Capítulo 6 - Coincidências

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A aula pareceu durar uma eternidade, eu olhava pro relógio do celular furtivamente sempre que podia. Mas não sei por que estava tão ansiosa. Só íamos estudar, ele tinha deixado claro daquela vez que não iria se repetir. Mas ainda sim, meu coração batia rápido.

-algum problema mocinha? - disse a professora de português ao me pegar com o celular na mão.

- nada - sorri grande, meio sem graça - só tô vendo a hora.

- até onde eu saiba, essa é a última aula de vocês hoje. não há necessidade de pressa. Voltemos as orações no quadro sim?

Virou - se e voltou a explicar a matéria na qual eu não prestava atenção nunca. Português sempre foi meu forte estudando ou não, a aula dela era insuportável, mas ela dava ponto por presença, então eu apenas fingia que estava ligando pro que ela falava. Respondia algumas perguntas e ela não me perturbava muito.

Depois de fingir corrigir 3 exercícios no caderno o sinal tocou e ela revirando os olhos e reclamando da bagunça da minha turma, nos libertou enfim.

Joguei as coisas na mochila e disparei como uma flecha. Não porque queria chegar rápido ao encontro de Nathaniel, mas por que sempre fazia isso de propósito pra irritar a professora. Mulher insuportável. Cheguei no portão da escola e o encontrei jogando no celular. Estranhei, ele só começava a jogar quando já estava muito entediado. E o professor dele ficava na sala o máximo de tempo possível. A personificação de Hitler.

- desde quando o "fuher" libera vocês cedo?

-não liberou - disse ele tirando os olhos do celular - Ele me expulsou de sala - deu um sorriso malicioso ao dizer a palavra expulsou.

- expulso? Essa é nova...

- pra você, ele quase sempre me expulsa de sala, ainda bem que é inglês e eu sei. Na verdade hoje quebrei meu recorde, fui expulso em meia hora de aula.

- não conhecia seu lado bad boy nath... - disse isso enquanto ele se levantava e se aproximou pra sussurrar em meu ouvido

- tem muita coisa sobre mim que você ainda não conhece.

Seu sussurro, meu ouvido, sua voz, Meu ponto fraco...

Inspirei e disse cética - tá bom, sr. Mistério. Vamos?

- curta e grossa. - riu - Vamos.

Agi normalmente na volta pra casa, peguei um livro e comecei a ler no ônibus, ele ouvia música e compartilhou um fone comigo. Foi como costumava ser, sem pressão, sem olhares furtivos e desconfortáveis. Apenas Olívia e Nathaniel voltando pra casa. Não sabia dizer se gostava ou não daquilo. Chegamos na casa dele, reparei que esqueci de avisar minha mãe.

- Droga! Minha mãe.

- Relaxa Olívia, você tá comigo esqueceu?

- Mesmo assim Nathaniel - fui rapidamente pegando o celular e discando o número dela. Fui atendida de um jeito estranho

- fala - disse rispidamente

- oi mãe, só tô avisando que vou chegar tarde, por que vou estudar.

- estudar mesmo? Ah quer saber, vai filha, vai logo. Eu também vou chegar tarde e não tem janta. Vou trazer pizza ok?

- hm, tá.

-tchau

E desligou o telefone na minha cara. É, foi mais fácil do que pensei.

-Ela disse que tudo bem. E sua mãe?

- Saiu, ela teve que resolver uns assuntos de trabalho e vai chegar bem tarde. - disse pondo a chave na porta.

- e seu irmão?

- vai dormir na casa de um amigo.

E antes que eu pudesse perguntar sobre seu pai, que eu já sabia o paradeiro...

- E meu pai você sabe que já está saindo pro trabalho.

Dito isso desceu Tio Daniel cumprimentando nós dois

- e aí crianças, já tô de saída. Tem comida na geladeira e aquele Danone que você gosta Olívia.

- por que Olívia pai? - disse Nath enciumado.

- porque sou a favorita - dei a língua pra ele - obrigada tio.

- até - se despediu

- tchau - dissemos em coro.

Subimos a escada, e entramos na casa. Tinha algo muito errado naquilo, parecia até planejado... Resolvi ignorar minhas suspeitas e fiz o de sempre. Joguei minha mochila no sofá, tirei os tênis, fui na cozinha e abri a geladeira afim de pegar qualquer coisa gelada. Eu já era de casa então fazia sempre isso e ninguém se incomodava, Nathaniel fazia o mesmo na minha casa.

- acabou a Coca? - disse ainda com a cara na geladeira

- tomei a última lata ontem. - respondeu jogando a mochila dele no sofá também.

Ignorei e peguei um iogurte de soja. Fui até a sala e sentei no outro sofá.

- não sei porquê minha mãe continua comprando esse troço - disse olhando com desdém pra bebida láctea na minha mão - só você toma. Vou tomar banho ok? Não destrói a casa.

Dei de ombros e tentei não pensar nele indo tomar banho, me concentrando no barulho do ventilador ligado, fazia um rangido familiar que sempre me relaxava... Sem sucesso. Terminei o iogurte, fui até a cozinha e joguei a embalagem fora.

Não muito tempo depois ele estava de volta, o cheiro familiar do sabonete dele. Saiu com, ah! Qual é?!, a toalha amarrada na cintura. Respirei fundo e mais uma vez ignorei, resistindo a todas as minhas terminações nervosas e meus hormônios.

- quer tomar banho também? Enquanto isso eu preparo o que eu preciso pra minha prova amanhã.

- ok, só me dá uma toalha, tenho uma muda de roupa na mochila.

- usa essa - tirou a toalha, dei um grito e olhei automaticamente pro outro lado

Posso estar afim dele mas não sou tarada

- calma Olívia! - disse gargalhando logo depois - A bermuda tá por baixo!

Vermelha da cabeça aos pés e irritada com a piadinha peguei a toalha e disse.

- idiota. - rumei ao banheiro.

Liguei o chuveiro, mas mesmo estando calor, tomei banho de água morna. Afim de acalmar os nervos. Não demorei muito, pois Nathaniel podia achar estranho. Troquei rapidamente a água, afim de que ele não reparasse na temperatura do meu banho. O choque térmico doeu, mas não liguei. Sai do chuveiro, coloquei a roupa, dei uma leve escovada nos dentes e sai do banheiro.

Encontrei ele no quarto com uma porção de livros de espanhol espalhados na cama, não parecia tão preocupado, mesmo com os óculos no rosto.

- vamos senorita? - disse em espanhol levantando a cabeça da pilha de livros.

Revirei os olhos

- qual é o primeiro capítulo?

Garotas apaixonadasOnde histórias criam vida. Descubra agora