Capítulo 20

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   Eu e Eric nos entreolhamos.
   — Eu juro! Eu sou uma cenoura!
   — Do que você tá falando, Ally? — pergunto.
   — Kya? É você? — ela pergunta, me olhando.
   — Sim, sou eu.
   — Vamos tirá-la daí. — diz Eric, vindo em nossa direção.

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Por volta de 5 minutos depois, conseguimos desenterrar Ally. Ela está muito suja. Um banho — em todos nós — seria bom.
   — O que aconteceu, Ally? — May pergunta.
   — O lobo da floresta apareceu com os seus amigos. Eles não gostam de cenouras, então, fingi ser uma.
   — Lamento informar, mas precisamos seguir em frente. Outros lobos podem vir até aqui. — diz Eric.
   — Vamos caminhar de noite? — pergunta May.
   — Sim. Temos que fazer isso.
   Começamos a arrumar nossas coisas para partir para uma caminhada extra.

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No caminho, Eric vai na frente conversando com Ally — ou melhor, tentando mantê-la normal — e eu e May vamos atrás.
   — É, a música do lobo da floresta mexeu mesmo com a Ally. — May comenta.
   — E como é a música?
   May canta:

   O senhor lobo da floresta
   Silencioso e sem pressa
   Caminha devagar
   Com seus amigos a lhe acompanhar

   O senhor lobo é guloso
   Mas cenoura ele odeia
   Só sossega o velho lobo
   Quando tem a barriga cheia

   Quando a noite chega
   Para pra descansar
   Na relva se aconchega
   E uiva para o luar

   — Me perdoe, Kya, mas eu não vou uivar para terminar a música.
   — Que bom. Até porque poderíamos atrair mais lobos. — brinco.

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Depois de aproximadamente 1 hora de caminhada, estamos esgotados. Paramos numa área com o solo meio ondulado. A barraca já está montada e eu estou do lado de fora.
   Penso em casa. Já estamos fora do Muro há uma semana, eu acho. O que deve estar acontecendo na Nação? Como minha mãe deve estar ao saber que sua filha passou uma semana sem voltar para casa? Mordo o lábio inferior, preocupada. Encosto numa árvore e Eric nota minha preocupação.
   — O que houve? — ele pergunta.
   Suspiro.
   — Só estou preocupada com a minha mãe. Tento imaginar como ela se sente por saber que eu não apareço em casa há uma semana.
   Silêncio.
   — O que você vai dizer a ela quando voltar? — Eric pergunta.
   — Eu não sei. Não sei se ela vai acreditar se eu disser que eu dormi em trens.
   — Por que não diz a verdade?
   — Se eu disser que ultrapassei o Muro ela vai me matar.
   — Entendo.
   Silêncio novamente.
   — Eu adoraria conhecer sua mãe.
   — Acho que ela iria gostar de você. — digo.
   — Vai contar a ela sobre nós?
   — Vou. Espero que ela não fique zangada.
   Depois de um tempo, Eric diz:
   — Então, Kya...
   Eu olho para ele.
   — Agora elas estão dentro da barraca... — diz, com um sorriso tímido.
   Ergo uma sobrancelha.
   — Eu sei que estão.
   — Por favor... Só um...
   Olho para a barraca para me certificar de que ninguém está nos observando. Beijo Eric e entramos na barraca para dormir.

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Eric está numa árvore bem alta. Ele sorri e olha para a frente.
   — Vem ver isso, Kya! Sobe aqui!
   Fico pensando: como eu vou subir nessa árvore?
   — Vem, Kya! Não precisa ter medo. É só pular.
   Desconfiada, eu obedeço Eric. Quando pego impulso, meu pulo chega até ele, que está sentado no topo da árvore. Caio agachada em um galho ao seu lado.
   — Olha, Kya.
   Olho na direção que ele está olhando e vejo o lado de dentro do Muro. As pessoas parecem formigas vistas daqui de cima.
   — Não é bonito? — ele pergunta.
   Continuo olhando para a Nação, mas não falo nada. É engraçado ver as pessoas tão pequeninas andando de um lado para o outro.
   — Não é bonito? — ele pergunta novamente, desta vez num tom mais alto e ameaçador. Quando olho para ele, ele está com roupas e capuz roxos. Exatamente a roupa daquelas pessoas que encontramos. Ele aponta para a sua frente.
   Quando eu olho para a frente novamente, vejo as pessoas que vi naquele lugar escalar o Muro e, em seguida, atacar o povo da Nação. Ao redor dos corpos caídos, só vejo sangue e dor. Aos poucos, a Nação se enche de manchas em vermelho e roxo.
   — Não é bonito. É magnífico. Mas não se assuste, Kya. Em breve, você também fará parte dessa pintura.

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Boa tarde, pessoinhas.
Queria dizer aqui que "Além do Muro" já está em sua reta final. Tem 26 capítulos, e este, como puderam ver, foi o 20.
Devido aos poucos leitores, não sei se continuarei escrevendo o segundo livro de Harpia. Talvez eu continue, se as coisas melhorarem... Vocês devem saber que não é muito legal quando seus livros não atraem muitos leitores, quando ninguém comenta, quando só tem 2 votos. É uma sensação bem ruim, e eu lamento dizer que estou me sentindo um pouquinho desse jeito. :/
Desculpem pelo desabafo, mas é isso aí. Estou começando uma nova obra aqui no Wattpad, e pretendo fazê-la melhor e mais interessante que Harpia.
Só espero que tudo dê certo.
Beijinhos. :*

Harpia: Além do MuroOnde histórias criam vida. Descubra agora