Capitulo 4

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- Então, por que você me escolheu?- arrisco perguntar. Ele me olha e dá o sorriso de canto maravilhoso. Acho que desse sorriso eu não me canso tão fácil.

- por que eu gostei de você. Quando errei o quarto hoje, acho que foi um dos melhores erros que já cometi, ou teria comprado a primeira garota que visse. Mas vendo você, parece a mais meiga, inocente, fofa, e linda, e eu adoro isso numa mulher. Você tem uma beleza incomparável. E com certeza se tivesse comprado outra antes de te ver teria me arrependido.- sinto minha bochechas corarem e com certeza devo estar parecendo um pimentão.- me fale sobre você, sobre sua família.

- bom, - começo, não faz nem um dia e já estou morrendo de saudades da minha mãe.- eu só tenho minha mãe e meu pai, nunca tive irmãos. Minha mãe é surda/muda, então foi bem difícil quando eu era pequena, mas conforme fui crescendo aprendi libras e nós somos inseparáveis. Bom- me corrijo - quase inseparáveis. Ela cuidou de mim toda minha vida, mesmo quando a situação estava difícil, ela sempre deu um jeito.

Falo lembrando da época em que eu não entendia libras ainda e nós estávamos sozinhas em casa, ela tentava me explicar a matéria que estava complicada, mas eu não entendia, então ela tentou me ensinar como funcionava, o que significava cada gesto, com a ajuda das minhas amigas foi mais fácil e elas acabaram aprendendo também. Dai em diante só ficou mais fácil e nós criamos nossos próprios sinais para algumas coisas.

- eu nunca fui muito apegada ao meu pai. Na verdade nós quase nunca nos falamos, ele passa o dia no trabalho e quando volta para casa come e dorme. É bem raro um momento descontraído entre nós 3. E ele não pode faltar o trabalho ou não teremos como pagar a casa, comida e remedios.- paro de falar e olho para a pequena flor no centro da mesa.

Eu queria que meu pai tivesse ficado mais tempo comigo, seria ótimo, mas infelizmente não era possível. Lembro que ele tinha um emprego melhor, ele ficava mais tempo conosco, mas mesmo assim, a presença dele em casa não mudava muita coisa. Então ele foi rebaixado e teve que viver fazendo hora extra para manter a casa em pé. Havia vezes que passávamos fome, mas nada acontecia comigo pois as meninas me ajudavam. Nunca fui tão grata a alguém quanto a essas três mulheres.

Sinto algo acariciar meu rosto e percebo que é sua mão.

- não chore, não gosto de te ver assim.- olho para cima e percebo que meu rosto está molhado. Ele afasta a mão lentamente e eu seco com o pano ao lado do prato.

- me desculpe.- peço, - não percebi que estava chorando. - Arrumo o pano de volta no local e o garçom chega com as bebidas e enquanto ele coloca o vinho para Philip o mesmo fala.

- não tem o por que se desculpar, não fez nada de errado.- ele agradece o garçom, que coloca minha água. Percebo que ele ( o garçom ) está olhando demais para mim, mais especificamente para meus olhos.- com licença, pode se retirar agora.- Philip diz para o garçom, que se distrai e acaba deixando cair água em minha roupa.

- mil perdões senhorita,- diz o coitado tentando me secar, caiu em minha coxa e ele tenta desesperadamente arrumar o estrago.- sinto muito mesmo, não foi minha intenção, eu me distraí e...- não o deixo terminar.

- por favor, não tem problemas deixa eu só...

- como assim não tem problema? Sai de perto dela, se manda, e manda outro vir aqui, não você.- diz Philip, ele se levanta e vem para perto de mim, empurra o garçom que sai cambaleando e se desculpando. Deve ser novato.- que imbecil, está tudo bem?

- sim.- respondo, vejo seu rosto vermelho de raiva. Ele realmente tem ciúmes.- mas não precisava ter feito isso com ele, ele só se distraiu, é normal as pessoas pararem para verem meus olhos.- falo me secando, ele se agacha e começa ele mesmo a secar, e eu não me movo.- e acho que chamou muita atenção.- falo no seu ouvido.

Ele olha em volta e percebe que a maioria das pessoas nos olham agora.

- não se preocupem pessoal, - se levanta - está tudo bem aqui, podem voltar ao que quer que estivessem fazendo, desculpem o pequeno show.- diz sorrindo, se agacha termina de me secar.

O ato de intimidade me assusta um pouco, principalmente em público, mas me lembro que pertenço a ele. Se senta de volta na cadeira e espero até seu rosto voltar ao normal. Pego sua mão e sinto sua pulsação, minha mãe me ensinou a medir pulso então vou saber se está muito bravo ou não. Está bem rápido, e percebo que ele olha cada movimento que faço, o que me faz sorrir. Aperto sua mãos e espero se acalmar.

- por que está rindo?- pergunta sério, o que me faz parar na hora.- não precisa parar, eu gosto, adoro seu sorriso.- vejo seus olhos brilharem quando diz isso. E acaba me escapando outro sorriso, só que mais tímido. Nós ficamos quietos por um momento e ele olha fixamente nos meus olhos.- realmente, é impossível não se distrair com seus olhos. De quem os herdou?

- do meu pai.- falo. Ele fica em silêncio por um tempo e se inclina para a frente e, quando abre a boca para falar, ouço alguém falar atrás de mim.

- damas e cavalheiro, um minuto de sua atenção por favor.- olho para Philip e ele se encosta de volta na cadeira. Eu olho por trás do meu ombro e vejo o mestre de cerimônias em frente à fonte com um microfone em mãos.- ótimo. Não sei se todos sabem, mas a moça que é comprada pelo valor mais alto, normalmente faz uma pequena apresentação para todos os convidados. Em todos os outros leilões isso foi feito, e nada mais justo do que fazermos isso esta noite, não?

Ouço todos aplaudirem e concordarem. O que? Como assim? Ninguém me disse isso, eu nunca cantei ou toquei na frente de tanta gente, sempre tive muita vergonha.

- então, o grande troféu da noite foi a senhorita Melissa Queen. Será que a senhorita gostaria de fazer uma pequena... Apresentação a todos?- pergunta olhando para mim, as pessoas continuam concordando e aplaudindo.

Eu não sei o que fazer. Olho para Philip e o vejo tão surpreso quanto eu. Pergunto com um olhar o que devo fazer e ele se aproxima de mim, acho que percebeu minha inquietação, mexo nervosamente em meus dedos e engulo em seco.

- se você não estiver a vontade não precisa fazer nada.- tenta me confortar.

- aaaah, vamos, seria tão vergonhoso se não o fizesse.- o m.c tenta me "encorajar".

Na minha escola nós temos que aprendemos a tocar pelo menos um instrumento. Eu sei violão e canto, mas nunca me apresentei para muita gente, somente para minha mãe que sempre me encorajou, e meus colegas de classe que viviam tirando sarro de mim, pois quase ninguém escolhia canto e quando aprendíamos musicas novas tínhamos que apresentá-las para a turma para perder a vergonha, mas nunca me ajudou muito.

Mas agora eu cresci, minha voz melhorou e eu me dediquei muito a música, principalmente as que eu própria componho. Isso pode me fazer passar um grande mico ou a me deixar mais solta. Não quero envergonhar Philip, ele me parece ser tão legal.

- não me envergonharia nada ok? Se quiser ou não a escolha é sua.- diz tocando meu braço. Mesmo com essas palavras doces, acho que seria vergonhoso.

- o que me diz?- pergunta novamente o m.c. Respiro fundo e respondo antes que me arrependa.

- tudo bem,- me viro para ele que está sorrindo para mim- eu faço.

- maravilha.

my PreciousOnde histórias criam vida. Descubra agora