Prólogo

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Século 18

O guerreiro Duric se preparava mais uma vez para a luta, suas facas afiadas já estavam na mão e mesmo com o calor excruciante, ele lutaria até ver o seu adversário caído no chão, na sarjeta e em desgraça.

O guerreiro Solario já estava preparado com sua espada na mão, ele derrubaria seu inimigo em sangue, e o deixaria como alimento aos leões, como deveria ser. Mesmo o sol fustigando sua pele exposta e ferida... Ele não iria desistir.

O guerreiro Duric tirou os olhos de seu adversário por alguns segundos e admirou o seu futuro prêmio... A Jadeite, seu brilho verde hipnotizante e carregado de poder ancestral, aquela pedra pertencia a sua família, assim como todo o território.

O guerreiro Solario seguiu a linha de visão de seu inimigo, o porco Duric admirava a Jadeite, a pedra que a gerações estava a poder dos Solario, como deveria ser, assim como o território, que pertencia aos Solario por direito. O valente lutador inspirou fortemente o ar, absorvendo o poder que emanava da pedra, ele possuía uma espada, mas isso não significava que ele precisava usá-la. Ele sairia vitorioso e tanto a pedra ancestral como o território permaneceriam em sua família.

Os lutadores tomaram mais uma vez seus postos na areia quente do terreno, o Solario munido de poder ancestral e o Duric carregando apenas suas facas e sua coragem, cada um tinha o brasão de sua família amarrado no braço, o guerreiro Duric olhou para o braço de seu adversário, onde o brasão do leão estava amarrado, o mesmo bração que se encontrava entalhado na pedra... Mas não por muito tempo, logo o brasão da serpente estaria ali, anunciando seu poder.

Os dois homens avançaram contra o outro, os espectadores estavam gritando e torcendo pelas famílias de sua preferência, gritos de "Força, Solario!" e "Avante, Duric!" entoavam entre a multidão. Os guerreiros se chocaram e enquanto um tentava ferir mortalmente o outro...

A terra embaixo de seus pés começou a tremer.

As tendas se agitavam com o terremoto, uma forte ventania arrastava-as para longe e levava os pertences das famílias para longe. As pessoas, agora apavoradas, começavam a correr tentando resgatar os mais diversos apetrechos... Ninguém mais estava reparando na luta sangrenta que ainda acontecia, movida pelo ódio e rancor de gerações.

Até que um forte brilho emanou da Jadeite.

E assim todos pararam... Até mesmo os lutadores.

O brilho cegante desnorteava a todos que se aproximavam, a ventania se intensificou, ficando tão forte que até mesmo as pessoas começavam a serem arrastadas, as tendas já não existiam mais, e os pertences estavam espalhados pelo terreno até os limites da floresta. E enquanto o pandemônio se espalhava os guerreiros corriam em direção à pedra.

Protegendo seus olhos com a mão esquerda, o guerreiro Solario alcançou a pedra, tocou-a, e ao fazer isso, sentiu fogo em suas veias, como se o seu próprio sangue tivesse virado lava. O guerreiro Duric tocou a pedra igualmente, e sentiu como se brasas tivessem alcançado sua pele e seus ossos... E quando a dor se tornou tão insuportável que os dois guerreiros uniram seus gritos de agonia, como um cântico de desespero.

A pedra se quebrou.

E logo todos no acampamento estavam com o sangue em fervura.

Era o poder ancestral retornando a cada um presente e adormecendo o seu poder.

300 anos depois.

A cigana corria desesperadamente por entre a noite, nunca pensou que se tornaria uma fugitiva, nunca pensou que chegaria o dia em que temeria a própria sombra, mas esse dia chegara, e ela não estava preparada para ele.

Nem ela e nem suas filhas estavam.

A cigana resgatara suas crianças da tenda onde o traidor desconhecido às deixara poucos minutos depois de seu marido morrer, ela sabia que seria a próxima vítima, mas sabia também que deveria proteger suas filhas a todo o custo. Felizmente ela não estava sozinha nessa tarefa, Carmen, que sempre estivera ao seu lado, a ajudava mais uma vez. A cigana foi guiada por Carmen até uma casa com grandes portões de ferro, ela desgostou daquilo instantaneamente, era de seu extinto não gostar de portões, eles significavam prisão, e isso era justamente o oposto do que mais ela amava, a cigana amava a liberdade. Ela odiava também que fosse preciso tirar a liberdade de suas meninas, ela não sabia como suas amadas filhas iriam viver a partir de agora, mas contava com sua amiga para cuidar delas.

"- Mamãe, onde estamos indo, onde está o papai?" – A criança mais velha perguntou. Iris, sempre tão esperta, tão cuidadosa, sempre tão doce.

A cigana olhou nos olhos de sua filha mais velha e falou seriamente.

"- Iris, mamãe precisa ir agora, você ficará bem com sua tia Carmen. Papai está esperando mamãe em outro lugar, mas ele pediu para te dizer que ele ama você e sua irmã, ele sempre amou e sempre amará, você sabe disso não é?" – A menininha olhou nos olhos da mãe e respondeu numa voz firme.

"-Sim, mamãe, eu sei."

" – E eu também amo vocês, Iris, amo com todo o meu coração, nunca esqueça disso, por favor. Agora pegue sua irmã, e cuide dela, cuide de sua irmã. Você me promete, Iris?"

" – Prometo, mama, prometo". – A mulher pegou sua criança de colo e deu um longo beijo na sua testa, Isabel, tão pequena, tão frágil, tão incrivelmente linda. A cigana esperava que sua filha menor crescesse longe de problemas, saudável e bela, como deveria ser. Entregou a bebê nos braços e Carmen e se abaixou para se despedir de sua outra filha.

" – Mama, para onde a senhora vai?" .

" – Se cuide, Iris, que Deus proteja vocês, meu amor. Mamãe sempre amará vocês, sempre." - A cigana virou sua atenção para Carmen. " – Cuide delas, por favor, Carmen. Faça o que eu não pude fazer."

" – Pode deixar, Alma, eu cuidarei delas com minha vida." – A cigana assentiu uma última vez, olhou para suas crianças uma última vez, soltou-se do aperto forte que Iris dava em sua mão e continuou sua corrida em direção a ruína.


A Descoberta das Duas IrmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora