VINTE E TRÊS

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− Vamos, Gabi! Combinamos que chegaríamos às 14 horas.

− Calma! Quanta ansiedade.

Sim, eu estou ansiosa! Iremos ao orfanato! Um dia que com certeza será mágico.

Lotamos um van com as roupas de inverno arrecadadas e os brinquedos comprados com o dinheiro da venda dos ingressos do churrasco que será amanhã. Em outra van estamos em um grupo de 10 pessoas, com dois professores e 8 alunos que se ofereceram para ir. Uma pena. Para ir ao churrasco foram vendidos, em média, 2 ingressos por pessoa, mas para ir ao orfanato, não precisamos nem sortear. Teve sala que não apresentou nenhum representante, ninguém quis ir.

É o medo de ver a realidade? É a indiferença pelo outro? Poderia ser qualquer um de nós ali, no orfanato! Não escolhemos a maneira que iremos nascer, não escolhemos as circunstâncias, só existe escolha depois que já temos alguma razão. Nascemos e somos entregues ao mundo, viemos ao mundo sem nada, até o cordão umbilical que vem conosco em alguns dias cai.


Vamos adquirindo coisas com o tempo: a primeira fralda, a primeira roupinha, a primeira mamada. Mas há crianças que não tiveram essa sorte, e vai de cada um de nós perceber que podemos dividir o que temos. Por que não? Por que iremos ficar sem um dos agasalhos no guarda-roupa? Sorte nossa ter um guarda-roupa! Consciência humana devia ser uma matéria da escola! Trocaria fácil pela educação física...

~♡~


Quando chegamos fomos recebidos com uma festa cheia de crianças que nos abraçavam, nos davam "oi", nos acolhiam. Fomos levar amor, mas a gente é que ganhou amor!

Era um lugar bem grande, um pátio com um prédio onde ficavam os dormitórios em volta, como um castelinho. Nesse pátio tinha vários bancos e árvores, um lugar perfeito para as crianças brincarem.

A diretora, a coordenadora e a psicopedagoga foram de carro e nos encontraram lá. Era nítido o orgulho que elas sentiam da Gabi. Não é à toa, já que tudo isso aconteceu graças a ela!

− Gabi, eles querem que algum aluno faça um discurso. Montaram até um palquinho com microfone.

Era a diretora, e eu imagino que quem queria um discurso era ela mesma.

− Como assim? Não preparamos nada.

− Mas eles estão esperando, vá até lá e diga alguma coisa. Agradece por terem nos recebidos.

− Ah, dona Olga, eu não vou não! Tenho pânico de microfone. A Sophie vai!

− Oi? Como assim eu vou? Eu também tenho pânico de microfone.

Não deu tempo de me defender, me puxaram para perto do microfone e TODOS estavam olhando para mim!

Pensa, pensa Sophie. O que se diz em uma hora dessas?

− É... Bom... Em nome de todos, eu agradeço por terem nos recebido. – Vejo lá longe a Gabi fazendo sinal para eu sorrir e continuar. – É um dia muito especial para nós e foi um prazer conhecê-los...

E agora é a dona Olga, fazendo sinal para continuar. Assim é muita pressão! E do nada eu sei o que devo falar.

– Poderia dizer aqui mil coisas, mas o que quero mesmo dizer é sobre uma coisa que aprendi com alguém muito especial. Aprendi que viver é muito difícil! Todo dia é uma batalha, lutamos muito para às vezes conseguirmos uma coisinha bem pequena. Mas se tivermos sonhos - sim, sonhos! – aí iremos muito longe. Sonhe acordado, sonhe dormindo, sonhe lendo, sonhe! Acredite em você! Quem sonha tem vontades, desejos, e não é errado. Quando acreditamos em nós, acordamos mais dispostos, as coisas fluem, nosso coração bate mais forte, temos mais garra e as coisas acontecem. Sonhe que será presidente, sonhe que será famoso, sonhe que mudará o mundo... Talvez, não chegaremos nem perto disso, mas quando olharmos para trás veremos o quão longe chegamos. Porque o sonho nos impulsiona, dá adrenalina, dá força. Por isso, sem pretensão nenhuma, gostaria de deixar esse conselho da nossa turma. SONHE!

Quem Narra a Minha Vida Sou EU (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora