Camadas do Medo

Memento

Ler sempre foi minha atividade favorita quando criança.

Isso se deve ao fato de que a casa para onde eu e meu tio nos mudamos ter uma boa quantidade de livros no porão.

Havia uma série de coisas no porão, como um Gramofone antigo que meu tio tentou consertar, uma bicicleta azul, alguns recortes de marcenaria e outras coisas menores.

Para minha sorte, dentre todas essas coisas não havia nenhum boneco com a aparência bizarra ou desenhos de símbolos demoníacos no chão para me amedrontar.

Então posso dizer que passei um bom tempo no porão lendo os livros.

Como quem lê, logo adquiri um alto intelecto e percepção sobre as coisas ao meu arredor.

Adquiri também certa inteligência emocional.

Logo comecei a perceber meu tio abalado. Não conseguia lidar com o fardo de trabalhar no campo e sustentar-nos após a morte de sua irmã, que, diga-se de passagem, também era minha mãe, e meu pai.

Decidido a ajuda-lo, e agora, provido de inteligência, comecei a escrever histórias curtas – como essa que lê -, viajar até a cidade com minha bicicleta e entrega-las para os burgueses em troca de algumas moedas.

Providenciei um nítido aumento na qualidade da comida sobre a mesa de nossa casa.

Meu tio mantinha-se motivado trabalhando no campo e trazendo comidas melhores, enquanto eu provia uma renda extra.

Mas aquilo não era o suficiente. Precisávamos de mais.

Foi então que comecei a escrever livros, onde neles foquei principalmente na área de psicologia humana e terror.

A demanda cresceu e a desgraça era eminente.

Certo dia, fazendo meu curso natural de levar os livros até a cidade, o freio de minha bicicleta estourou numa ladeira devido ao peso dos livros e eu voei em direção ao chão como se minha cabeça fosse a ponta de um dardo e o meio fio os cem pontos.

O choque foi tanto que eu perdi minha memória, por isso hoje não sinto tanta falta dos meus pais.

Se quer tenho tanta empatia com meu tio, ele apenas me contou essa história.