DEZ

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~Frederick~

Há dias Sophie tem voltado da escola e ido direto para seu quarto, não quer conversar, só come com muita insistência. Não a vejo nem lendo os seus livros, um amor que começou desde criança, quando lhe dei de presente "Alice no país das maravilhas", uma versão infantil ilustrada. Ela ainda não sabia ler, por isso, por noites e noites, tive de reler essa história antes que ela adormecesse.

Aquele livro mexia com sua imaginação, o coelho com o relógio, sempre com pressa, a lagarta e seus conselhos, o gato risonho que consegue desaparecer, o chapeleiro maluco com seu chá e a Alice, que ora está pequena, ora está grande, sempre curiosa e questionadora. Talvez seja por isso que Sophie se identificava tanto com a personagem loira, com fita preta nos cabelos.

− Bom dia, amor.

Carol nem parecia que tinha acabado de acordar. Estava radiante. Cada dia que passa ela fica mais linda.

− Como você está linda!

− Obrigada, Fred! Como a Sôfi passou o dia ontem? Quando cheguei, ela já estava dormindo.

− Do mesmo jeito: trancada no quarto. Estou começando a ficar preocupado, pensando em ir até a casa dos Fernandez e conversar com eles sobre a Gabi, o que você acha?

− Acho uma boa ideia, não dá para fingirmos que nada está acontecendo, a Gabi precisa de ajuda. Agora, quanto a Sôfi, acho que ela precisa de um tempo para pensar. Em breve, vou conseguir pegar uns quatro dias de folga. O que você acha de irmos à praia no feriado? Talvez seja bom para a Sôfi.

− Está bem. Me diga que dias serão e eu reservarei aquele hotel que a Sophie gosta, perto das lojinhas.

− Agora tenho que ir. Mas vou fazer de tudo para chegar mais cedo. Talvez eu consiga convencê-la de ir ao shopping comigo.

− Tenha um bom dia querida. Te amo.

− Você também. Te amo mais! Bom trabalho.

Lembro as circunstâncias de quando conheci Carolaine. Eu era o professor mais novo da faculdade, com 28 anos, sempre confundido com um aluno. Foi fácil conseguir aquele emprego. Era um dos alunos de lá e durante a minha graduação me destaquei por ter uma ótima didática nas apresentações dos seminários. Acho que as minhas boas notas também colaboraram bastante para isso.

Quando estava no terceiro ano de engenharia me inscrevi para ser auxiliar de um professor bem conceituado, chamado Elias. Ele entrevistou várias pessoas, mas disse que foi com a minha cara e com o meu currículo. Aprendi muito com ele, ficando à tarde e, muitas vezes, à noite acompanhando o seu trabalho, fazia suas apresentações, atendia ao telefone e agendava suas palestras. Fazia um pouco de tudo.

Com o tempo fui ganhando sua confiança e ele foi passando para mim um pouco da sua experiência. Aos 22 anos estava com o meu diploma na mão, pronto para enfrentar a vida. Fui promovido a engenheiro na empresa onde estagiava, e fiquei lá por 6 anos, até ser convidado a participar do corpo docente após ter dado algumas aula como convidado do professor Elias.

Tinha o hábito de tomar café na sala dos professores, mas nesse dia resolvi tomá-lo em uma padaria, em frente à faculdade, onde a maioria dos alunos se encontrava antes da aula. Pedi um café e um pão de queijo. Quando estava prestes a me levantar e ir embora, senti algo quente caindo nas minhas pernas. Quando olhei para o lado vi uma garota linda, com seus 17 ou 18 anos, alta, cabelos castanhos com pontas onduladas, um rosto delicado, com uma maquiagem que destacava o seu olhar.

− Meu Deus! Me desculpe, de verdade!

Sinto uma vontade de não a perdoar, pois ela derrubou café na minha calça caqui novinha, mas o seu rosto angelical não me deixa fazer outra coisa além de dizer...

Quem Narra a Minha Vida Sou EU (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora