Capítulo 3

130 6 1
                                    

Consigo abrir a porta do motorista e observo que o homem ainda respira . Vamos, faça alguma coisa ! Minha mente gritava . Mas o que eu faço? Calma! Respira. Olho para o céu com nuvens pesadas que começam a derramar gotas espessas de água no capô do carro . Até que meus pensamentos são interrompidos por um sussurro :

- Corra, não ... você não pode...

O homem que sangra muito na região do abdômen sussurra.

Ainda sem entender bem a situação, eu não vou deixá-lo aqui

- Não, calma ! Eu vou te ajudar .

Ele me olha e por um momento me perdi em suas esferas azuis que me olham com desespero .

- Me deixe aqui , eles vão...

Ele não consegue completar a frase ,e observo que sua mão aperta o abdômen. Ele estava com um terno preto e camisa branca por dentro . Eu desabotoou os botões do terno e vejo que sua camisa branca está coberta do vermelho do seu sangue . O cheiro forte me traz lembranças, mas afasto os pensamentos quando ele geme ao sentir minha mão sobre o ferimento. Decido que preciso tirar a camisa dele e ver o que aconteceu , parecia algo bem grave pelo tanto de sangue que extravasava do ferimento .

- Não, vá embora... - Mesmo ferido , ele rosna para mim e quase me ... ordena?

Como o homem está ferido e se rejeita receber cuidados. Isso era uma tentativa de suicidio , ou o quê?

Ele olha com os olhos pesados, mas ainda está com seus músculos tensos . Olho com firmeza para ele e digo com toda a certeza que criei no momento, mesmo sentindo meu coração descompassado e uma leve sensação de está fazendo uma grande, enorme, gigantesca, besteira .

- Não vou sair daqui e muito menos te deixar morrer . Preciso que você se mantenha acordado, seu carro não vai funcionar e você precisa ir para um hospital .

Ele começa a tossir e a dor se intensifica . Preciso me apressar . Até que a ideia vem à minha mente . Olho a hora no seu pulso e sei que meu pai não está em casa , ele costuma chegar de madrugada e ainda são 23 horas, sei onde ele guarda as chaves dos carros e sei mais ainda onde está a chave do meu . Olho com determinação para o homem de olhos pesados sentado no banco do motorista e digo tocando em sua face para chamar sua atenção.

- eu vou buscar meu carro , é aqui perto . Quero que aguente ficar aqui e não durma. Prometo que vou te salvar .

Os olhos dele tentam retrucar minha decisão. Porque diabos esse homem quer morrer ? Nem pense que ele vai morrer porque não tentei, ele pode morrer a caminho do hospital , mas não na frente do meu lugar, já bastava a lembrança da minha mãe morta, não preciso de mais um que não vou salvar . Não dei tempo dele tentar protestar , saio correndo e depois de quase 3 minutos chego a mansão. Entro , subo as escadas e abri a primeira porta do corredor do lado direito. O cheiro de saudades me invade, mas afasto toda a distração, vou até a caixinha de música que eu fazia parte da decoração do meu antigo quarto . Quando abro , lá está a chave do meu Aston Martin que ganhei aos 15 anos. Ter pai milionário faz você ter essas coisas sem noção. Pego a chave e desço as escadas correndo. Destravo o carro ainda quando passo pela porta colossal da entrada . Lá está, o carro mais luxuoso e imponente que você possa imaginar . Preto e de vidros totalmente escuros, além de bancos cor marfim . Entro , dou partida e acelero, espero ainda saber dirigir. Me direciono até o local e freio bruscamente com a porta do passageiro quase colada a porta do motorista do homem quase morto . Desço e vejo que ele ainda tem pulso , mas não está tão consciente como quando deixei ele . Tento acordar ele com tapinhas suaves no rosto , mas os olhos azuis quase não abrem mais . Vejo que nesse meio tempo que fui buscar o carro , ele tinha tentado se mover , pois ele tava em outra posição.

- vem, preciso que você tente mover seu corpo para te colocar no banco do meu carro.

Vencido pela dor , aquele homem apenas acena . Eu conto até três para levantar ele, preciso preparar ele , a dor vai ser intensa . Aquele homem era extremamente musculoso e pesado, cada movimento ele gemia mais de dor e ele ficava cada vez mais pálido, mesmo tomando para si uma força que não imaginei que restasse, ainda mais machucado. Sua boca carnuda e perfeitamente desenhada , estava ressecada e sem cor . Depois de muita dor e minhas costas lutarem para segurar seu corpo , consigo colocar ele no banco . Ele geme de dor ao se acomodar e eu me desespero ainda mais . Fecho a porta do passageiro e tomo meu lugar ao volante . Acelero para a saída do condomínio, mas nem sei onde vou levá-lo.

- Você tem algum hospital de preferência ou posso levar ao que eu conheço?

Pergunto dividindo minha atenção nele e na estrada.

- esse é o lugar - Ele sussurra com a voz rouca e baixa , me desconcentrando da estrada por segundos.

Ele diz puxando o ar e com muita dificuldade, mas demonstrando o mínimo nas suas expressões .

Nota sobre o homem desconhecido: Ele é mais forte que um touro e não demonstra nada nos olhos frios e azuis, mesmo me deixando hipnotizada.

Olho um pedaço de papel que ele abre a mão e revela para mim. Ao ler vejo que é apenas um local e não um hospital. Fico confusa e não entendo nada o que está acontecendo.

- Onde é esse lugar? Isso não é um hospital! - Me exaspero e sinto o meu coração falhar uma batida.

Ele move a cabeça e me olha com suas íris indecifráveis.

- É o meu médico. Não me questione, apenas me leve. - Ele altera a voz e me assusta o jeito que me ordena . Quem esse mula pensa que é? A raiva me domina, como uma boa italiana, mas resolvo guardar a vontade de jogá-lo para fora do veículo e deixá-lo morrer. Foi isso que ele queria , não foi?

Quem tem um médico que atende em casa e sem aviso de chegada? Decido não questionar e levar ele até o tal médico. Quando pego uma das pistas na direção do endereço, observo que um carro branco acelera até emparelhar ao lado do meu carro e um estrondo de tiros sendo disparados na nossa direção . Dentro desse carro , há dois homens que olham com ira para o sujeito do meu lado e quando eu viro novamente o rosto para o cara quase morto no banco do passageiro do meu carro, ele abre mais os olhos e fala mais alto do que quando me gritou a minutos atrás .

- ACELERA!

Onde eu fui me meter? Maldita hora de sair de casa!

Sapatilhas da MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora