R.I.P

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Apoderei-me de muitas coisas ao decorrer da vida.

Principalmente, bens materiais dos outros.

Não fui um ladrão. Fui uma espécie de cobrador de maus pagadores.

E o que mais me apoderei, foi de terras alheias.

Uma das centenas de terras reservamos para enterrar o corpo daqueles que não cediam a extorsão.

Ali havia mais corpos do que o cemitério municipal de minha cidade.

E da cidade vizinha também.

Costumava levar meus clientes ali antes de emprestar dinheiro. Uma forma de alertá-los sobre a seriedade de meu negócio.

Um certo dia, após sair da casa de um cliente, anotei seu nome em minha caderneta, como de costume.

Mas havia algo estranho com seu nome. Esse rapaz está tirando uma com minha cara.

Inconformado, porém, sem deixar de fazer meu trabalho, acompanhei o rapaz até o cemitério.

Levei um susto ao me deparar com uma lápide com o nome do meu acompanhante escrito.

E mais inconformado ainda, com uma lápide com o meu nome ao lado.

Ele gargalhou numa voz grossa com a boca na altura do peito e seus olhos negros me lembraram que eu estava morto.

Quem tudo procura durante a vida, não descansa nem na morte.

Estou fadado a repetir esse ciclo pelo resto da eternidade.

RIP.


Camadas do MedoOnde histórias criam vida. Descubra agora