Capítulo 8

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   Ally acaba de acordar. Tenta esticar o corpo, mas eu e May a mantemos deitada. Vejo que May fez um curativo com gaze em seu olho esquerdo por conta do arranhão.
   — O que houve? — ela pergunta, meio tonta.
   — Bem, foi um acidente — May diz. — Descansa mais um pouco.
   Ally vai retomando a consciência aos poucos.
   — Aqueles bichos — ela diz — o que eram?
   — Pareciam morcegos. Tinham garras e dentes afiados. Uns 15 voaram em você. — digo.
   Ally olha para seu corpo e vê alguns arranhões.
   — Eles que fizeram isso comigo?
   — Sim. — respondo.
   — Eu e Kya levamos poucos arranhões e ambas levamos uma só mordida. Acho que você levou três mordidas e inúmeros arranhões. — diz May.
   — Meu corpo dói... — diz Ally.
   — Eu sei. Você está muito ferida. Você é a única que sabe curar por aqui, então, já que eu e Kya não sabíamos o que fazer, jogamos água para limpar os ferimentos. Fizemos algo de errado? — pergunta May.
   — Não. — Ally responde.
   — Que bom. — diz May.
   — O que você sugere que façamos agora? — pergunto.
   — Abram minha mochila e peguem a maleta de número 1. — ordena Ally, e nós o fazemos.
   Ela vasculha e pega um frasco e uma seringa descartável. Puxa um pouco do líquido do frasco para dentro da seringa e enfia em seu braço, bem na tatuagem. Com certeza faz algum efeito nas feridas. Ela pega mais duas seringas descartáveis e injeta o líquido no mesmo local em mim e em May.
   — Isso vai fazer efeito em dois minutos. A dor vai diminuir e o machucado vai sarar logo. — diz Ally.
   Ela põe a mão no curativo em seu olho.
   — O que é isso? — pergunta.
   — Tem um arranhão gigante na sua cara. Uma das garras do morcego que fez isso passou bem por cima do seu olho. — digo, enquanto ela tenta arrancar a gaze.
   — Não — May a repreende. — Deixa isso aí.
   Ally não fala nada. Apenas obedece e se deita de novo. Uns 5 minutos depois, ela diz:
   — Bem, a dor já passou. Se quiserem, podemos ir.
   — Você está bem mesmo? — pergunto.
   — Estou. Não sinto a ardência nem as dores que estava sentindo antes. Nós podemos ir.
   Eu, Ally e May arrumamos as coisas para sair. May fica apenas com sua arma nas mãos. Eu fico apenas com a bússola, minha arma e meu relógio de pulso. Desarmamos a barraca e a colocamos na mochila de May. Em seguida, andamos. São aproximadamente 7:00.

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Ally está realmente bem. Só parece cansada da caminhada. A cada hora precisamos injetar o líquido em nossos corpos para o efeito continuar. É horrível. Demos um sanduíche a Ally, que não comeu nada, e ela segue comendo.

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Ao caminhar pela floresta, imagino que vários animais tenham sido adaptados para esse ambiente. O outro lado do Muro é realmente rico em espécies.
   Quando é 1:18 da tarde, Ally pede para descansar. Nós nos encostamos numa árvore, comemos, bebemos água, descansamos e injetamos o líquido. Quando o relógio marca 3:10, continuamos a caminhada. Descansamos bastante.
   — Kya — May me chama. — Aquelas armas são pistolas de pressão de ar?
   — São. — respondo.
   — Como funciona? — pergunta Ally.
   — Basicamente, ela suga o ar e o libera em forma de bala. O ar sai com muita pressão e dá a sensação de que a vítima foi atingida por uma bala comum. É bem melhor do que uma pistola comum. Não precisa ficar recarregando. — respondo.
   — Interessante. — diz Ally.
   Voltamos a caminhar em silêncio. Apenas ouvimos o barulho dos animais.

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Paramos de novo às 5:08 da tarde. Descansamos do mesmo jeito de antes, na outra árvore.
   Olho para cima e ouço pios. Presumo que sejam pequenos passarinhos num ninho esperando comida. Penso em colocar uma migalha de pão lá, mas acho melhor não. A mãe já deve estar procurando alimento.
   May me oferece uma garrafa d'água e eu aceito. Bebo até a metade e guardo o resto na mochila.
   Percebo uma coisa voando acima de nós em direção ao ninho. Tento desvendar o que é enquanto ela pousa. Até que eu a reconheço.
   — Harpia! — digo, involuntariamente. Como se a ave soubesse seu nome, ela se vira para nós e nos observa. Seu olhar é amedrontador. Por um momento, penso que ela vai nos atacar, mas ela apenas se vira para os filhotes e dá comida a eles. Depois, voa para longe, provavelmente em busca de mais comida.
   — Achei que ela fosse pegar a gente. — diz May.
   — Eu também. — digo.
   Agora, temos que continuar. Temos que seguir o caminho da liberdade. O caminho perigoso. Mas precisamos ser como Harpias: valentes e sem medo do que virá; capazes de ultrapassar todos os obstáculos para conseguir o que queremos. Nós seremos Harpias. Nós somos Harpias.

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Olá, leitores.
Este capítulo foi só um descanso para as moças; o de amanhã será melhor. Talvez vocês gostem mais da Ally quando lerem o nono capítulo — ou não. Já deixo o recado de que ela irá se tornar o símbolo de força desta saga. Nem eu teria coragem de... Bem, acho melhor eu ficar calada!
Comentem e votem se tiverem gostado. Até mais!
Beijos da Rebs. :*

Harpia: Além do MuroOnde histórias criam vida. Descubra agora