Capítulo 1 - Como Tudo Começou

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Eu tinha 13 anos quando o conheci. Alto, cabelos lisos e loiros, exatamente como os meus, olhos impressionantemente castanhos e brilhantes, e o sorriso mais fantástico que eu jamais pudera admirar. Seu nome era Nathaniel, tão fora de moda quanto o meu. Me apaixonei instantânea e tão perdidamente de um jeito que só uma pré adolescente consegue. Eu, tímida, jamais poderia me aproximar. O observava de longe tentando alguma forma de contato com o meu "príncipe perfeito". Depois de um tempinho percebi que tínhamos vários amigos em comum e consegui ficar mais próxima. Brincalhão, divertido e, para mim, a risada mais melodiosa que já tinha ouvido. Consegui coragem para falar diretamente com ele e sempre me tratava com gentileza. Eu ficava nas nuvens depois de 3 meses do começo da minha paixão, TODOS já sabiam. Isso era um defeito terrível, que meus amigos carinhosamente apelidaram de PFI = Paixonite Facilmente Identificável. Até Nathaniel já sabia, mas por algum motivo, nunca dizia nem demonstrava nada. O que pra mim, era um sinal de que ele correspondia e também tinha vergonha de se confessar. Um dia reuni toda a coragem que possuía e o chamei pra conversar afim de me declarar, eu esperava que ele dissesse que sentia o mesmo, nos beijássemos e fossemos felizes para sempre. Mas tudo que ouvi foi um pedido de desculpas por não corresponder aos meus sentimentos. Eu pensei que meu mundo tinha ruído completamente e fiquei meses com aquela "dor" terrível.
Hoje percebo o quanto era tola e o quanto eu não fazia ideia do que era dor de amor. Muitas coisas mudaram na minha vida. Tenho 18 anos agora, não sou mais aquela menina tímida, e meu relacionamento com Nathaniel mudou da água pro vinho, estudamos na mesma escola e nos tornamos muito amigos o que hoje em dia me leva a chama - lo carinhosamente de nath
Eu já não sentia mais aquela paixão avassaladora por ele, mas já minha mãe... Dona Helga era a fã #1 do team Nathaniel, ele era simplesmente o genro dos sonhos, apesar dela nunca confessar isso pra mim. Mas fica meio claro quando ela julga todos os caras que eu namoro usando o seguinte argumento: "Por que você não namora alguém direitinho Olívia? Sabe alguém como o Nathaniel..." ou sempre fica jogando na minha cara o quanto ele é o máximo porque ele faz "isso" ou "aquilo". Mas achei que as coisas fossem piorar quando fomos fazer a matricula da mesma escola, no qual os dois passaram. Minha mãe já queria dar um jeito de andarmos juntos pra cima e pra baixo. Acredito que a pior parte foi ela comentando com ele pra tomar conta de mim. Fala sério! Eu não preciso de um guarda costas nem uma babá, ele percebia que eu ficava brava e ria. Aquele idiota! Entretanto, por um milagre do destino, em favor das notas tiradas na prova de aptidão pra entrada na escola, ficamos em classes diferentes (até hoje não sei e não me perguntem como fiquei entre os 20 primeiros) e temos horários diferentes.
Certo dia, numa das raras vezes que ficávamos juntos no intervalo de almoço enquanto eu lia um livro. Ele resolveu querer conversar.
- Olívia...
- O quê? - disse levantando a cabeça pra prestar atenção. Poxa! Logo na melhor parte...
- Esquece, você tá lendo. - disse ele em tom de hesitação
- Esquece nada, não se atreva a me dizer "esquece". Você sabe que eu odeio isso! - respondi mostrando cara feia
- Mas eu não quero atrapalhar - insistiu abrindo um leve sorriso.
Esse idiota sempre acha engraçado quando eu fico brava. O que geralmente me faz ficar mais brava ainda
- você não vai querer insistir vai?
- ok, ponto pra você. Como você é chata!
- só me deixa guardar o livro - abri a mochila e o coloquei na capinha de proteção
- por que você é tão paranóica com os livros hein?
- porque sim. Não tenta mudar de assunto.
- dois a zero, você tá boa hoje... Enfim - disse o sorriso saindo do rosto - Sabe a Julia?
- sua namorada, o que é que tem? Ajuda pra comprar presente de novo?
- não, é que ela não é mais minha namorada.
- o que? Porque?
Entrei em choque, confesso, a Julia é linda, se veste impecavelmente, era tímida e boazinha. O sonho de todo garoto, não que ela tivesse tudo a ver com o Nathaniel, até porque ele curtia mais meninas agitadas. Mas eles eram um casal que, apesar das diferenças. Eram bonitos juntos, apesar de quase toda garota ter um recalque de leve dela. Me acostumei com os dois ainda mais depois de dois anos juntos.
