Dia 1

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Mesmo que eu não levasse a minha vida a serio, não quer dizer que eu precisava morrer.

Oh, desculpe. Acho que estou apressando um pouco as coisas.

Meu nome é... bem, meu nome não importa. Nem mesmo eu ligava muito para o meu nome.

A única coisa importante para mim eram meus apelidos nos MMOs que jogava, e que era bem famoso. Era conhecido em vários MMOs por ser visto como um dos jogadores mais fortes do mundo.

É claro, apenas naqueles que eu queria jogar. Ou seja, aqueles com a classe de necromante.

Pode parecer bizarro, mas eu gostava de jogar com essa classe. Ela tinha um pouco de charme, já que era capaz de controlar a vida e a morte.

Alem de ser legal controlar um exercito de mortos-vivos enquanto vê os seus inimigos agonizando.

Em todos os jogos que entrava, ficava famoso.

Minhas estrategias como necromante iam se refinando a cada personagem criado. E cada um deles conseguia poder o suficiente para ser considerado um deus da morte no jogo.

Todos temiam o nome Belphegor.

Ah, alias, esse era o meu apelido. Eu escolhi esse porque ele é o demônio da preguiça, e isso representa bem o que sou na vida real.

Mas, independente do significado do nome, todos reconheciam a minha força em todos os MMOs que possuiam necromantes.

E não seria diferente com o jogo que iria sair hoje.

Era um jogo inovador, com gráficos incríveis e uma dificuldade que ia alem dos padrões de qualquer outro jogo.

E é claro, ele tinha a classe de necromante.

Não só isso, como também colocava ela e algumas outras classes como uma facção maligna no jogo, dando uma certa liberdade para fazer seus atos.

Isso seria o paraíso para mim.

Independente da dificuldade, me tornaria o deus da morte em mais um jogo, e talvez até algo mais.

Eu tinha saído de casa, o que não faço muito, para buscar o disco de instalação do jogo na casa de um amigo. Tinha comprado com antecipação, mas eu nunca pedia eles para minha casa, e, ao invés disso, comprava junto de um amigo para que viesse para a casa dele.

Não queria arriscar alguém descobrir onde moro.

Caminhando na direção da casa do meu amigo, eu posso ouvir o som das outras pessoas na rua.

Todas elas parecem estar aproveitando bem sua vida. Bem, não ligo muito para elas. Estou aproveitando a minha a meu modo.

Mas, de repente, eu escuto um som diferente do som das conversas das pessoas na rua. Quando olho na direção dele, vejo uma construção sendo feita. E, ao que parece, estavam com um pequeno problema que não deveria ter acontecido.

Uma das paredes tinha rachado no meio, e estava atualmente caindo para o lado. E esse lado era o meu.

Eu fiquei paralisado pelo evento repentino. Ouvi os gritos das pessoas mandando eu sair de lá, mas eles pareciam mais distantes e fracos a cada milésimo de segundo que se passava.

Eu via a parede cair em câmera lenta na minha direção, e a única coisa que pude fazer foi sorrir amargamente,

No final, eu não vou poder jogar aquele jogo.

Eu fechei os olhos e esperei a parede vir.

Eu senti uma dor terrível por todo o meu corpo, mas ela desapareceu no momento seguinte. Achei que era apenas por um momento, e que ela iria voltar, então esperei e me preparei para a dor.

Mas não senti nada.

Então isso é morrer.

Quando abri meus olhos, tudo parecia escuro.

Eu estava no meio de um abismo sem fim, e parecia nadar nessa escuridão.

Não estendia o que estava acontecendo, mas sabia que eu tinha morrido esmagado por aquela parede.

Quando pensei nisso, senti alguma coisa me puxando, como se fossem cordas amarradas por todo o meu corpo. Elas me puxavam mais fundo para o abismo.

Me deixei levar por aquilo, e acabei encontrando uma luz no final do abismo.

Quando fui puxado para dentro da luz, não consegui ver nada alem daquele mundo branco, e depois, minha visão escureceu de novo.

Quando ela começou a clarear novamente, eu estava na frente de um velho.

Ele tinha cabelos grisalhos e longos, com olhos pequenos escondidos atrás de um óculos redondo. Seu rosto era enrugado e ele possuía uma enorme barba indo até o seu peito.

Vestia um tipo de manto parecido com o de um mago de jogos de RPG.

Não, não apenas de mago, mas de algo que eu era bem familiar.

Um manto negro e sujo de poeira e sangue, com ossos pendurados aqui e ali. O manto de um necromante.

Ele me encarava com olhos avaliativos enquanto remexia em um livro que estava na sua mão.

Eu não conseguia entender essa situação e tentei ver os arredores para conseguir alguma pista.

Era uma sala velha de pedra, com poeira e musgo nas paredes. Pelo visto, não recebia uma limpeza a tempos.

Espalhadas pela sala estavam varias mesas cobertas de livros abertos e fechados, de todos os tamanhos, e com vários instrumentos que já tinha visto em alguns MMOs, como necromante.

Tentei olhar para baixo para ver o meu corpo, mas o que vi era algo que não deveria ser visto. Eu conseguia ver minhas costelas e meu plexo solar, algo que não deveria ser visto se você está vivo, e, alem de tudo, não conseguia ver nada por dentro.

Ah, acho que entendi.

Alem dos jogos, gostava também de ler algumas novels que falavam sobre algo como isso.

Eu havia morrido esmagado por aquela parede quando fui buscar meu jogo de necromante, e acabei reincarnando como um esqueleto, o mais fraco dos mortos-vivos.



Hone no gyokuzaOnde histórias criam vida. Descubra agora