couro, todos os itens em preto, num tom tão escuro quanto o breu.

Então, os olhos cinzentos de Ronald se encontraram com os brilhantes orbes mel, cores tão nobres, prata e ouro, juntos numa mesma aquarela, era digno dos deuses. Sem darem-se por conta, os rapazes se aproximavam, porém um chute acidental em uma pedra de tamanho insignificante, ambos notaram sua proximidade e quebraram o contado visual.

- Até que em fim... por que você demorou tanto? - O aloirado repreendeu outro enquanto sacava um cigarro de seu bolso. Tristan bufou e revirou os olhos. "E eu lá sou adivinho pra saber que vai estar correndo perigo, donzela?" pensou, porém o que disse nada havia relação com a resposta que lhe estava na ponta da língua.

- Já te disseram que não se pode fumar em área escolar? - rebateu cruzando os braços. Ronald acendeu seu cigarro com o isqueiro e absorveu a nicotina antes de responder e, quando o fez, soltou junto uma camada de fumaça.

- Tsc... e eu achando que ia dizer algo pelo meu risco de ter câncer ou qualquer outra doença por fumar, é uma maravilha saber suas prioridades... - seu tom foi de falso ego ferido. Tristan, apesar de não ter caído na conversa do outro, decidiu entrar no "joguinho" dele.

- Mesmo que eu te pedisse, implorasse ou oferecesse fazer qualquer coisa que desejasse, você não largaria esse vicio... - dramatizou. Ao terminar, segurou o queixo do menor com suavidade e delicadeza, inclinando-o um pouco.

- Nós nunca conversamos negociando termos... talvez tenha algo que me possa convencer - um brilho luxurioso se fez presente em seu olhar e recebeu um pintado da mesma forma de volta.

- Tsc, você não iria ceder. - disse Tristan, desviando-se dos olhos de Ronald. O menor decidiu que não queria brigar então jogou o cigarro no chão e o amassou.

- Está bem, está bem, agora vamos... está ficando frio. - resmungou colocando-se debaixo de um dos braços do outro. Tristan maneou a cabeça a fim de encosta-la sobre a do menor e suspirou.

- obrigado. - sussurrou, com pequeno sorriso brincado em seus lábios. Ronald teve um leve rubor lhe encobrindo as bochechas. "Chato. Meu chato."

Eles andaram pelo estreito caminho entre os dormitórios 2 e 3 naquela mesma posição, apenas sentindo o calor dos corpos um do outro, numa conversa muda, onde dois corações batiam num mesmo ritmo, numa mesma melodia.

Instantes depois eles já estavam na frente do dormitório de numero 2. Ronald estava um pouco pensativo e Tristan respeitava já que ele, apesar das manias arrogantes e o gênio infantil, era muito recluso. "Maldito" praguejou o maior em sua mente, ao recordar de quantas vezes já havia visto aquela mesma cena se repetir.

Rubro como sangueOnde histórias criam vida. Descubra agora