5 - Narração I

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Nas fanfics além do estilo narrativo clássico, primeira e terceira pessoa, existem as opções texting e script.

Gostos pessoais a parte, todo estilo narrativo é válido desde seja que bem executado. Não haveria problema em uma história narrada em primeira pessoa se o autor não ficasse mudando de POV a cada parágrafo. Texting não seria um problema se o autor saísse da superfície e não criasse uma paixão eterna na segunda mensagem.

Para evitar que pecados sejam cometidos o autor precisa saber o que quer antes de escolher como narrar sua história. Se ele quer focar no íntimo do personagem, se quer apresentar todo o elenco e a ambientação com mais amplitude, se quer mais dinamismo. Enfim. Somente escrever do jeito que acha legal pode dar errado. Muito errado.

Mas vamos logo ao que interessa, porque a jornada é longa.

Primeira pessoa & POV

A narração em primeira pessoa ou narrador personagem divide-se em duas categorias: narrador protagonista e narrador testemunha.

O Narrador Protagonista é aquele onde todos os acontecimentos giram em torno dele incluindo personagens coadjuvantes e as subtramas destes. Por esta razão que a narrativa deve ser mais subjetiva, parcial. Tudo se limita ao que o narrador está vendo e sentindo e o desenrolar dos fatos são vividos a partir da perspectiva dele. Desta forma a história sofre com algumas limitações que, aparentemente, muitos autores não entendem.

Por exemplo:

"Quando cheguei na Starbucks, encontrei-me com Bill. Ele sentia medo pelo que eu tinha para lhe contar, mas ficou excitado de me ver naquele vestidinho preto e enquanto conversávamos sua cabeça ficou cheia de pensamentos sujos. Mas também, quem não ficaria? Todos são loucos por mim, todos me amam e ele morre de ciumes disso"

Pois bem, levando em consideração que a narradora é a menina que foi ao encontro, como que ela sabe tantas coisas a respeito dos pensamentos e sentimentos do Bill? Não sabe.

O narrador protagonista não é onisciente e não pode determinar o que os outros personagens pensaram, a menos que eles verbalizem isso, nem como eles se sentem, a menos que expressem de alguma maneira.

Caso o(a) narrador(a) queira dizer o quanto seu par é apaixonado por ele(a), trate de convencer os leitores disso através de ações e bons diálogos. Ele não pode simplesmente saber. Apenas o narrador dizendo a todo tempo "Fulano era loucamente apaixonado por mim, eu era o seu mundo" vai parecer que a personagem-narrador é meio narcisista maluco.

Outra coisa que o narrador protagonista não é: fantasminha onipresente. É humanamente impossível que ele possa estar em uma briga de rua com os amigos no Bronx ao mesmo tempo que narra o acontecimento de um ataque terrorista em Bagdá entre o vilão da história e a donzela em perigo. Se ele não está nos dois lugares, não tem como ele saber. Da mesma maneira que para haver uma subtrama entre os coadjuvantes, o protagonista precisa estar intimamente envolvido para narrá-la.

Além disso, ele não é senhor da razão. Não pode estar certo em tudo e jamais cometer um erro porque conhece as pessoas perfeitamente e tudo que o cerca. Ninguém merece personagem perfeitinho e que se descreve assim.

O que há de mais positivo nesse tipo de narração é o foco dado nas emoções da personagem. Aliás, focar nas emoções, esmiuçar detalhadamente os aspectos mais íntimos do protagonista, seja sua personalidade, temperamento, ideologia, caráter e etc, é provavelmente a única razão pela qual se deva escrever nesse estilo. Autores que não tem essa capacidade, devem evitá-lo, pois é bem frustrante ler uma obra onde o narrador não te conquista em momento algum e parece um completo estranho, mais vazio de emoções que a cantareira é de água.

Os Pecados Ao Escrever Uma FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora