Bestial

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Quando me deparei com aquela fera, meu instinto foi simplesmente correr.

A lua cheia acima de mim iluminava os becos onde havia pouca luz.

E onde havia luz, pude ver a sombra ampliada daquela criatura bestial.

Era a própria imagem de meu temor personificado.

Seus quase três metros de puro instinto assassino e seu rosto afocinhado arrepiavam cada centímetro de meu corpo.

Mais temeroso do que sua imagem, era o som veemente que produzia com o ranger dos dentes.

Era como uma serra. Não de madeira, de minha própria pele e ossos.

Se meu terror não fosse tanto, minha cabeça pensante me levava à ideia de que acima de imagem e som do meu caçador bestial, ele tinha, sobretudo, um excelente olfato.

Meu cheiro me denunciava. Meu medo exalava de meus poros em forma de suor.

Cada gota ao cair nas fétidas poças do chão funcionavam como uma ampulheta.

Elas mediam meu tempo de vida restante. E ele estava acabando.

Estava.

Ocorreu-me a brilhante ideia de que eu poderia usá-las para escapar desse infortúnio destino.

Foi então, que entre uma das esquinas dos becos, houve uma brecha de tempo para que eu removesse minhas vestes e molhasse meu corpo com a água de uma ou duas poças.

Me escondi atrás de um latão e tentei conter minha tremedeira.

Quando finalmente, contemplei aquela criatura sem ser por sua sombra.

Via a mim mesmo.

Não minha identidade pensante, mas sim, o eu bestial.

Tomado por meus instintos mais primitivos.

Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não se tornar também um monstro.


Camadas do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora