Capítulo 6

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Agora o vento parecia formar um rugido quando golpeava as paredes de concreto como se estivesse se preparando para nos enterrar vivos.

Eu fiquei paralisado, mas Anna parecia calma.

-Não, você está enganada. Ele pode saber – disse ela.

Olhei para ela sem saber o que dizer. Anna não tirava os olhos de mim, no entanto, parecia ver outra pessoa à sua frente. Seu olhar tão distante, como se não estivesse no meio de um furacão.

-Olhe para ele – continuou ela ganhando mais confiança em suas palavras – Porque mais estaria aqui justo no natal? Ele é como nós. Está perdido.

O rugido rebateu suas palavras. Anna não pareceu se assustar. Ela sorriu para ele como se já tivesse feito isso um milhão de vezes.

-Apenas confie em mim. Okay? Sempre confiámos uma na outra.

As batidas contra a escola continuaram por um tempo, então sessaram. O rugido sumiu do mesmo modo que veio – rápido e do nada –, sem me levar junto. Eu fiquei parado encarando Anna. Sentindo apenas minha própria respiração. Nem o gelo parecia me alcançar.

Um silêncio se iniciou entre nós. Eu senti a necessidade de quebra-lo.

-Então... Não era você por trás de tudo isso?

Anna balançou a cabeça.

-Bem que você gostaria disso, eu acho.

Naquele momento eu não sabia bem do que gostaria. Eu fiquei encarando Anna na esperança de que ela pudesse me dizer. Talvez uma garrafa de uísque. Alguma cosia que pudesse beber e fazer o mundo girar e girar.

Anna me olhava como se eu fosse um bichinho de estimação estranho, que ela não sabia se devia levar para a casa ou deixar na rua.

Ela decidiu se aproximar de mim.

-Você já sentiu vontade de ir embora? Como se não houvesse nada de bom te prendendo?

-O tempo todo – admiti.

Isso a fez soltar um sorriso molhado.

-Sabe. Talvez eu e você não sejamos tão diferentes assim.

-Como? – O modo como eu disse não deve ter sido do melhor modo, mas não consegui parar. – Você é perfeita. Tem a vida perfeita. Os pais perfeitos. Você é tudo que muitas pessoas querem ser. Todos amam você.

Anna não disse nada.

-A única pessoa que eu me importo me trata mal – ás lágrimas vieram a mim antes que eu pudesse conte-las – e você quer saber de uma coisa? Eu não consigo ficar longe dela porque sinto que posso ser eu mesmo com April. Isso é mais do que já tive com qualquer pessoa. Meus pais. Isso é mais do que meus pais já me deram à vida toda.

Não consegui parar mais de chorar e eu nunca quis tanto uma bebida para aliviar um pouco a dor que se formava. Anna continuava me encarando. Sem abrir a boca. Eu não sabia dizer se ela estava com raiva de mim, surpresa, ou até irritada. Ela podia mandar aquela cosia me matar a qualquer momento.

Ela então chorou comigo.

-Eu sei como você se sente. É por isso que eu venho aqui todo ano, por esse motivo.

Ela me pegou pela mão e me conduziu pelo corredor?

-Onde estamos indo? – perguntei, contendo o resto das lágrimas.

-Você vai ver – disse Anna parando em frente a uma sala. – Peter Pryce – Ela fez uma pausa para conseguir falar o que estava por vir. – Quero que você conheça minha melhora amiga.

Anna abriu a porta e o vento me atingiu em cheio. Sentando na primeira fileira estava uma garotinha.


O Dia Antes do NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora