− Vamos, Gabi! Combinamos que chegaríamos às 14 horas.
− Calma! Quanta ansiedade.
Sim, eu estou ansiosa! Iremos ao orfanato! Um dia que com certeza será mágico.
Lotamos um van com as roupas de inverno arrecadadas e os brinquedos comprados com o dinheiro da venda dos ingressos do churrasco que será amanhã. Em outra van estamos em um grupo de 10 pessoas, com dois professores e 8 alunos que se ofereceram para ir. Uma pena. Para ir ao churrasco foram vendidos, em média, 2 ingressos por pessoa, mas para ir ao orfanato, não precisamos nem sortear. Teve sala que não apresentou nenhum representante, ninguém quis ir.
É o medo de ver a realidade? É a indiferença pelo outro? Poderia ser qualquer um de nós ali, no orfanato! Não escolhemos a maneira que iremos nascer, não escolhemos as circunstâncias, só existe escolha depois que já temos alguma razão. Nascemos e somos entregues ao mundo, viemos ao mundo sem nada, até o cordão umbilical que vem conosco em alguns dias cai.
Vamos adquirindo coisas com o tempo: a primeira fralda, a primeira roupinha, a primeira mamada. Mas há crianças que não tiveram essa sorte, e vai de cada um de nós perceber que podemos dividir o que temos. Por que não? Por que iremos ficar sem um dos agasalhos no guarda-roupa? Sorte nossa ter um guarda-roupa! Consciência humana devia ser uma matéria da escola! Trocaria fácil pela educação física...
~♡~
Quando chegamos fomos recebidos com uma festa cheia de crianças que nos abraçavam, nos davam "oi", nos acolhiam. Fomos levar amor, mas a gente é que ganhou amor!
Era um lugar bem grande, um pátio com um prédio onde ficavam os dormitórios em volta, como um castelinho. Nesse pátio tinha vários bancos e árvores, um lugar perfeito para as crianças brincarem.
A diretora, a coordenadora e a psicopedagoga foram de carro e nos encontraram lá. Era nítido o orgulho que elas sentiam da Gabi. Não é à toa, já que tudo isso aconteceu graças a ela!
− Gabi, eles querem que algum aluno faça um discurso. Montaram até um palquinho com microfone.
Era a diretora, e eu imagino que quem queria um discurso era ela mesma.
− Como assim? Não preparamos nada.
− Mas eles estão esperando, vá até lá e diga alguma coisa. Agradece por terem nos recebidos.
− Ah, dona Olga, eu não vou não! Tenho pânico de microfone. A Sophie vai!
− Oi? Como assim eu vou? Eu também tenho pânico de microfone.
Não deu tempo de me defender, me puxaram para perto do microfone e TODOS estavam olhando para mim!
Pensa, pensa Sophie. O que se diz em uma hora dessas?
− É... Bom... Em nome de todos, eu agradeço por terem nos recebido. – Vejo lá longe a Gabi fazendo sinal para eu sorrir e continuar. – É um dia muito especial para nós e foi um prazer conhecê-los...
E agora é a dona Olga, fazendo sinal para continuar. Assim é muita pressão! E do nada eu sei o que devo falar.
– Poderia dizer aqui mil coisas, mas o que quero mesmo dizer é sobre uma coisa que aprendi com alguém muito especial. Aprendi que viver é muito difícil! Todo dia é uma batalha, lutamos muito para às vezes conseguirmos uma coisinha bem pequena. Mas se tivermos sonhos - sim, sonhos! – aí iremos muito longe. Sonhe acordado, sonhe dormindo, sonhe lendo, sonhe! Acredite em você! Quem sonha tem vontades, desejos, e não é errado. Quando acreditamos em nós, acordamos mais dispostos, as coisas fluem, nosso coração bate mais forte, temos mais garra e as coisas acontecem. Sonhe que será presidente, sonhe que será famoso, sonhe que mudará o mundo... Talvez, não chegaremos nem perto disso, mas quando olharmos para trás veremos o quão longe chegamos. Porque o sonho nos impulsiona, dá adrenalina, dá força. Por isso, sem pretensão nenhuma, gostaria de deixar esse conselho da nossa turma. SONHE!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quem Narra a Minha Vida Sou EU (COMPLETO)
Ficção AdolescenteAos 13 anos todos adoram sair, conhecer pessoas novas, ir a festas e dançar...Menos Sophie ... Sophie é uma menina encantadora, inteligente, cômica, porém carrega consigo muitas inseguranças. Não têm muitos amigos e se acha feia. Troca qualquer saí...