24 - O assento é do Pinto

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  PRÓLOGO


Você queria aprender gramática e desistiu porque não está com vontade? Isto é porque, além de desleixado, você também é um desinformado que não conhece o novo método didático do Mingau Ácido. Este método consiste na leitura de crônicas de humor, fora do padrão convencional, que ensinam regras gramaticais, de um jeito que torna um pouco menos insuportável o que não descia pela sua goela.


Nesta crônica aprenderemos:


* O que são palavras homônimas, homógrafas e homófonas


* "Que raios" fizeram com o tal do acento diferencial? Ele existe ainda depois da nova reforma ortográfica?


É isto que saberemos, agora, através de uma história tragicômica. A tristeza de uns é a felicidade de outros. Como nem você e nem eu temos culpa pela maldade que fizeram com o personagem dessa crônica, vamos relaxar e gozar (gozar significa divertir-se, nesse caso) e aprender com fatos hilários do passado. Eu também não queria que a Segunda Guerra Mundial tivesse acontecido, mas, já que aconteceu, aprendo com os livros de História. Então...


O ASSENTO É DO PINTO


Mingau Ácido (Marcelo Garbine)


O ser humano é um animal que reclama de tudo. Não gostamos de quem é diferente da gente e nem das mudanças que fazem com que as coisas passem a ser distintas do que estamos acostumados. Queremos que tudo aconteça da maneira que planejamos e deleitamo-nos somente com as pessoas que possuem os mesmos valores que nós. Eta, bichinho "forgado" que é esse tal de ser humano.


Está certo. Eu sou ser humano também. Por isso que eu tenho que fazer uma força descomunal para não cair no lugar-comum de ficar fazendo críticas do tipo: "creeeedo! Ele não gosta desse livro? É tão bom!" ou "Como pode alguém não gostar desse filme? É um dos meus preferidos". Eu não sou termômetro de porcaria nenhuma. E você também não é.


Isso vale para a nossa relação com as pessoas, com o tempo, com as leis da natureza e com a ordem dos acontecimentos.


Eu nunca fui muito com a cara desse negócio de ficar reclamando que tá frio ou tá calor. Eu taco logo uma blusa ou tiro a blusa e mando ver. Mas... algumas pessoas apreciam fazê-lo e, como não sou irmão gêmeo por parte de preferências e costumes de ninguém, não vou meter o pau (no bom sentido) pelas costas ou pela frente em ninguém.


Nessa última reforma ortográfica, foram feitas pequenas mudanças na forma como estamos acostumados a escrever. Não mudou muita coisa, mas foi o suficiente pra mexer com a almofadinha confortável da galera: "Eu aprendi desse jeito na escola, caramba!".


Vai chorar as pitangas em outra freguesia, amigão. Imagina quanto não sofreram os nossos avós, nos anos trinta, com a reforma ortográfica que os obrigou a começar a escrever "farmácia" em vez de "pharmácia". E aquele monte de crases que existiam no meio das palavras? Vixi... Parecia outro idioma. E aquela porrada de acentos diferenciais que caíram nos anos setenta? Então, não vamos reclamar de barriga cheia.


Quando tive contato, pela primeira vez, com as novas regras de acentuação, meu pensamento viajou para uma galáxia muito distante, pra lá de onde Judas perdeu as botas na linha do tempo da vida... Pensando bem, acho que ele perdeu foi as meias porque as botas, ele perdeu antes. Então deixa eu discorrer logo sobre o que eu quero dizer, se não o tempo passará mais ainda e eu vou ter que dizer que Judas perdeu o dedão do pé, naquele tempo... (suspiro).

Eu queria morar na República Tcheca e outras crônicasOnde histórias criam vida. Descubra agora