— O quê?
— Vou explicar melhor. Eu amava muito o seu pai. Prometemos não esconder nada um do outro. Até que um dia ele me disse que teria que sair de casa.*** *** *** *** *** *** *** ***
— Por que? — perguntei.
— O meu pai morreu.
— Oh, Peter. Eu lamento.
— Tenho que assumir o cargo dele.
— O que ele era?
— Líder provincial.
— Peter, isso não é motivo para sair de casa.
— Acontece que... Tenho que te contar uma coisa.
Ele parou de falar, tomou fôlego e continuou.
— Eu não nasci aqui, na Terceira Província. Era tudo mentira. Eu fui obrigado a fugir de minha província natal, a Quinta, ou seria morto. Não tive escolha. Já estava tudo planejado, até troquei meu nome, mas aí eu conheci você, nos casamos e tivemos uma filha. Larguei tudo e acreditei que poderia ser mais feliz com uma família do que como um fugitivo. Estava tudo dando certo até agora, mas... Recebi uma carta dizendo que meu pai morreu por conta de uma doença, e agora tenho que voltar para lá e encarar a realidade. Não podemos esquecer nosso passado. Ilusões do presente não alteram quem realmente somos.
Uma raiva se instalou dentro de mim naquele momento. Por trás de tantas promessas e juras, sempre teve algo oculto. E eu, cega, nem desconfiava disso. O seu pai mentiu e omitiu para mim durante todos aqueles anos.
— Por favor, Christine; me perdoe.
Eu apenas fiquei calada, encarando o chão da sala. Por um momento, pensei que poderia perdoá-lo, mas o ódio foi maior. O ódio venceu o amor.
— Você me enganou por todos esses anos. Você enganou a mim é à sua filha. Você nos fez viver de ilusões. — Me levantei do sofá, peguei uma jarra e, depois de falar a seguinte frase, joguei-a no chão. — Você não merece o meu perdão!
Ele se assustou com o barulho da jarra se desfazendo em pedaços no chão. Viu que eu estava irritadíssima. Talvez hoje eu o perdoasse. Eu perdi a cabeça.
— Sai daqui, Peter! — gritei, enquanto brotavam lágrimas em seus olhos. — Saia agora, antes que eu perca o controle.
Eu não sabia que eu já havia perdido o controle.
Ele estava abrindo a porta quando disse:
— Diga à Kya que eu a amo.
— Não vou dizer nada. O pai dela morreu esta noite.
Aos prantos, ele fechou a porta.*** *** *** *** *** *** *** ***
Minha mãe está chorando. Posso imaginar o quão doloroso é para ela relembrar essa história.
— Então ele está na Quinta Província? — pergunto.
— Com certeza. Ele é o Líder de lá.
Espera aí.
— Se ele é o líder de lá, então ele é...
— Octavius Silverstone.*** *** *** *** *** *** *** ***
— Octavius Silverstone? O líder da Quinta Província? — Eric pergunta, espantado.
— Sim. — respondo.
— Minha nossa!
— A minha mãe me contou uma longa história e disse para eu ir procurá-lo amanhã. Você vem comigo?
— Claro.
— Então tá.
Sento na cama e acaricio seus cabelos. A preocupação me tira o sono. Vou passar um bom tempo acordada.
— Tenho que ir. Durma bem.
— Você também. Te amo.
Mando um beijo para ele de longe. Ele manda outro e eu fecho a porta. Em seguida, vou para meu quarto.*** *** *** *** *** *** *** ***
Já são 1 hora da manhã e o sono não vem. Me viro para a esquerda, para a direita, deito de bruços, boto o travesseiro em cima da cabeça, durmo de cabeça para baixo. Nada. Tudo parece desconfortável.
Por mais que minha mãe brigue comigo, só me resta uma alternativa.
Calço os chinelos e me levanto da cama. Vou até a porta, giro a maçaneta e dou de cara com Eric.
— Oi. — ele diz.
— O que faz aqui? — sussurro.
— Não consigo dormir.
— Nem eu. Eu ia no seu quarto agora. Entra aqui.
Ele entra e eu fecho a porta.
— Está preocupada demais para dormir, não é?
— É.
Silêncio.
— Posso dormir aqui?
— Pode.
— Espero que a sua mãe me perdoe por isso. Aliás, ela gostou de mim?
— Gostou. O único problema é que você é da Quarta Província.
— Por que será que pessoas de províncias diferentes não podem se casar ou mudar de província? — Eric senta na cama.
— Não faço ideia.
— Um dia nós vamos saber.
— Um dia nós vamos saber. — repito, me deitando na cama, enquanto me aconchego em seu abraço acolhedor e aguardo o longo dia que teremos pela frente.~~~ ~~~
Opa! Quanto tempo!
Queria convidá-los para ler minha nova obra: Invasão Mortal (não tem nenhuma ligação com Harpia). Decidi me arriscar no meu primeiro romance policial, então espero que gostem. Confiram lá!
Abraços da Rebs
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Harpia: Além do Muro
RomanceATENÇÃO: PLÁGIO É CRIME! - A humanidade vive dentro de uma grande barreira, popularmente chamada de Muro. De um lado do Muro, a área é dividida em cinco províncias, cada uma com seu papel, que funcionam como um organismo para o bem da Nação. Acontec...