19 - Sexo ou livros? Eis a questão...

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I – Definindo a prioridade:

Ê, laiá! Lá vou eu de novo! Que droga! Detesto ir ao banco. Com toda a tecnologia de hoje e ainda há pepinos que não podem ser resolvidos pelo telefone ou pela internet. Dou graças por essa agência bancária ficar ao lado de uma livraria...

Larguei todos os meus livros na casa da Vanessa. Enquanto ela não quiser atender-me e todas as minhas tentativas de contato forem arremessadas pro diabo da caixa postal, eu não conseguirei pedir pra que os deixe na portaria do condomínio pra que eu passe lá e resgate-os. É uma boa oportunidade pra comprar livros fresquinhos com cheiro de tinta de impressora.

Perdi a minha namorada e todo o meu acervo literário – o último, temporariamente, assim espero – mas não perco o vício de tentar achar, tipografados, despejados em papéis que, um dia – assim como eu – ao pó irão retornar, ensinamentos da salvação, que me apontem rumos inexplorados pra redirecionar a minha dispersa existência na Terra.

Finjo não ter consciência de que a resposta está aqui mesmo, dentro de mim, bem na frente do meu nariz, e teimo em caçar doutrinas em calhamaços amarelentos e infectados com micróbios. É um método intelectualoide pra ser medíocre como qualquer outro mortal, porém mascarado, escondido atrás de volumes de páginas empoeirados. Por isto, eu sinto mais a falta dos meus livros do que da Vanessa.

Dizem que não devemos colocar a Vagina num pedestal. Lidar com a Vagina como algo trivial e corriqueiro é a melhor estratégia pra preservá-la como sua.

Se dermos muita importância a Ela, perdê-la-emos, pois a Vagina odeia ser idolatrada como Deusa com tanta chatice. Então, a partir de agora, chamá-la-ei de vagina – com letra minúscula – pra ver se conservo a próxima com a qual tiver algum affair.

Caso a vagina perceba o meu desprendimento, sentir-se-á rejeitada e esforçar-se-á pra ser minha... só minha! Joguinhos e desafios é o que elas querem, portanto é isto que lhes oferecerei, por mais idiota que eu considere este entretenimento. O prazer sexual – de forma intrínseca – nunca vai ser suficiente. Brincaremos, pois.

Entretanto, vamos por ordem de relevância: primeiro o meu livro porque não quero ter crise de abstinência. Minhas mãos já estão começando a tremer...

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II – Trabalhando pra solucionar o dilema:

Quase chegando ao banco, passo pela porta da livraria.

– Moça, tem livro do Donald Trump? – indago à balconista loira.

Ela digita no sistema de busca apenas a palavra que conhece a grafia, que, obviamente, é a primeira. Nos resultados, somente links pra Pato Donald.

– O livro que você procura é da Disney, moço? – interrogou-me, quase zurrando.

Oh, dúvida, cruel! Tenho de responder em conformidade com o meu desejo ou empenhar-me pra ser simpático? Saco preso na gaveta dói menos...

Esquece o Trump. Nunca aprenderei a ficar milionário lendo as teorias dele. Só vou ajudá-lo a enriquecer mais.

– Moça, vê se tem "Pai Rico, Pai Pobre", do Robert Kiyosaki. É K – I – Y – O – S – A – K – I.

Ela é lerda pra pensar e pra digitar. Sai catando milho no teclado. Digita o K, depois de quatro segundos digita o I e depois de mais quatro segundos digita o Y.

– É K – I – Y e mais o que, moço? – relincha repetidamente a loiríssima.

– K – I – Y – O – S – A – K – I – digo, com o meu estoque de paciência já indo pro beleléu.

Eu queria morar na República Tcheca e outras crônicasOnde histórias criam vida. Descubra agora