Dia 3

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Parece que ele finalmente notou que eu sou diferente dos outros esqueletos.

Bem, os outros não passam de ossos que obedecem qualquer comando, eu só estou obedecendo porque não tenho nada melhor para fazer.

Alem de ter um pouco de gratidão a ele, afinal, eu só estou aqui porque ele quis fazer 64 esqueletos.

Mas, sobre ele ter notado.

Diferente dos outros esqueletos, que simplesmente levavam os livros para a prateleira, eu parava as vezes para ler as capas.

Ele viu isso de relance e começou a me observar.

Pior, começou a tentar conversar comigo!

O nível de solidão dele está subindo mais e mais em maus olhos.

Ao menos eu fui capaz de descobrir algumas coisas.

A primeira foi quem ele era. Ele era um necromante pouco conhecido, que morava na borda de um reino humano. Ele havia se tornado um necromante para reviver a sua amada, mas como não consegui fazer isso, por não ter conseguido conhecimento a tempo, ele acabou preso numa casa de pedra velha qualquer criando esqueletos.

A segunda foi sobre os esqueletos. Ele tinha criado 63 deles até agora, mas não tinha visto nenhum deles parecido comigo. Segundo o que ele diz, em um dos livros que leu, falava sobre a alma continuar presa ao corpo depois da morte, e que, nesses raros eventos, um esqueleto com consciência poderia nascer.

Embora a minha alma não tenha vindo deste mundo.

Ah, eu falei deste mundo e não do meu mundo, porque este não é o mesmo mundo que morri.

Essa foi a terceira coisa que descobri. Esse é um mundo de espadas e magia, assim como os diversos MMOs que joguei quando ainda era um humano.

Não sei o que falar sobre essa situação. Nas novels que li sobre isso, os protagonistas sempre vinham para o mundo com cheats, mas eu não tenho nada como isso.

E essa foi a quarta e ultima informação. Eu sou um inútil no mundo.

Os esqueletos são o rank mais baixo de mortos-vivos desse mundo. Eles era usados como escravos comuns, cobaias de testes de magia ou como peões descartáveis quando um necromante lutava.

Era tão fácil criar um, que até um iniciante poderia criar mais do que os 64 que esse necromante criou.

Ele só não havia criado mais deles devido aos requisitos necessários para se criar um usando o minimo de energia magica o possível. Tendo ossos de mortos.

E como ele só tinha 64 conjuntos de ossos, não podia fazer nada.

O outro método era criando um esqueleto do nada, mas isso precisava de muito mais energia que só animar ossos, e só necromantes de rank alto poderiam fazer isso. O que não era o caso dele.

Ele passou boa parte da tarde conversando comigo, ao invés de ler os seus livros. Não sei dizer se isso é bom ou não.

Estava suportável quando ele estava falando sobre coisas úteis, mas quando o velho começou a falar de sua juventude, eu tentei imitar os meus irmãos esqueletos e simplesmente deixar aquilo passar pelo meu cranio vazio.

A tarde passou bem rápido, e quando a noite chegou, ele resolveu mergulhar novamente nos seus livros, mas, diferente do habitual, ele pegou apenas um conjunto de livros e passou a noite revisando eles.

Foi até as prateleiras que tinham no segundo andar para buscar algumas coisas e passou a noite inteira fazendo pesquisas e mexendo em alguns materiais que trouxe.

Bem, não vou passar a noite de vigia enquanto ele faz suas loucuras, então procurei um lugar para me encostar e dormir.

Embora eu não ache que seja necessário mais isso, já que eu já estou morto, eu ainda quero ter um pequeno descanso.

Eu 'fechei' meus olhos aos poucos, se bem que a palavra certa seria 'desliguei', e dormi.


Hone no gyokuzaOnde histórias criam vida. Descubra agora