Capítulo 8

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Acordo em um quarto hospitalar. A dor não estava tão intensa, mas recebia ainda algumas pontadas. Não tinha sinal de Leo aqui. Não sei se queria ele perto de mim.

Leo tinha algum transtorno de comportamento?

A porta se abre e o mesmo médico que me acompanhou desde o começo de minha perda de memória entra. 

- Olá Lilian. Como se sente?

Sento e minha cabeça balança. – Confusa. E com uma leve dor de cabeça.

Ele assente. – Você lembrou de mais alguma coisa é o que parece.

- Sim...

- E o que sente pelas lembranças? Confusão? Alegria?

- Fiquei mais confusa ainda...

Ele anota alguma coisa em sua prancheta. – Essa dor que teve se deve a algum estresse recentemente. Vou passar um medicamento para caso voltar a acontecer. Se não estiver sentindo mais nada, poderá ir para casa...

Agarro um dos braços dele. – Não. Me deixe passar a noite aqui. Por favor.

Ele lentamente se desvencilha do meu agarre. – Porque insiste tanto em dormir aqui?

Tento formular uma mentira rápida e convincente. – Eu estou confusa. Não sei... Só quero um tempo para pensar longe de meu marido. Só por hoje eu prometo.

Seu semblante passa de compreensivo para um sério. – Marido?

Eu fico sem entender. – Sim, Leo. Ele está aqui, não está?

Ele afirma pensativo. Parecia estar a quilômetros de distância.

- Eu... Pode ficar aqui sim. Amanhã conversaremos, está certo?

- Claro doutor. – ele acena com a cabeça ao sair.

De repente sinto um cansaço indescritível. Os acontecimentos de hoje foram confusos, terríveis e... Bom, resolvo dormir um pouco. Esqueço Leo. Esqueço hospital. Esqueço por um momento o motivo de estar aqui. Só relaxo sobre a cama e fecho os olhos.

*

Sou despertada por sussurros furiosos do outro lado de minha porta.

Mesmo atordoada, reconheço a voz de Leo.

- Não é da sua conta o que faço ou deixo de fazer.

- Ela é minha paciente Leonard. Estou preocupado com o estado dela. Está confusa ao extremo!

Arrasto minhas pernas pelos lençóis para meus pés tocarem o chão. Ando lentamente até chegar mais perto da porta.

- Eu vou contar pra ela! Eu só não sei como...

- Se você não contar pra ela, eu como dever médico irei contar!

- Espere, por favor. Deixe que eu cuide disso.

Uma sombra se aproxima pelas frestas da porta. Tento chegar a tempo até minha cama.

- Não! Deixe-a dormir. Ela pediu para ficar aqui e não ser interrompida.

Mentira. Mas agradeço por ele não deixar Leo entrar.

- Está certo. Vou... Ficar na sala de espera.

- Volte para casa e tente dormir...

- Não. Vou ficar aqui perto dela.

As sombras se separam indo cada uma para um lado. Suspiro.

O que Leo não queria me contar? Estava nervosa. Era alguma coisa do meu acidente? Até agora ele não foi explicado. Como saberei o que aconteceu naquele dia?

Tento acessar minhas memórias, mas somente borrões me vêem a mente. Como queria lembrar...

*

Estava frio. Tinha chovido o dia inteiro. Meu coração estava acelerado enquanto desviava dos carros. Meu pé estava pisando forte no acelerador. Ele não podia me pegar. Se ele me pegar, ele ia me matar.

Vejo pelo retrovisor o quão perto ele estava do meu carro. Começo a gritar para ele sair de perto de mim. Dava pra ver suas feições amarradas de raiva. Ele consegue encostar o carro no meu.

- POR FAVOR, SAI DE PERTO DE MIM!!

Mas ele não saía. Não vejo que o próximo sinal tinha fechado. Uma senhora passava. Não queria bater nela.

Jogo meu carro para os lados. Escuto os freios marcarem o chão. O cheiro de borracha queimada. A nuvem de fumaça.

Escuto um carro bater atrás de mim. Sinto o mundo dar voltas e voltas. Minha cabeça bate no vidro da minha janela. Uma dor excruciante atinge minha cabeça.

Começo a gritar.


Esqueci-me de tiOnde histórias criam vida. Descubra agora