OITO

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− Querida, vamos! Acorde, está na hora de levantar. - É a minha mãe, que vem me chamar pela terceira vez, mas eu não respondo, não me movo, não quero sair dali...

− Seu pai fez panquecas com calda de açúcar queimado, seu café da manhã predileto. E eu fiz um suco de laranja fresquinho. Nem a Julie vai sair daí hoje? O que deu em vocês duas?

Acho que a Julie entendeu tudo ontem à noite, talvez tenha até visto a cena do crime e tentou me contar.

− Sôfi, você vai chegar atrasada! O que há com você?

Lá longe escuto a voz do meu pai.

− Carol, a Sôfi sempre fez tudo tão direitinho, porque não a deixamos dormir hoje? Ela nunca falta nem quando está doente, vamos dar esse bônus a ela.

− Huum... não gostei dessa ideia, mas se você acha que ela precisa... Bom, tenho de ir trabalhar, espero que você melhore, filha. - E me dá um beijo

− Qualquer coisa me liga que eu venho correndo, ok?

Estou coberta até a cabeça, mas assenti mentalmente.

Escuto ela se despedir do meu pai e ir embora. Logo em seguida ele está no meu quarto, sinto o cheiro de panqueca.

− Você pode se chatear, faltar na escola, chorar e dormir o dia todo, mas ficar sem comer eu não vou deixar. Vamos, sente-se. Trouxe panqueca e suco de laranja. Sua mãe não queria que eu adoçasse, ela disse que açúcar faz mal, mas eu coloquei escondido para você, está bem docinho agora.

Eu saio do meu casulo e vou ao encontro daquele cheiro maravilhoso.

− Sôfi, você está toda inchada de chorar, toda vermelha. Não precisa ficar assim. Eu sei que dói porque doeu em mim também, mas precisamos reagir e tentar ajudar.

Dou uma garfada na minha panqueca.

− É hora de analisarmos os fatos com calma e tentar achar a melhor forma para resolver a situação. O que ela precisa agora é de ajuda, ela precisa de você. Se você não quer ir à aula hoje para não ter que encontrá-la, tudo bem, mas só hoje, só porque você sempre foi muito responsável e tira ótimas notas. Espero que não te prejudique e você consiga correr atrás do prejuízo.

Eu não disse uma palavra, porque não quis, mas ele entendeu tudo o que eu queria dizer. Após ter comido tudo entrei de novo na minha toca, e voltei a dormir.

~♡~

Acordei às 11horas, morrendo de fome e sede. Fui até a cozinha pra tomar um copo de água. Resolvo que é hora de voltar à vida real, quer dizer, voltar a interagir com as pessoas, porque mais real do que tudo que estou vivendo é impossível.

Tomo um banho bem quente, escovo os dentes e vou cumprimentar a dona Sandra, que está arrumando o quarto dos meus pais.

− Bom dia, dona Sandra.

− Bom dia, Sôfi! JESUS MARIA JOSÉ! O que aconteceu com o seu rosto, criatura?

− Nada de mais, acho que é alergia.

− Alergia? E desde quando você tem essas coisas? Nunca te vi assim. Deixa- me ver se você está com febre.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, sua mão já estava na minha testa. Doeu como um tabefe, caramba!

- Não, não, está normal. Quer que eu te faça um chazinho? Minha avó, Deus a tenha, sempre dizia que para qualquer doença o remédio era chá. Sua mãe que não nos escute, porque ela é toda de dizer que esses remédios curam, que cada um atua em não sei o quê. Ahahaha... Atuam... O que atua mesmo é um chazinho quente, porque conforta a alma. Quer que eu faça um para você? Tem de hortelã, preto, erva-doce, huuuum... Esse é uma delícia.

Caramba, será que ela vai me dar a vez de falar? E quando ela perde o fôlego eu digo:

− Não, dona Sandra. Não se preocupe, o almoço já está de bom tamanho, muito obrigada.

− Então vou te servir. Fiz arroz com cenoura ralada, feijão sem bacon, porque sua mãe não gosta, mas enchi de cebola para dar aquele gosto bom. Legumes na manteiga. Tem brócolis porque eu sei que você ama, chuchu, que não tem gosto de nada, mas na mistura pega o gosto de tudo, abobrinha e mais cenouras! Agora senta lá que vou te fritar um bife ou você prefere filé de frango? Tem os dois, pode escolher que eu faço.

− Bife está ótimo, obrigada.

O barulho do acendimento do fogo chamou a atenção da Julie, que aparece, vinda de algum lugar.

− Julie, Julie, já veio com essa cara de pidona. Você sabe que eu não resisto, não faça essa cara, se eu te der alguma coisa a sua mãe me mata...

Ganho um pouco de tempo e vou me sentar na cadeira da sala de jantar. Aproveito para olhar meu celular que está abandonado desde ontem. Quatro ligações perdidas do Doug e várias mensagens.

"Eiii, onde você está?"

"Está tudo bem?"

"Senti sua falta, tive que lanchar com a chata da Aline"...

E no meio delas encontro uma mais interessante:

"Espero que sua manhã seja linda, assim como você! Isaque".

Uiiiiii, por essa eu não esperava. Pra onde foi o ar?

Não sei o que me deu, mas respondo com um desabafo:

"Não foi das melhores, mas sua mensagem me animou um pouco", e envio. Não sei bem o que foi isso, não sou de expor-me, ainda mais com quase desconhecidos, mas parece que ele faz eu me sentir bem e me passa segurança.

O celular vibra, recebo uma mensagem nova.

"Sinto muito, mas tudo se ajeita na hora certa. Se quiser conversar estarei aqui."

"Obrigada, mas acho que eu preciso de um tempo para pensar."

"Ok, bjs"

"Bjs"

~♡~

Depois de conseguir um encaixe na agenda de minha terapeuta, vou até a loja do meu pai pedir uma carona.

− Oi, pai.

− Veio me visitar, querida? Nossa... Você está tão branca e com os olhos tão vermelhos... Filha, diz para o papai que você não conheceu um vampiro e lhe pediu para injetar veneno em seu coração para você virar vampira também, porque eu não estou preparado para isso.

Só ele para me arrancar um sorriso em uma hora dessas.

− Não vou mais te contar as histórias dos meus livros... Na verdade eu queria saber se você está muito ocupado para me levar na Lourdes. Pedi um encaixe e ela tinha horário para as 14horas.

− Te levo, só preciso terminar de contar esses pinos.

Papai tem uma loja de material de construção. Ter um negócio sempre foi seu sonho e por isso ele deixou as salas de aula onde era professor para lidar com clientes, mas ainda é muito convidado para dar palestras.

- Vamos lá, me ajude para terminarmos logo.

~♡~

− E então, Sophie, o que te traz aqui?



Quem Narra a Minha Vida Sou EU (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora