Capítulo 8 - Uma Curta Primavera

15 1 0
                                    

Quando minha razão acordou, carinhosamente o impedi de deixar sua mão seguir o caminho que ele queria. Ele para de me beijar e me encara

- o que houve Liv? Fiz algo de errado?

- não. - desviei o olhar envergonhada

- então... - senti a frustração em sua voz

- acho que não é a hora pra nós dois Nath. - respondi direta.

Não queria parar, ele também não. Mas eu ainda tinha um pouco de senso para pensar com clareza.

- Nathaniel - fixo meus olhos nos dele -  eu não tenho exatamente palavras para descrever o que eu sinto. Você é especial pra mim de um jeito inimaginável.

Ele sorri e se aproxima. Convencido

Junto todas as minhas forças interiores para afasta - lo. Seu sorriso some

- indo direto ao ponto, eu não sei você, nunca entramos nesse assunto, mas eu sou virgem. -  respiro - não temos nada sério, eu realmente queria que essa experiência fosse com alguém que eu amo.

E me ame de volta, queria ter completado. Mas jamais poderia deixar ele subentender alguma coisa do tipo. JAMAIS.

- me desculpe.

Ele olha pro teto, pensativo. E depois de alguns longos minutos ele sorri e me puxa novamente para si.

- nunca vi você falar tão sério, mas tem razão. Amo você, mas não desse jeito. E só pra você saber: eu também sou virgem. - Ele ri - sabe, com toda sua loucura do dia a dia, as vezes esqueço que você sabe ser mega sensata.

Não ouvi mais nada depois do "Amo você, mas não desse jeito" isso doeu.

Mesmo não sendo o que eu queria, fiz a coisa certa. Minha consciência está em paz. Ambos estamos tranquilos e isso me deixa bem, descanso deitada em seu peito nu, fecho os olhos e inspiro. Seu cheiro, sabonete com o perfume favorito. Parece uma mistura esquisita, mas era boa e relaxante. Ele passa a mão por meu cabelo e começa a me fazer cafuné.

Daquele jeito sinto meus olhos pesarem e tenho a sensação de morfeu vindo me visitar. Mas de repente Nathaniel fica rígido

- Porra! Que merda. - Ele exclama irritado. - levanta Liv, rápido.

- o que houve? - digo obedecendo confusa.

- minha mãe, você tava quase dormindo e não ouviu o portão, ainda bem que a gente não tá sem roupa... Veste a blusa e ajeita o cabelo.

Se abaixou pegando a blusa de ambos e me jogou a minha. Apesar de ter reflexos péssimos, agarrei - a impecavelmente e a vesti.

Ouvi barulhos na escada e som de chave. Olhei para Nathaniel que, assim como eu, já estava vestido. Mandei,  ele deitar na cama e sentei no chão pegando um dos livros aleatoriamente e li a primeira frase que meus olhos encontraram.

Li em voz alta quando a porta se abriu.

- me gusta gelado de fresia. Te gusta?

- que? - ele respondeu.

- essa é sua matéria seu idiota, verbo gustar. Como você pode ser tão péssimo? Oi tia. - virei pra porta - em espanhol seu filho é um caso perdido.

- Nem me fale. Nath é das exatas querida. Não esperava te encontrar por aqui hoje.

- ele me pediu ajuda com espanhol meio do nada.

- ok, não vou atrapalhar mais crianças. E filho - nathaniel levantou a cabeça pra mãe. - Não é tao difícil. - e saiu fechando a porta.

Assim como minha mãe, Dona Alice não se importava de nos deixar sozinhos. Olhamos um pro outro e suspiramos juntos.

Como eu odiava quando isso acontecia...

então, acha que tá no clima pra... - ele começou.

- estudar? - O interrompi - acho que não

- tem razão. Olha, sobre teu trabalho de física. Eu vou fazer tá?

- tá. - Respondi direta.

Ele ficou sério e olhou pra outro lado.

Talvez ele tenha ficado mal. Ogra!

- acho bom fazer tudo certo. Se não eu mato você e nunca mais te ajudo. - dei a língua.

Ele riu, e bateu continência.

- sim senhora!

- dispensado. Acho que é melhor eu ir.

- te levo em casa.

Peguei o trabalho de física na mochila e coloquei junto com seus livros. Saímos do quarto e me despedi de Dona Alice.

- mas já vai querida? Espera mais um pouco, janta aqui. Sua mãe não vai se importar.

Eu sabia que não, aliás minha mãe nem pensaria duas vezes antes de aceitar o convite. Mas ia ser desconfortável tanto pra mim quanto pra Nath. Decidi recusar

- poxa tia, eu realmente queria ficar. Mas já combinei com minha mãe de jantarmos juntas hoje. Vai ser pizza. Você sabe que não tem como ganhar né? - disse forçando uma risada que saiu mais convincente do que eu esperava.

- tudo bem então - respondeu sorrindo -  mande um beijo pra ela.

- pode deixar.

- já volto mãe -  Nathaniel me empurrou pra porta e saímos.

O caminho era curto, mas pareceu uma eternidade pra mim. O silêncio era massante e doloroso. Não senti necessidade de quebra - lo. Então mantive o silêncio me perdendo em pensamentos.

- acho que isso é um recorde -  disse Nathaniel de repente me tirando do transe.

- o que?

- você calada tanto tempo.

- você é um idiota - disse incapaz de não sorrir.

- mas tenho que admitir, gosto mais de você tagarelando sem parar. É estranho te ver quieta.

- não tenho muita coisa pra dizer agora Nathaniel.

- nossa. Calada, me chamando de Nathaniel... Devia ter dito logo que fiz algo de errado Olívia. - disse com um tom zangado onde não encontrei nenhum vestígio de brincadeira.

- não Nath. Desculpa. Você não fez nada errado, eu só... Estou sem jeito.

- tudo bem então - disse voltando ao tom habitual quando chegamos no portão do meu prédio.

- mas Nath, como a gente fica agora? Sabe, tudo o que aconteceu hoje...

Ele riu interrompendo minhas palavras. Me olhou nos olhos e disse

- amizade colorida é isso ai liv.

- amizade colorida. - repeti sentido uma pontada no peito.

- é, tá na moda ultimamente. Tenho que ir ok? - me deu um selinho.

-ok. tchau - ele se virou e foi.

Entrei em casa e fui logo ao banheiro afim de tomar banho e espairecer. Após alguns minutos já com a roupa trocada, minha mãe chega com um caixa de pizza de calabresa e uma 4 queijos, nossas favoritas. Mas era como se fosse nada. Fingi alegria pra minha mãe, brinquei e fiz piadas. Mas por dentro sentia um vazio. Escovei os dentes e fui para meu quarto.

Já entre lençóis, meu dia se mostrava como um filme em minha mente. "amizade colorida" era o que eu era. Só amiga, apenas. Eu sabia disso, sempre soube. Levei a mão aos lábios, e tive a sensação que nossos beijos daquele dia. Seriam os últimos. E com esse pensamento, adormeci.

Garotas apaixonadasOnde histórias criam vida. Descubra agora