Capítulo 2

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 Prendo minha respiração. Meu Deus. Não era possível.

- Como? – minha voz não era mais que um sussurro. – Eu não... Não me lembro de nada...

Ele volta a encarar o chão. Este lindo homem era meu marido. Passo a notar a aliança em seu dedo. Olho para minha mão, mas não encontro nenhuma.

- Eu não tenho... – ele aponta para a mesinha ao meu lado.

- Eles retiraram tudo. Estão ali seus pertences.

Estico-me para alcançar a fina aliança de ouro. Analiso este pequeno objeto entre meu indicador e polegar. Respiro fundo e solto lentamente o ar.

- Sei que é complicado tudo isso. – ele de repente se levanta. – Você deve estar cansada. Deve voltar a dormir. Vou deixar você...

- Não! – falo mais alto do que pretendia. Não queria soar desesperada, mas é exatamente como sai. – Por favor, você deve me conhecer muito bem e... Não me recordo de quem sou. Quem sabe você contando algumas coisas eu acabe lembrando algo?

Ele parecia refletir minha ideia. Ele retira as mãos dos seus bolsos e volta a sentar.

- Ok. – ele passa novamente a mão por seus cabelos. Pareciam tão macios... Estico-me e lentamente toco as pontas dos fios com as dos meus dedos.

Ele levanta rapidamente a cabeça para me encarar. – Posso?

Tinha certeza que meu rosto não estava na cor normal. Só queria saber qual era a sensação. Ele lentamente afirma com a cabeça.

Afundo minha mão em seus cabelos e, como imaginava, eram macios e sedosos. Acho que qualquer comercial de xampu teria inveja. Minha mão vai escorregando para a lateral de seu rosto, alisando a aspereza de sua barba por fazer. Faço o contorno de seu nariz e volto para alisar suas sobrancelhas. Ele apóia seu rosto em minha mão. Era tão íntimo isso. E me sentia errada por não corresponder seus sentimentos.

Seus olhos, antes fechados, voltam a procurar os meus. – Nos casamos no dia 21 de novembro.

Sorrio. – De que ano? – minha mão retorna para meu colo.

- Foi mês passado... – arregalo os olhos.

- Oh...

Ele sorri. – Você escolheu essa data. Depois disso, nos juntamos para morar na sua casa, já que não queria morar no meu apartamento... – ele dá de ombros e sorrio.

- Você queria adotar um gato e eu quero um cachorro...

- Adoro gatos... – comento sorrindo.

- Eu sei. – ele me devolve o sorriso. – Queria adotar um gato persa e eu queria um labrador marrom. O nome do gato era o mais esquisito, era...

- Pompom... – uma pequena lembrança me vem a mente.

- Isso! Eu odiei o nome, mas você me convenceu de que era bom.

- Sério? – pergunto curiosa. Percebo que ele estava mais solto.

- Sim. Você tem... – ele dá uma tossidela. – Métodos persuasivos.

Arregalo os olhos pela vigésima vez desde que acordei. Um silêncio ensurdecedor toma meu pequeno quarto. Uma vontade absurda de chorar me atinge. Como queria lembrar-me de tudo. Ele não me era estranho, me sentia protegida com ele, me sentia bem, muito bem mesmo.

- Sinto muito Leonard. Eu... Queria lembra-me de nós. – ofereço minha mão e ele aperta com a sua. – Poderia falar como é a nossa casa?

Ele sorri. – Ah! Você adora sua casa. Ela é de um tom amarelo claro por fora, telhado marrom canela... As janelas desse mesmo tom. Há um pequeno jardim na frente da casa onde você planta algumas cebolinhas, alface e até mesmo couve. Na garagem está meu carro. Um corsa prata. A sala tem dois sofás e estante com a TV, e seus quadros e bugigangas. – sorrio – Nosso quarto está logo a frente...

Uma lembrança me atinge com força. Eu estava limpando a casa onde morava, tinha certeza. Estava cantando Elastic Heart, da Sia.

- Eu me lembro... – uma forte pontada na cabeça me faz ofegar. Escuto Leonard me chamando, mas acabo fechando os olhos.

Apago.




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