Dia 2

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No meu segundo dia como esqueleto, descobri que a vida de um esqueleto não é tão fácil.

Pra começar, nem um nome eu tenho.

Me lembro que em algum dos MMOs que joguei, você podia criar mortos-vivos com nomes, para que eles fossem mais fortes, mas nesse mundo não tem isso.

Não que eu não tenha um nome. Só não recebi um do necromante que me 'criou'.

No lugar disso, me autonomeei de Nº 64.

Isso porque tem mais 63 esqueletos quase idênticos a mim, exceto pela marca nas suas testas que indica o seu número em algarismos desse mundo.

Meu trabalho é, basicamente, organizar os livros nas prateleiras quando ele acaba de usar. Alem de mim, mais 6 esqueletos tem de fazer isso, já que ele parece não parar num lugar.

Embora ele pareça ser velho, sua energia é de um jovem, correndo de um lado para o outro carregando livros, abrindo eles e lendo mais de um ao mesmo tempo.

De vez em quando eu dou uma espiada na capa dos livros que recolho para as prateleiras.

Alem de livros de necromancia, existem alguns de magia, de lendas e até de romances.

Mas, apesar do fato dele ser um necromante, os que mais tenho que recolher são os de romance.

Talvez ele tenha sido um velho solitário por toda a sua vida, e se conforta lendo esse tipo de livros.

Bem, como ele é um necromante, não se pode fazer nada se ele nunca conseguiu um casamento decente.

Não acredito que tenham muitas mulheres que queiram viver numa casa cheia de ossos, esqueletos e carne podre.

O mesmo valia para mim e meus jogos. Nunca consegui ninguém que entendesse minha paixão pela classe de necromante, então era solitário até lá.

Talvez tenha sido por isso que eu tenha assumido o papel de vilão em todos os MMOs que joguei.

Mas não é hora para reclamar disso agora, tenho muitos livros para guardar!

O resto do dia passou sem incidentes.


Hone no gyokuzaOnde histórias criam vida. Descubra agora