- Não tava dando certo, eram muitas coisas.
Deixei - o desabafar, cada briga, cada desentendimento, cada desgosto.
- não fica triste Nath - disse lhe fazendo um cafuné - podia ser pior, ela podia ter fugido com outra mulher - dei uma risada.
- não estou. Isso já faz uns dois meses que terminamos.
DOIS MESES! E ele só me conta agora?! Meu sangue ferveu, me senti traída. Como ele pôde me deixar sendo a última a saber?
- Nathaniel Ferreira Cunha! Não acredito que só estou sabendo agora disso!
Pensei que com minha bronca ele iria ficar envergonhado, admitir que tinha errado em não me contar. Mas estava redondamente enganada. Ele desatou a gargalhar como nunca, tão alto que alguns alunos viraram pra nós encarar. Corei.
- pare de rir seu cretino! - falei sussurrando - os outros estão olhando. Por que não me contou antes?!
- para e pensa. Aonde geralmente nos encontramos?
- aqui, na minha casa ou na sua. E daí?
- não ia contar nada pra você lá em casa, por que minha mãe adora chamar sua atenção e conversar contigo. - concordei, era verdade. Dona Alice não tinha uma filha menina e eu meio que desenvolvia esse papel quando ia pra casa deles.
- e na minha? - logo me arrependi de ter feito essa pergunta. Era uma pergunta totalmente idiota. Minha mãe ficava em cima de nós dois o tempo todo, vigiando. Só faltava ficar com uma bandeirinha escrito "seja meu genro". Era assustador.
- na sua, a SUA mãe tenta chamar minha atenção. Ela parece que tá assistindo um filme. É meio bizarro. E...
- e aqui - interrompi - quase não nos vemos por que temos horários diferentes. Já entendi. Ponto pra você.
- 2 à 1 não é tão ruim assim. Sua chata! - disse bagunçando meu cabelo. - alguma vez eu já disse que adoro seu cabelo assim? - continuou mudando de assunto.
- hm... Não - disse arrumando - o.
- pois adoro seu cabelo assim. Quando você chegou desse jeito na festa do Renato, tive vontade de apertar você. Ainda mais de laço vermelho, parecia até um presentinho. Mas nunca entendi por que você cortou, tinha tanto pavor de tesoura...
Por uns instantes tive um devaneio. Ele não sabia o por que, mas eu lembrava como se fosse ontem.
Eu namorei um cara por 1 ano e meio. Tudo era perfeito ele me fazia muito feliz. Até o dia em que ele me abandonou pra ficar com um outro cara. Aí foi que eu realmente soube o que era sofrer de amor. Fiquei dias sem dormir ou comer, achando que o problema fosse eu. Fiquei igual a um zumbi por semanas. Até que tive ódio de olhar no espelho e ver aquele rosto deprimente, tive ódio de ver aquele cabelo na cintura que tanto cativei e que ele tanto amava, tive ódio de ver a garota que fora trocada por outro. Decidi mudar, amarrei os cabelos com um elástico abaixo do ombro, peguei uma tesoura afiada e cortei - os como se junto com o peso do cabelo, o peso da dor diminuísse. Funcionou. Fui até minha cabeleireira afim de concertar o estrago. Ela quase teve um troço, mas largou tudo, me abraçou e transformou meu acesso de fúria em um novo e lindo visual. Despedi - me dá garota rejeitada de cabelos grandes e dei boas vindas a nova Olívia com cabelo chanel de bico, uma nova fase pra uma nova eu mais forte.
Como ele me contara sobre o término. Contei - lhe minha história, e como aqueles meses, por mais que tivesse cortado os cabelos e mudado, a dor não foi embora facilmente. Era torturante ver os dois, ainda mais ver a cara do meu "rival" como quem diz "eu venci" . Vi sua expressão mudar de seriedade, a raiva e depois se suavizar num sorriso caloroso.
- puxa liv... - disse me abraçando.
Sorri, eu adorava quando ele me chamava de liv...
- jamais pensei que tivesse sido tão péssimo. Mas acho que era pra ser. Aqueles lixos se merecem e você... - pôs as mãos em meus ombros me olhando nos olhos - está forte, melhor e mais linda que nunca. Adoro essa nova Olívia.
Terminando de dizer isso ele me deu um beijo na bochecha e o sinal tocou, informando o início do turno da tarde. E naquela hora, depois de 5 longos anos, meu coração bateu forte novamente por Nathaniel.

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